12/04/2016 - 16:20
Pode ter sido uma coincidência cósmica, mas as primeiras Olimpíadas sediadas na América do Sul acontecerão exatamente no ano em que um de seus símbolos mais marcantes – o samba – completa 100 anos. O aniversário é mais um motivo para festejar, numa cidade que respira samba e tem no carnaval um dos seus mais importantes eventos anuais.
O samba está mais associado ao Rio, mas tem origem no século 19 em outros estados, como Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Maranhão. A palavra provavelmente se origina de semba, “umbigada” na língua dos angolanos e congoleses trazidos como escravos para o Brasil. No Rio, então capital do país e polo de atração de migrantes, a música e a dança praticadas pelos ex-escravos, com forte base percussiva, incorporaram outros estilos musicais, como o maxixe, o lundu e o xote. Outros instrumentos foram introduzidos, como violão e cavaquinho, e um estilo próprio, com temática urbana nas letras, começou a se fortalecer nas primeiras décadas do século passado. Em 1916 foi composto o samba “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida, que no ano seguinte se tornaria a primeira obra do gênero a ser gravada.
A partir daí, o ritmo antes criminalizado e visto com preconceito ganhou projeção e, via rádio, alcançou outros pontos do país, a ponto de, em 1930, passar a ser considerado um símbolo da identidade nacional. Associado de início a morros da cidade, como Mangueira, Salgueiro e São Carlos, e a bairros mais centrais, como Estácio de Sá e Osvaldo Cruz, o samba avançou em outras regiões, enquanto misturava-se às festas carnavalescas (surgiu no Estácio a primeira escola de samba). A oficialização, em 1935, dos desfiles de carnaval pela prefeitura carioca sacramentou a ligação entre o samba e a festa mais popular da cidade.
Com o tempo o gênero viu surgirem subdivisões, como o samba-canção, o samba de breque e o samba-enredo, distanciou-se dos morros e consagrou nomes de compositores vindos da classe média, como Noel Rosa, Ary Barroso e Ataulfo Alves, além de intérpretes como Francisco Alves, Silvio Caldas, Carmen Miranda e Aracy de Almeida. Na ampliação das suas fronteiras estão ritmos tão contrastantes quanto a bossa nova e o pagode. Enquanto isso, novos nomes, como Chico Buarque, Paulinho da Viola e Beth Carvalho, propunham um resgate do samba original, que permitiu o reconhecimento de compositores da velha guarda como Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti.
Os cem anos de aniversário do samba começarão a ser comemorados em grande estilo já no réveillon de 2016 em Copacabana. O gênero estará mais presente do que nunca na Cidade Maravilhosa em 2016 e terá lugar garantido nos Jogos Olímpicos.