03/06/2025 - 14:55
Para muitos, o café é essencial durante um dia de trabalho. A bebida, que é uma das mais consumidas no mundo, pode parecer inofensiva, mas tem potencial de reduzir o desempenho de medicamentos ou aumentar o risco de efeitos colaterais. A cafeína pode afetar remédios como analgésicos e antidepressivos, além de drogas que atuam contra resfriados e que regulam a pressão arterial.
As informações foram publicadas por Dipa Kamdar, professora sênior em Prática Farmacêutica na Universidade de Kingston, no Reino Unido, em um artigo no site “The Conversation”. De acordo com a especialista, as propriedades estimulantes do café interagem com o sistema nervoso central, algo que, em conjunto com a pseudoefedrina — descongestionante encontrado em remédios contra o resfriado — pode levar a nervosismo ou inquietação.
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Isso porque a pseudoefedrina também é um estimulante que interage com o sistema nervoso central. A combinação da substância com a cafeína pode levar a insônia, frequência cardíaca acelerada, dores de cabeça, aumento do açúcar no sangue e elevação da temperatura corporal.
Quantidades de cafeína também podem ser encontradas em alguns medicamentos para resfriado. A combinação do café com remédios para TDAH, como as anfetaminas, ou asma, no caso da teofilina, pode trazer riscos como batimentos cardíacos acelerados e distúrbios do sono.
Remédios para tireoide
O consumo de café também pode reduzir em 50% a absorção de levotiroxina, um remédio usado no tratamento do hipotireoidismo. A cafeína acelera o movimento dos alimentos pelo trato digestivo e reduz o tempo de absorção dos medicamentos. Portanto, uma quantidade menor da droga chega à corrente sanguínea, onde é necessária.
Uma absorção prejudicada pode fazer os sintomas do hipotireoidismo retornarem mesmo se o medicamento estiver sendo consumido de forma correta. A mesma regra se aplica a remédios que tratam a osteoporose.
Antidepressivos
A cafeína pode tornar menos eficazes medicamentos como a sertralina e o citalopram, usados no tratamento da depressão, ansiedade e de outras condições psiquiátricas. Isso acontece pelo fato da substância se ligar aos remédios no estômago.
Antidepressivos tricíclicos, conhecidos como ADTs, como a amitriptilina e a imipramina, atuam afetando os níveis dos neurotransmissores no cérebro. Os medicamentos são metabolizados pela mesma enzima hepática que metaboliza a cafeína, o que pode retardar a degradação do remédio, aumentando o risco de efeitos colaterais. A reação pode fazer uma pessoa se sentir nervosa ou agitada por mais tempo do que o normal.
A mesma enzima também metaboliza a clozapina, um antipsicótico. Um estudo apontou que o consumo de duas a três xícaras de café pode aumentar os níveis sanguíneos de clozapina em até 97%, elevando os riscos de sonolência, confusão e outras complicações.
Analgésicos
Alguns analgésicos de venda livre, como os que possuem aspirina ou paracetamol, também contêm cafeína. O café pode acelerar a absorção desses medicamentos, o que pode ajudar os remédios a serem potencializados, mas aumenta o risco de efeitos colaterais como a irritação estomacal ou sangramentos.
Medicamentos para o coração
Como estimulante, a cafeína pode aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca temporariamente, por cerca de três a quatro horas após o consumo. Esse efeito pode neutralizar medicamentos que agem no coração.
A recomendação de Dipa Kamdar é que, caso uma pessoa tome medicamentos como levotiroxina ou bifosfonatos, os remédios devem ser ingeridos de estômago vazio. Um período de 30 a 60 minutos deve ser esperado para que café ou o café da manhã sejam consumidos.
Uma pessoa que toma antidepressivos, antipsicóticos ou medicamentos para pressão alta, deve conversar sobre seus hábitos de consumo de cafeína com seu médico. A redução na ingestão de café ou a escolha de uma opção descafeinada deve ser ponderada.