12/08/2024 - 18:22
Um estudo realizado por um grupo de cientistas na Espanha concluiu que mais de 47 mil pessoas morreram na Europa em consequência das altas temperaturas em 2023, o ano mais quente em todo o mundo desde o início dos registros globais.
Os dados resultam de um estudo de modelagem liderado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) publicado nesta segunda-feira (12/08) no jornal científico Nature Medicine. A pesquisa também sugere que a sociedade parece ter conseguido se adaptar ao calor, diminuindo os riscos à população.
A equipe utilizou dados do Escritório Europeu de Estatísticas (Eurostat) sobre 96 milhões de mortes para calcular a mortalidade associada ao calor em 823 regiões de 35 países europeus no ano passado. Segundo a estimativa, foram 47.690 óbitos em decorrência das altas temperaturas em todo o continente, sendo esta a segunda taxa mais alta de mortalidade associada ao calor desde o inicio das estimativas, em 2015. O maior índice foi registrado em 2022.
Os pesquisadores concluíram que os maiores índices foram registrados nos países do sul da Europa. Grécia (383 mortes por milhão de habitantes), Bulgária (229), Itália (209) e Espanha (175) possuem as quatro maiores taxas de mortalidade relacionada ao calor. A Alemanha, em contraste, teve 76 mortes associadas às altas temperaturas.
Em números absolutos, os pesquisadores estimam que o total de óbitos associados ao calor em 2023 ficou pouco abaixo de 12.750 na Itália e somou 6.376 na Alemanha. Em quase todos os países analisados, quantidades significativamente maiores de mulheres morreram em razão do calor, em comparação aos homens. Os idosos, porém, foram os mais vulneráveis.
Medidas de adaptação funcionam
A equipe de Barcelona, liderada por Elisa Gallo, também projetou os efeitos da mortalidade associada ao calor sem as medidas de adaptação vigentes – como as melhoras no sistema de saúde, na proteção social e nos estilos de vida, assim como os avanços na saúde ocupacional, maior conscientização de risco e campanhas de informação mais eficazes.
Sem essas medidas, o total de mortes em consequência do calor em 2023 seria provavelmente 80% maior na população geral.
“Nossos resultados demonstram como os processos societais de adaptação às altas temperaturas no século atual conseguiram reduzir dramaticamente a vulnerabilidade relacionada ao calor e o peso da mortalidade nos verões recentes, especialmente entre os idosos”, afirmou Gallo.
Segundo a cientista, a temperatura mínima de mortalidade – ou seja, a temperatura ideal com menor risco de morte – aumentou gradativamente em média no continente europeu nos anos 2000, de 15º C no período de 2000 a 2004 para 17,7º C entre 2015 e 2019.
“Isso indica que estamos menos vulneráveis ao calor do que estávamos no início do século, provavelmente em razão do progresso socioeconômico geral, das melhoras no comportamento individual e das medidas de saúde pública, como os planos de prevenção implementados após o calor recorde no verão de 2023”, disse a cientista.
“Mas, o número de mortes associadas ao calor ainda é alto demais” alertou Gallo. “A Europa se aquece em nível duas vezes mais rápido do que a média global.”
Questão de saúde pública
Ela diz que as ondas de calor devem ser enfrentadas em todos os níveis, mas, ao mesmo tempo, cada um deve adotar medidas simples para se proteger, como evitar a exposição ao sol nos dias mais quentes, buscar as sombras ao sair de casa e consumir água ao invés de bebidas alcoólicas.
“Por mais óbvio que possa parecer, beber água é fundamental para evitar a desidratação”, disse a cientista. “Os idosos com frequência não se dão conta da sede, por isso, devemos observá-los com cuidados extra.”
Ela pede ainda mais seja feito para adaptar as populações ao aquecimento global e para mitigar o aumento das temperaturas. “As mudanças climáticas precisam ser vistas como uma questão de saúde.”
(DPA, ots)