03/08/2022 - 11:30
A cabeça de uma múmia egípcia separada de seu corpo, encontrada no Reino Unido, passou por tomografia computadorizada para os cientistas coletarem dados sobre sua história. O exótico objeto foi achado no sótão de uma residência em Ramsgate, no condado de Kent (sudeste da Inglaterra), pelo irmão do proprietário já falecido, e entregue ao Museu e Galeria de Canterbury, também em Kent. Como se tratava de uma doação, não se conheciam detalhes sobre a cabeça – acredita-se que ela chegou à Inglaterra no século 19, como lembrança de uma viagem ao Egito, e passou de geração a geração na mesma família.
- Egito anuncia descoberta gigante de sarcófagos e estátuas em Saqqara
- Encontrada no Egito múmia com língua de ouro
- Por que as pessoas começaram a comer múmias egípcias na Europa?
O primeiro exame de raio X da cabeça, realizado na Canterbury Christ Church University, sugeriu que ela pertencia a uma mulher adulta. Uma tomografia computadorizada mais detalhada foi organizada por uma equipe liderada por James Elliot, radiologista sênior do Maidstone and Tunbridge Wells NHS Trust e professor de radiografia diagnóstica na Canterbury Christ Church University, para descobrir novos detalhes sobre essa pessoa.
“A varredura fornece uma enorme quantidade de informações – tudo, desde status dentário, patologias, método de preservação, bem como estimativas de idade e sexo”, disse Elliot em comunicado. “Planejamos usar os dados de escaneamento para criar uma réplica tridimensional da cabeça e uma possível reconstrução facial a fim de permitir um estudo mais intensivo sem expor o artefato real. Reconstruções semelhantes foram feitas com Ta Kush, a múmia do Museu Maidstone.”
Dentes desgastados
Segundo os cientistas, os resultados preliminares indicam que o cérebro foi removido, os dentes estavam bem desgastados por uma dieta áspera e a língua mostrava ótima preservação. Novas descobertas são aguardadas com o aprofundamento da análise e a reconstituição da cabeça em três dimensões.
“A partir de 3500 a.C., a mumificação era vista como uma forma de salvaguardar o espírito em sua jornada para a vida após a morte”, observou Elliot. “A mumificação era uma prática comum no antigo Egito tanto para as pessoas comuns quanto para a realeza, mas a complexidade e os níveis associados de riqueza eram diferentes. (…) Ironicamente, os antigos egípcios acreditavam que a mente de uma pessoa era mantida em seu coração e tinham pouca consideração pelo cérebro. Independentemente disso, o cérebro foi removido para ajudar na preservação do indivíduo.”
Ele prosseguiu: “Embora relatos tradicionais afirmem que o cérebro foi removido exclusivamente pelo nariz, pesquisas usando tomografia computadorizada mostraram grande variabilidade. Até recentemente, os relatos históricos eram aceitos como evangelho, mas a digitalização de múmias egípcias desafiou essas ideias”.
A cabeça está atualmente sendo preservada por uma experiente conservadora arqueológica profissional, Dana Goodburn-Brown. Ela está coordenando a pesquisa atualmente em curso, que reúne a Canterbury Christ Church University, a Universidade de Kent e a Universidade de Oxford. O plano é revelar as descobertas ao público no Museu Beaney, em Canterbury.