Assolada por atrasos e fonte constante de frustração entre passageiros, Deutsche Bahn vai ter mudança de comando, em meio a esforços do novo governo alemão para tentar debelar crise no setor. Sindicato elogia demissão.O presidente da companhia ferroviária estatal alemã Deutsche Bahn (DB) foi demitido pelo governo na quinta-feira (14/08), em mais um capítulo da crise que envolve a empresa, assolada afundada por uma crise de infraestrutura e de pontualidade.

Richard Lutz, que liderava a DB desde 2017, deveria inicialmente permanecer na chefia da empresa até 2027. Mas o governo decidiu encerrar o contrato antecipadamente, marcando o fim da linha para a gestão Lutz.

“Agradeço ao Dr. Lutz por seus esforços em tempos difíceis”, disse o ministro dos Transportes da Alemanha, o conservador Patrick Schnieder. Já um porta-voz da DB confirmou que Lutz continuará no cargo interinamente até que um sucessor seja nomeado.

“Tenho certeza de que ele continuará fazendo tudo o que puder pela ferrovia nas semanas que lhe restam”, disse Schnieder.

Deutsche Bahn: sinônimo de ineficiência na Alemanha

A Deutsche Bahn, uma sociedade anônima de capital fechado que pertence 100% ao Estado alemão, já foi famosa no passado por sua eficiência e confiabilidade, mas sua reputação foi destruída nos últimos anos.

Sob o comando de Lutz, a pontualidade dos trens de longa distância da Alemanha despencou de 78,5% em 2017 para apenas 62,5% no ano passado, o que significa que mais de um terço dos trens chegou atrasado, custando à DB quase 200 milhões de euros em multas. Na realidade, os atrasos são ainda piores, já que a empresa tem uma definição elástica de pontualidade: só são considerados atrasados os trens que chegam ao destino mais de seis minutos após o horário previsto.

Além disso, após anos de subinvestimento e apesar do aumento dos preços das passagens, a DB continua registrando prejuízos anuais.

Mudança

O Sindicato dos Maquinistas de Trem (GDL, na sigla em alemão) saudou a demissão de Lutz como “uma consequência necessária de anos de má gestão que levaram a Deutsche Bahn cada vez mais fundo na atual crise”.

“Essa decisão foi correta e inevitável”, afirmou o presidente do GDL, Mario Reiss.

Os dias de Lutz eram considerados contados desde que a posse em maio do novo governo da Alemanha, sob o comando do chanceler federal Friedrich Merz. A nova administração prometeu reestruturar a gestão da DB e modernizar a infraestrutura de transporte defasada do país.

Essa reorganização já começou, com o ministro Schnieder anunciando a apresentação de uma nova estratégia em 22 de setembro.

“De preferência, poderemos apresentar também um novo presidente [para a DB]”, disse. “Seja em termos de satisfação dos clientes, pontualidade ou desempenho econômico, a situação das ferrovias é dramática.”

Pressão sobre o governo alemão

Para Dirk Flege, diretor do principal grupo de lobby ferroviário da Alemanha, a Allianz pro Schiene (“aliança pró-ferrovia”), a demissão de Lutz agora direciona a pressão para Schnieder.

“A pressão sobre o ministro dos Transportes aumentou enormemente”, disse. “Ele agora tem apenas algumas semanas para apresentar uma estratégia governamental há muito atrasada para as ferrovias e encontrar um novo presidente adequado.”

Schnieder afirmou que as diretrizes básicas do novo conceito do governo já foram acordadas, mas que ele levará o tempo para identificar um sucessor apropriado para a DB. Segundo ele, é preciso “rigor e diligência antes de velocidade”.

Enquanto isso, partes dos planos de renovação anunciado ainda na gestão Lutz estão em andamento, com projetos previstos para 40 conexões ferroviárias-chave em todo o país.

Atualmente, a rota entre as duas maiores cidades da Alemanha, Berlim e Hamburgo, está fechada devido a obras de reparo que devem durar vários meses.

jps (DW, ots)