12/12/2019 - 19:43
O resultado da investigação técnica sobre o rompimento da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), mostrou que a causa da tragédia foi a combinação crítica de deformações específicas internas contínuas, devido ao creep (carga constante que provoca deformação) e à pequena redução de força em uma zona insaturada pela perda de sucção por causa da água de fortes chuvas acumulada no local – aí incluídas as intensas chuvas do final de 2018.
A barragem rompeu-se em janeiro deste ano, provocando a morte de mais de 250 pessoas. Ainda existem desaparecidos.
O resultado foi apresentado pelo líder de um painel de especialistas, Peter Robertson, PhD em geotecnia pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. As conclusões do grupo foram divulgadas na quinta-feira, 12 de dezembro, em São Paulo.
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“O creep ocorre quando o material tem uma carga constante e se deforma de maneira lenta. Isso acontece com alguns materiais, que sofrem uma carga muito forte, como um talude íngreme com excesso de água, que vai sofrer o efeito de creep, com tensões de cisalhamento [tensão gerada por forças aplicadas em sentidos iguais ou opostos, em direções semelhantes, mas com intensidades diferentes] no material analisado”, explicou Robertson. “É uma deformação que acontece lentamente, mas a ruptura é abrupta”, completou o especialista.
Cimentação
De acordo com Robertson, a novidade do estudo é a identificação da cimentação entre as partículas. “Em testes de laboratório, [constatou-se] o efeito da cimentação, e isso criou um material muito mais quebradiço, que perdia a resistência muito mais rapidamente”, observou.
Segundo o relatório do painel de especialistas sobre as causas técnicas do rompimento da Barragem I do Feijão, análises do estado de tensão dentro da estrutura mostraram ainda que partes significativas dela estavam sob carregamentos muito elevados devido à sua inclinação, ao alto peso dos rejeitos e ao nível de água. “A construção de uma barragem íngreme a montante [método no qual a barreira de contenção recebe camadas do próprio material do rejeito da mineração], o alto nível de água, rejeitos finos fracos dentro da barragem e a natureza frágil dos rejeitos geraram as condições para o rompimento”, conclui o estudo.
A análise apontou também a “liquefação estática” (quando um material sólido passa a se comportar como líquido) como motivo do rompimento. “O rompimento e o deslizamento de lama resultante decorreram da liquefação estática dos rejeitos da barragem”, diz o documento.
A barragem era essencialmente muito íngreme e muito úmida, e o material retido por ela, fofo, saturado, muito pesado e de comportamento muito frágil, destacou Robertson. “O rompimento foi resultado de liquefação estática dos materiais”, reforçou.
Hipóteses descartadas
O relatório descartou elementos como sismos e detonações como causadores da tragédia. Segundo o Painel, embora tenham ocorrido detonações nas minas a céu aberto na área, nenhuma foi registrada pelo sismógrafo mais próximo da Barragem I no dia 25 de janeiro de 2019, antes do rompimento.
“Sabemos que houve uma detonação na mina, mas aconteceu mais ou menos 5 minutos após a ruptura. A detonação foi eliminada como possível gatilho e não teve nenhuma atividade de terremoto na região naquele dia”, ressaltou Robertson.
Ele disse que o painel de especialistas não avaliou responsabilidades da empresa, nem de pessoas envolvidas no acidente, mas que espera que as conclusões do relatório sirvam de exemplo. “Geralmente, quando rupturas como essa acontecem, a indústria aprende coisas novas, e as práticas melhoram. É uma lástima essa perda enorme de vidas. Esperamos que as nossas descobertas possam ajudar a indústria para que fatalidades como essa não se repitam”, finalizou.
O painel foi contratado por um escritório de advocacia em nome da Vale S.A. para apurar as causas técnicas do rompimento. O relatório completo está disponível em www.b1technicalinvestigation.com.