Um mapa cerebral 4D desenvolvido por pesquisadores do Medical Research Council Laboratory for Molecular Biology (Reino Unido) sugere que cérebros humanos saudáveis ​​são mais quentes do que se pensava anteriormente e podem exceder regularmente os 40 graus Celsius. Ainda de acordo com o trabalho, publicado na revista Brain, a temperatura do cérebro cai à noite e aumenta durante o dia.

Em homens e mulheres saudáveis, nos quais a temperatura na boca é tipicamente inferior a 37 graus Celsius, a temperatura média do cérebro é de 38,5°C. Já regiões cerebrais mais profundas podem registrar temperaturas superiores a 40°C, principalmente em mulheres durante o dia. Segundo os pesquisadores, essas temperaturas podem ser um sinal de função cerebral saudável.

Em todos os indivíduos, a temperatura cerebral mostrou uma variação consistente da hora do dia em quase 1 grau Celsius. As temperaturas cerebrais mais altas foram observadas à tarde. Em média, os cérebros femininos eram cerca de 0,4°C mais quentes do que os cérebros masculinos.

A temperatura do cérebro saudável varia de acordo com a hora do dia. Crédito: Rzechorzek et al., doi: 10.1093/brain/awab466.

Possibilidade de deterioração

Os dados coletados revelaram ainda que a temperatura cerebral aumentou com a idade ao longo da faixa de 20 anos dos participantes, principalmente nas regiões profundas do cérebro, onde o aumento médio foi de 0,6°C.

Os pesquisadores observaram que a capacidade do cérebro de esfriar pode se deteriorar com a idade e mais trabalhos são necessários para investigar se há uma ligação dessa característica com o desenvolvimento de distúrbios cerebrais relacionados à idade.

Segundo John O’Neill, líder da equipe de pesquisadores, a descoberta mais surpreendente foi que o cérebro humano saudável pode atingir temperaturas que seriam diagnosticadas como febre em qualquer outro lugar do corpo. “Tais temperaturas elevadas foram medidas em pessoas com lesões cerebrais no passado, mas se supõe que resultem da lesão”, disse ele.

Técnica não invasiva

“Descobrimos que a temperatura do cérebro cai à noite antes de dormir e aumenta durante o dia”, prosseguiu ele. “Há boas razões para acreditar que essa variação diária está associada à saúde do cérebro em longo prazo, algo que esperamos investigar a seguir.

Os estudos anteriores sobre a temperatura do cérebro humano se baseavam em dados de pacientes com lesão cerebral em terapia intensiva, em que o monitoramento direto do cérebro é frequentemente necessário. Mais recentemente, porém, uma técnica chamada espectroscopia de ressonância magnética permitiu aos pesquisadores medir a temperatura do cérebro de forma não invasiva em pessoas saudáveis.

O estudo derruba várias suposições anteriores e mostra até que ponto a temperatura do cérebro varia de acordo com a região do cérebro, a idade, o sexo e a hora do dia.

Os cientistas dizem que suas descobertas também desafiam uma crença amplamente difundida de que o cérebro humano e a temperatura do corpo são os mesmos.

Valor clínico

“Usando a exploração mais abrangente até hoje da temperatura normal do cérebro humano, estabelecemos o ‘HEATWAVE’ – um mapa de temperatura 4D do cérebro”, disse a drª Nina Rzechorzek, pesquisadora do Medical Research Council Laboratory for Molecular Biology e autora correspondente do estudo. “Este mapa fornece um recurso de referência urgentemente necessário com o qual os dados do paciente podem ser comparados e pode transformar nossa compreensão de como o cérebro funciona.”

“O fato de um ritmo diário da temperatura cerebral se correlacionar tão fortemente com a sobrevivência após uma lesão cerebral traumática sugere que a medição da temperatura cerebral 24 horas por dia tem grande valor clínico”, observou Rzechorzek.