Muito já se falou sobre a falência do casamento. Não faltam exemplos, mundo afora, de maridos e esposas brigando como gato e rato e até chegando a extremos. Mas, se casar pode ser ruim, não casar pode ser pior, sustenta um recente estudo norte-americano, publicado no Journal of Research in Personality.

Pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan liderados por Stevie Yap debruçaram-se sobre um levantamento realizado na Grã-Bretanha entre 1991 e 2008, baseado em entrevistas anuais com mais de dez mil adultos sobre o grau de satisfação com a vida. A equipe de Yap identificou quatro subgrupos de casais relacionados a eventos existenciais importantes: aqueles que haviam se casado pela primeira vez; os que tiveram seu primeiro filho; cônjuges que enviuvaram; e casais que sofreram com desemprego durante os anos do estudo. Cada membro desses subgrupos foi comparado a indivíduos com características demográficas similares que não haviam vivenciado esses acontecimentos.

O objetivo era verificar se características pessoais, tais como afabilidade ou extroversão, ajudam a lidar com eventos significativos, como pesquisas anteriores sugeriam. A resposta, no caso, foi negativa: não foram encontradas evidências consistentes que justificassem essa suposição. Mas as informações colhidas no levantamento revelaram um ângulo pouco conhecido do casamento.

Estabilidade

As pessoas que se casaram pela primeira vez, e se mantiveram nesse estado civil, declaram sentir-se naturalmente mais felizes nos primeiros anos do matrimônio. Com o passar dos anos, a satisfação existencial cai a níveis próximos às circunstâncias pré-matrimoniais.

A pesquisa não contém evidências de que os casados eram mais ou menos felizes do que os solteiros da mesma faixa etária, mas revela que os solteiros exibem “recuos” na felicidade bem mais acentuados em longo prazo. Aparentemente, o matrimônio mantém o nível de satisfação mais estável.

Yap observou, em pesquisas anteriores, que as pessoas entre 20 e 39 anos apareciam como as menos felizes quando comparadas a outras décadas de vida. Mas poucas dessas viveram relacionamentos de longo prazo. A partir dos resultados obtidos, o psicólogo concluiu que relações duradouras, como casamento, preservam os cônjuges contra o desgaste natural do nível de felicidade. “O casamento não torna você mais feliz do que estava antes de se casar. Mas protege contra o declínio da felicidade que teria ocorrido se você não houvesse se casado”, afirma. A pesquisa do Journal of Research in Personality infelizmente não define o que significa “declínio da felicidade”. Os níveis de felicidade dos casais que tiveram o primeiro filho subiam após o evento, caindo, depois, para um patamar semelhante ao que antecedia o nascimento. Esse foi o subgrupo que mais se aproximou dos casados pela primeira vez. No entanto, segundo Yap, a vinda do primeiro filho não preserva a felicidade tal como o casamento, embora os dois eventos figurem entre os mais positivos da existência.

Membros dos subgrupos que enfrentaram a morte do cônjuge ou a perda do emprego apresentaram declínio de satisfação consistente, em longo prazo. Aparentemente, muitos não conseguem assimilar a mudança ocorrida e recompor a vida. Já pessoas que enviuvaram com a idade média de 80 anos relataram níveis de satisfação antes do falecimento do cônjuge mais altos do que qualquer outro membro de subgrupo, fosse dos casados, dos pais do primeiro filho ou daqueles que sofreram demissão do emprego.

A conclusão é clara: há um vínculo de longo prazo entre o casamento e a felicidade. “O estudo evidencia que, na média, o casamento é bom e faz muito bem”, afirma o pesquisador.