Como você avalia sua vida amorosa? Uma pesquisa recente indica que, para uma análise justa, devemos considerar o amor e o cuidado que recebemos na tenra idade, antes mesmo de termos memórias conscientes, para pensar o sentimento adulto.

Sigmund Freud, o criador da psicanálise, foi o primeiro a indicar que a experiência amorosa original da criança com a mãe, determina sua maturidade afetiva. Agora, os cientistas afirmam que a partir do amor infantil é possível predizer com grande dose de certeza a qualidade dos nossos relacionamentos românticos.

Um grupo de psicólogos liderado por Jeffry Simpson, da Universidade de Minnesota (EUA), divulgou recentemente, na revista Current Directions in Psychological Science, uma pesquisa de longo prazo realizada com primogênitos, o Minnesota Longitudinal Study of Risk and Adaptation (Estudo Longitudinal de Adaptação e Risco de Minnesota), iniciado em 1976. Naquele ano e no seguinte, 174 mães, que, pela primeira vez, recebiam cuidados pré-natais no serviço público de saúde de Minneapolis (a maior cidade do Estado), aceitaram participar do estudo. Desde o nascimento, suas crianças passaram por avaliações em intervalos regulares a cada estágio de desenvolvimento. Em todos, os pesquisadores regularmente monitoraram a evolução social e emocional dos filhos.

Quando as crianças tinham entre 12 e 18 meses de idade, foram levadas a um laboratório. Ali, separaram os bebês das mães e reuniram-nos depois, por várias vezes, observando como reagiam. As crianças que exploraram o novo ambiente de modo desinibido, sem mostrar ansiedade ou indecisão, foram classificadas como tendo “ligações seguras” com as mães. Já os bebês com “ligações inseguras” demonstraram angústia durante o experimento.

Em 2011, Simpson e equipe identificaram 75 participantes do grupo original, agora na casa dos 20 anos, já vivendo relacionamentos românticos. Pediram-lhes para discutir um conflito com o parceiro – obtendo, dessa forma, uma interação negativa – e mudar o foco para tratar de um assunto sobre o qual o casal concordava. Os participantes que tiveram ligações seguras com as mães na infância passavam mais rapidamente da interação negativa para a positiva, melhorando o humor e concentrando-se no novo assunto. Também demonstraram controlar melhor os sentimentos. Já aqueles que tinham ligações inseguras pareciam ter mais dificuldade para lidar com conflitos e com as emoções na fase adulta.

 

Os pesquisadores notaram que a ligação segura na infância era vantajosa não apenas para a própria pessoa, mas também para seu parceiro amoroso. Os indivíduos romanticamente envolvidos com pessoas que viveram ligações seguras com as mães também se recuperavam melhor de conflitos, graças à maior satisfação e a emoções mais positivas quanto ao relacionamento.

Simpson e equipe sublinham que a ausência de ligação segura na infância não é sinônimo de desastre amoroso no futuro. Entre os participantes da pesquisa que tiveram um relacionamento inseguro com as mães, aqueles que haviam encontrado um parceiro emocionalmente estável e romanticamente comprometido no início da fase adulta tinham mais chances de mantê-lo dois anos mais tarde.

Um relacionamento saudável, por sua vez, pode ajudar a melhorar a vida das pessoas “vulneráveis em termos de desenvolvimento” que cresceram com menos apoio ou não receberam cuidados constantes durante a infância. Não há dúvida de que o amor transforma.