Sabe aquela história absurda de que o Hitler era comunista e de esquerda? Pois é, como foi possível ela voltar, mas desta vez na própria Alemanha?

O vídeo acima registra a fala de Alice Weidel, que é a candidata a chanceler federal do partido de ultradireita AfD, numa conversa com Elon Musk. “Ele era um cara comunista, socialista. Então, ponto final, sem mais comentários sobre isso. E nós somos exatamente o oposto”, afirmou a candidata da AfD.

Alice Weidel está em campanha e quer se distanciar da imagem de Hitler. O partido dela é investigado pela Agência de Proteção à Constituição Alemã por suspeita de ser extremista.

No relatório anual do órgão, ele aparece dentro do item Espectro de Partidos de Extrema Direita. E tem até uma decisão judicial que confirma que existem indícios suficientes de atividades anticonstitucionais dentro do partido.

Nas pesquisas de opinião a AfD aparece na segunda posição, com cerca de 20% das intenções de voto. E vocês devem lembrar que Jair Bolsonaro já tinha dito isso em 2019. Na época, ele afirmou “não ter dúvidas” de que o nazismo foi um movimento de esquerda.

Mas de onde que vem essa ideia? E por que ela é tão criticada por historiadores? Um dos argumentos é que o nome do partido do Hitler era NSDAP, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Ou seja, o socialismo estaria no nome do próprio partido. Mas vários historiadores explicam que a nomenclatura não passou de uma estratégia eleitoreira para atrair a classe trabalhadora.

Dentro da NSDAP, existia, sim, uma ala mais à esquerda, mas eles foram assassinados a mando de Hitler em junho de 1934, em um episódio que ficou conhecido como a “Noite das Facas Longas”.

Outro argumento dito pela Alice Weidel e pelo Musk é de que os nazistas estatizaram empresas na Alemanha. E, na verdade, o que aconteceu quando Hitler chegou ao poder foi exatamente o contrário.

Ele privatizou e fortaleceu muitas empresas alemãs. Houve, sim, uma desapropriação de bens dos judeus, mas o que é bem diferente de uma estatização feita por regimes comunistas, como aconteceu na Rússia no início do século 20.

E é importante lembrar que Hitler perseguiu e assassinou milhares de pessoas de partidos de esquerda, como os comunistas e os social-democratas.

Então, ao olhar pra história, existe um consenso entre os especialistas de que o movimento nazista era um movimento de extrema direita.

Na Alemanha existe a chamada “Erinnerungskultur”, a cultura da lembrança, numa ideia de que é preciso “conhecer e preservar a história para não repeti-la”.

Esse tipo de declaração falsa da Alice Weidel tem a intenção de reescrever a história da Alemanha e de se distanciar do Adolf Hitler, que ainda é a primeira pessoa que vem na cabeça de muita gente, quando a gente fala em um político de extrema direita alemão.