26/02/2020 - 19:05
O Mar Mediterrâneo tem sido uma rota importante para migrações marítimas, além de frequentes trocas e invasões durante a pré-história, mas a história genética de suas ilhas não está bem documentada. Uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Universidade de Florença (Itália), Universidade de Viena (Áustria) e Universidade Harvard (EUA) está preenchendo as lacunas com o maior estudo até hoje feito da história genética de populações antigas da Sicília, Sardenha e Ilhas Baleares, aumentando o número de indivíduos com dados relatados de 5 para 66.
Os resultados, apresentados em artigo na revista “Nature Ecology & Evolution“, revelam um padrão complexo de imigração de África, Ásia e Europa, que variava em direção e época para cada uma dessas ilhas. Para a Sicília, o artigo relata uma nova ascendência durante a Idade do Bronze Média, que se sobrepõe cronologicamente à expansão da rede comercial micênica grega.
Sardos descendem de fazendeiros neolíticos
A história da Sardenha é bem diferente da verificada na Sicília. Apesar dos contatos e do comércio com outras populações mediterrâneas, os antigos sardos mantinham um perfil de ascendência neolítico principalmente local até o fim da Idade do Bronze. No entanto, durante a segunda metade do terceiro milênio antes de Cristo, um dos indivíduos estudados da Sardenha tinha uma grande proporção de ascendência norte-africana.
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Considerados em conjunto com os resultados anteriores de um indivíduo contemporâneo do centro da Península Ibérica e de uma pessoa do fim do segundo milênio antes de Cristo (Idade do Bronze) da Ibéria, esses dados mostram claramente as migrações marítimas pré-históricas, através do Mar Mediterrâneo, do norte da África para locais no sul da Europa, afetando mais de 1% dos indivíduos relatados na literatura de DNA antigo dessa região, da época inicial delimitada até o momento.
“Nossos resultados mostram que as migrações marítimas do norte da África começaram muito antes da era das civilizações marítimas do Mediterrâneo oriental e, além disso, estavam ocorrendo em várias partes do Mediterrâneo”, afirmou o coautor sênior Ron Pinhasi, do Departamento de Antropologia Evolutiva da Universidade de Viena.
Durante a expansão da Idade do Ferro e o estabelecimento de colônias gregas e fenícias nas ilhas do Mediterrâneo Ocidental, os dois indivíduos da Sardenha analisados naquele período tinham pouca ou nenhuma ancestralidade das populações estabelecidas havia muito tempo. “Surpreendentemente, nossos resultados mostram que, apesar desses fluxos populacionais e misturas, os sardos modernos mantiveram entre 56% e 62% dos ancestrais dos primeiros agricultores neolíticos que chegaram à Europa, há cerca de 8 mil anos”, disse o coautor sênior David Caramelli, diretor do Departamento de Biologia da Universidade de Florença.
Migração da Península Ibérica documentada
“Uma das descobertas mais impressionantes é a chegada dos ancestrais das estepes ao norte dos mares Negro e Cáspio a algumas ilhas do Mediterrâneo”, ressaltou o coautor sênior David Reich da Universidade Harvard, que também é pesquisador do Howard Hughes Medical Institute e do Broad Institute do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e de Harvard.
“Embora a origem desses ancestrais tenha sido em última instância a Europa Oriental, nas ilhas do Mediterrâneo ela veio, pelo menos em parte, do oeste, nomeadamente da Ibéria. Provavelmente esse foi o caso das Ilhas Baleares, nas quais alguns residentes antigos provavelmente derivaram da Ibéria pelo menos parte de sua ancestralidade”, disse o primeiro autor, Daniel Fernandes, do Departamento de Antropologia Evolutiva da Universidade de Viena.