13/09/2025 - 18:38
Explosivos são cada vez mais usados para demarcar territórios do narcotráfico e fazem vítimas em regiões rurais. Exército criou força-tarefa para detecção e desarme.Longe dos centros urbanos, minas antipessoais têm feito cada vez mais vítimas em áreas rurais do México. Os explosivos ganharam importância recente na corrida armamentista do narcotráfico e passaram a ser empregados para demarcar territórios em regiões disputadas por cartéis rivais.
Na Colômbia, o uso de minas terrestres é um fenômeno antigo. Em 2023, as autoridades nacionais registraram 895 incidentes com esses artefatos, o dobro do ano anterior, de acordo com o Monitor de Minas Terrestres, da Campanha Internacional para a Proibição de Minas Antipessoais. Os casos são atribuídos principalmente a grupos armados ilegais, como as dissidências das Farc.
No México, por outro lado, o emprego de artefatos explosivos improvisados por criminosos se tornou mais comum nos últimos anos, diz Victoria Dittmar, pesquisadora do centro de análise InSight Crime.
“Embora sejam utilizados há anos, desde 2022 aumentou significativamente o número de apreensões de bombas caseiras, explosivos acoplados a drones, artefatos detonados à distância e minas antipessoais”, disse.
O uso, armazenamento e produção destes artefatos são proibidos pelo Tratado sobre a Proibição de Minas Antipessoais inclusive em contexto de guerra. 164 países são signatários do acordo.
Zonas disputadas por cartéis
O uso dessas bombas enterradas no solo, que explodem ao serem pisadas, se concentra em duas regiões do país: o estado de Tamaulipas e a fronteira entre os estados de Jalisco e Michoacán, indica Víctor Sánchez Valdés, pesquisador da Universidade Autônoma de Coahuila (UAdeC).
Em entrevista à DW, o acadêmico mexicano explica que, em uma frente, duas facções do Cartel do Golfo disputam o norte de Tamaulipas. Na outra, a região de fronteira entre Jalisco e Michoacán transformou-se em campo de batalha entre o Cartel Jalisco Nueva Generación e os Cartéis Unidos.
As organizações criminosas colocam as minas em estradas rurais para impedir que comboios inimigos ou militares avancem sobre os territórios que controlam. No entanto, multiplicam-se os casos de trabalhadores rurais feridos ou mortos ao pisarem nesses artefatos.
Embora o Cartel Jalisco Nueva Generación tenha introduzido no México o uso das minas antipessoais, seus adversários copiaram a estratégia, relata Sánchez.
Fabricação artesanal e especialistas colombianos
Victoria Dittmar, do InSight Crime, explica à DW que a fabricação das minas é artesanal, não exigindo importação de tecnologia, materiais ou conhecimentos especializados. “As apreensões revelam que se utilizam tubos de PVC ou metal recheados com pólvora e fragmentos metálicos, como pregos. As autoridades descobriram que elas são produzidas dentro de casas, armazéns ou outras propriedades privadas em povoados próximos das zonas de conflito, como Apatzingán ou Tepalcatepec”, acrescenta.
Sobre a fabricação das minas, Sánchez, da UAdeC, observa que o Cartel Jalisco Nueva Generación também contratou especialistas colombianos, treinados no uso e produção de explosivos. Parte dos dispositivos seria adquirida ilegalmente por meio do tráfico de armas vindas do Leste Europeu, de ex-países soviéticos ou de nações africanas.
Uso vai se expandir?
No início de 2025, o Exército mexicano anunciou a criação de uma unidade especializada do para detecção e desativação de minas na região de fronteira entre Michoacán e Jalisco.
“Essa unidade conseguiu desativar vários artefatos, mas à medida que limpam uma área, os grupos criminosos se deslocam e colocam minas em outras regiões. Esse processo vira um jogo de gato e rato, de modo que o risco persiste”, comenta a pesquisadora Dittmar.
Devido à fácil fabricação das minas antipessoais, é provável que vários grupos criminosos continuem incorporando-as em seus arsenais, acredita a especialista. “Mas é pouco provável que seu uso se expanda de forma sistemática para fora dessas áreas. Em regiões onde não há conflitos intensos os grupos criminosos priorizam manter abertas as rotas de comunicação e boas relações com a população local. O uso de minas não é estratégico”.
Já Víctor Sánchez Valdés acredita que a presença dessas armas letais “pode se espalhar cada vez mais para outros estados”. Para ele, os estados de Guerrero e Guanajuato correm o maior risco de adotar o esquema no futuro, devido à proximidade com as áreas afetadas, assim como Sinaloa, onde duas facções do Cartel de Sinaloa disputam o poder.
“Não houve mudanças legislativas a respeito, nem ações concretas para enfrentar as organizações que as instalam”, afirma.