20/12/2022 - 13:58
O crescente número de casos de covid-19 na China volta a deixar o mundo em alerta. Nesta terça-feira (20/12), cidades chinesas avançaram nos planos de expandir a capacidade de leitos hospitalares e construir novas clínicas.
A decisão abrupta de Pequim de relaxar as medidas rigorosas contra o coronavírus levantou temores de que infecções generalizadas entre a população não vacinada possam deixar entre 1 milhão e 2,1 milhões de mortos.
Para impedir a propagação da doença nos hospitais, as autoridades estão expandindo as unidades de terapia intensiva e construindo clínicas de triagem. Cidades como Pequim, Xangai, Chengdu e Wenzhou anunciaram na semana passada centenas dessas clínicas – algumas delas adaptadas em instalações esportivas.
Após protestos generalizados contra a política estrita de “covid zero” – os maiores vistos no país em três décadas –, as autoridades abandonaram essa estratégia, diminuindo drasticamente os bloqueios e os testes em massa obrigatórios. Além disso, vários governos locais incentivaram as pessoas com infecções leves por coronavírus a irem trabalhar.
Alguns especialistas estimam que cerca de 60% dos 1,4 bilhão de habitantes da China – aproximadamente 10% da população global – pode ser infectada com o coronavírus nos próximos meses. Há temores de que o vírus possa se espalhar mais amplamente durante o feriado do Ano Novo Lunar, em janeiro, quando muitas pessoas viajam.
Casos subestimados
A Comissão Nacional de Saúde da China relatou nesta terça-feira 2.722 novos casos de coronavírus em 24 horas, em comparação com 1.995 no dia anterior. Foram relatadas apenas cinco mortes, elevando o número total de óbitos por covid-19 na China para 5.242.
Embora os números sejam baixos para os padrões globais, acredita-se que as cifras reais sejam muito maiores. As autoridades de saúde na China contabilizam apenas aqueles que morreram diretamente do vírus SARS-CoV-2, excluindo mortes atribuídas a condições subjacentes.
Crematórios superlotados
Relatos não oficiais das famílias das vítimas e de pessoas que trabalham no setor funerário sugerem uma onda de mortes por coronavírus, com crematórios lotados em todo o país. Vários desses estabelecimentos admitiram estar sobrecarregados.
No sudoeste, em Chongqing, uma cidade-província com uma população de mais de 30 milhões de habitantes, um crematório ficou sem espaço para armazenar o grande número de corpos, que, segundo um funcionário, é “muito superior” ao ano anterior.
“Estamos todos muito ocupados, não há mais espaço para os corpos nas câmaras frigoríficas”, disse sem se identificar, por medo de represálias.
Uma situação semelhante prevalece no outro extremo do país. “Claro que estamos ocupados, que lugar não está ocupado neste momento?”, respondeu um funcionário de um crematório em Baoding, perto de Pequim.
A capital chinesa e os seus 22 milhões de habitantes foram particularmente atingidos pela covid-19, que se espalhou rapidamente nos últimos dias. Todas as cinco mortes comunicadas pelas autoridades na terça-feira ocorreram na metrópole, depois de duas no dia anterior.
A agência francesa de notícias AFP relatou mais de uma dúzia de veículos à espera para entrar no crematório de Dongjiao, em Pequim, nesta terça-feira, a maioria carros funerários com fitas escuras e coroas de flores. Um motorista na fila disse à AFP que estava havia várias horas esperando.
Um crematório na cidade de Guangzhou, na província de Guangdong, descreveu a situação como “extremamente preocupante”.
“Estamos cremando mais de 40 corpos por dia, em comparação com cerca de uma dúzia anteriormente. Estamos três a quatro vezes mais ocupados do que nos anos anteriores”, disse um funcionário, sob condição de anonimato.
Estados Unidos expressam preocupação
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse na segunda-feira que sempre que o vírus se espalha, tem o potencial de sofrer mutações e pode “representar uma ameaça para as pessoas em todos os lugares”.
“Vimos isso ao longo de muitas mutações diferentes desse vírus e certamente é uma razão pela qual estamos tão focados em ajudar países ao redor do mundo a lidar com a covid”, afirmou.
Price também observou o impacto econômico que uma disseminação desenfreada da covid-19 poderia ter na China e no resto do mundo.
“O número de vítimas do vírus preocupa o resto do mundo, dado o tamanho do PIB [Produto Interno Bruto] da China, dado o tamanho da economia da China”, destacou.
le/bl (Lusa, DPA, Reuters, AFP, AP)