Estratégia que virou alvo de protestos por incluir ultradireitista AfD estará entre prioridades dos conservadores se confirmada a vitória nas urnas. Plano inclui reversão de várias leis aprovadas pelo atual governo.Apesar dos protestos em massa em toda a Alemanha e de pesadas críticas de suas próprias fileiras, o partido conservador União Democrata Cristã (CDU) planeja a implementação imediata do controverso plano anti-imigração proposto pelo líder do partido, o candidato a chanceler nas próximas eleições gerais, Friedrich Merz, caso a legenda saia vencedora no pleito.

Na semana passada, Merz apresentou uma moção e um projeto de lei anti-imigração no Bundestag (Parlamento), com o apoio do Partido Liberal Democrático (FDP), da legenda populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) e, notavelmente, da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

Na última quarta-feira, os partidos aprovaram a moção não vinculativa. Apesar da onda de repúdio gerada pela aprovação, Merz decidiu forçar a votação da proposta chamada Lei do Fluxo Migratório, que acabou sendo rejeitada pela maioria dos parlamentares nesta sexta-feira.

Os principais pontos do plano de migração de Merz são o estabelecimento de controles permanentes de fronteira, a rejeição de migrantes nas fronteiras e a prisão por tempo indeterminado para criminosos e indivíduos perigosos que estejam sob ordens da Justiça para serem deportados.

A proposta da CDU prevê ainda a interrupção da reunificação familiar para os refugiados que têm direito à proteção no país e mais poderes para a Polícia Federal alemã.

Onda de protestos pelo país

Multidões saíram às ruas em várias cidades do país neste fim de semana em protesto contra o fim do “cordão sanitário” que isolava a AfD no Bundestag, após Merz e a CDU aceitarem de forma inédita o apoio dos ultradireitistas a suas propostas anti-imigração.

A estratégia, porém, será avaliada pelos membros da CDU na convenção do partido marcada para esta segunda-feira (03/01) em Berlim. O chamado “programa de ação imediata” deverá ser adotado pelos 1.001 delegados para ser implementado logo após a possível vitória dos conservadores nas eleições de 23 de fevereiro.

“Garanto aos eleitores na Alemanha que haverá uma verdadeira reviravolta na política econômica e de asilo”, afirmou Merz em entrevista ao jornal alemão Bild am Sonntag publicada neste sábado.

“Precisamos de uma mudança na política rumo ao crescimento e ao emprego. Precisamos de uma mudança de política no sentido de limitar rigorosamente o fluxo de requerentes de asilo. E precisamos de uma mudança na política em relação à segurança interna na Alemanha.”, disse o candidato.

A cooperação entre a CDU, a União Social Cristã (CSU) – legenda conservadora coirmã da CDU na Baviera – e a AfD renderam duras críticas dos governistas Partido Social-Democrata (SPD) e Partido Verde a Merz e seus apoiadores.

O chanceler federal e candidato à reeleição nas eleições gerais, Olaf Scholz, do SPD, acusou Merz de fracassar em sua abordagem à política de asilo. “Ele apostou e perdeu. Mas o que é muito pior é que ele apostou”, disse Scholz nesta sexta-feira em entrevista à emissora estatal ARD. Ele acusou seu adversário de “quebrar o tabu de que não se deve cooperar com a extrema direita”.

Plano de 15 pontos

A estratégia intitulada “Programa de ação imediata para prosperidade e segurança” foi enviada ao comitê executivo do partido na noite deste sábado.

Além do controverso plano para conter a imigração, nove dos 15 pontos da estratégia são voltados a questões econômicas e à reversão de várias decisões tomadas pela coalizão de governo liderada por Scholz.

O programa propõe a redução dos impostos sobre a eletricidade e das taxas sobre a rede elétrica o que, segundo seus autores, resultaria em um alívio de pelo menos 5 centavos de euro por quilowatt-hora. A estratégia visa também reduzir as burocracias, abolir a regulamentação da cadeia alemã de abastecimento e a Lei de Eficiência Energética.

O partido quer ainda o fim da lei que legalizou a cannabis no país, da legislação que apoia os custos do aquecimento das residências e estabelecimentos e a reintrodução total do reembolso do diesel agrícola aos produtores rurais.

O plano inclui incentivos para o trabalho de pessoas em idade de aposentadoria e a isenção de impostos para horas extras. Na área de segurança, além de limitar a migração, a CDU quer implementar um armazenamento de endereços de IP e introduzir tornozeleiras eletrônicas para autores de violência contra mulheres.

A pesquisa Politbarometer, realizada pela emissora pública ZDF, coloca a CDU à frente com 29% da preferência dos eleitores, seguida da AfD, com 21%. O SPD aparece em terceiro lugar (15%), seguido de perto pelos Verdes (14%).

rc (DPA, AFP, ots)