Fome, miséria e canibalismo. O tema perfeito para uma boa e velha história de ninar alemã. Isso é o que provavelmente passou pela cabeça dos Irmãos Grimm quando escreveram “João e Maria” em 1812. Esses temas não são por acaso, mas sim um reflexo das dificuldades da época.

Na história, uma família pobre de lenhadores passa fome. Com medo de morrer de inanição, os pais abandonam seus filhos na floresta. Perdidos e com muita fome, João e Maria encontram uma velha bruxa que os atrai para sua casa com doces e pães, numa tentativa de devorá-los.

Na vida real, muitas famílias em tempos de fome ou pobreza mandavam seus filhos para rua para fazerem trabalhos sazonais ou até os doavam. As “crianças da Suábia” da Suíça e de Liechtenstein, por exemplo, eram vendidas nos chamados “mercados de crianças” para trabalhar em fazendas na Suábia.

A caça às bruxas e a Guerra dos Trinta Anos provavelmente também influenciaram o conto de fadas dos Irmãos Grimm.

“João e Maria”, portanto, ainda que fictícia, reflete os traumas reais do início dos tempos modernos.