11/05/2015 - 17:03
As regiões montanhosas são o berço dos maiores rios do planeta. Sua reputação como caixas d’água globais é merecida, pois 40% da população do mundo depende indiretamente dos seus recursos para dispor de água potável, irrigação e energia hidrelétrica. Os ecossistemas das montanhas estão entre os mais sensíveis às mudanças climáticas e vêm sendo afetados a um ritmo mais rápido do que outros habitats terrestres, o que pode ter consequências nefastas para o abastecimento de água e de meios de subsistência nas regiões a jusante e na foz dos rios.
Projetar estratégias e políticas de adaptação específicas para as regiões montanhosas é vital para o futuro. A Unesco apresentou um documento sobre o tema – Nossas Caixas D’Água Globais: Assegurar os Serviços dos Ecossistemas de Montanhas sob a Mudança Climática –, divulgado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-20), em Lima, no fim de 2014, junto com uma exposição móvel que revela os impactos das mudanças climáticas em várias regiões montanhosas do mundo, por meio de imagens de satélite.
As montanhas são o lar de 1,2 bilhão de pessoas e fornecem uma infinidade de produtos e serviços ambientais não apenas aos povos que abrigam, mas para aqueles que vivem sob sua influência. A água é o serviço do ecossistema oferecido em estado mais crítico. Como as taxas de precipitação das chuvas são maiores nas grandes altitudes e as montanhas armazenam gelo e neve, essas áreas abrigam fontes dos grandes rios e águas subterrâneas. Só na Ásia, os dez maiores rios do continente provêm das cordilheiras Hindu Kush e Himalaia e fornecem água para mais de 1,35 bilhão de pessoas.
Além disso, as montanhas são centros únicos de biodiversidade, celeiros fornecedores de alimentos, madeira e recursos genéticos de grande importância farmacêutica e agrícola, além de terem grande valor cultural para os povos e serem polos de recreação e turismo.
Serviços ameaçados
Ecossistemas montanhosos regulam o clima, a qualidade do ar e o fluxo de água, além de contribuir para a proteção contra riscos naturais, inundações, secas e tempestades. Os serviços ambientais são especialmente críticos para as áreas a jusante, onde os efeitos são muitas vezes mais intensamente vividos. Na Ásia, são conhecidos os efeitos do degelo do Himalaia nas inundações dos deltas dos rios Ganges, Bramaputra e Meghna, que provocam enchentes dramáticas em Bangladesh.
Os impactos climáticos são uma ameaça significativa para os serviços e as populações que deles dependem. Apesar de seu valor ecológico e socioeconômico, há pouca pesquisa com foco explícito em serviços ecossistêmicos de montanhas. Intensificar a investigação e avaliar vulnerabilidades é uma das primeiras recomendações da proposta de política do documento Nossas Caixas D’Água Globais.
A plataforma busca fornecer uma base científica sólida para facilitar a elaboração de políticas destinadas a enfrentar os impactos da mudança climática. Uma abordagem-chave é a adaptação para mudanças antecipadas, que poderia receber suporte por meio de pagamento por serviços ecossistêmicos. No caso, comunidades e proprietários de terras receberiam incentivos para gerir as terras a fim de fornecer serviços específicos, possivelmente como parte de esquemas de compensação.
O novo relatório da Unesco resulta de várias oficinas regionais organizadas em 2013 com o objetivo de reunir informações na África, na Ásia e na América Latina. Por meio delas foram identificadas necessidades de pesquisa e vulnerabilidades, bem como as melhores práticas, destacando-se iniciativas de adaptação das comunidades para cada região.