23/06/2023 - 18:50
Líder de grupo mercenário, Yevgeny Prigozhin acusou generais de enganarem Putin e disse que não havia razão para invadir Ucrânia. Horas depois, ele acusou Exército da Rússia de atacar seus homens e prometeu retaliarYevgeny Prigozhin, fundador e líder do Grupo Wagner, organização mercenária ligada ao Kremlin que vem atuando na guerra na Ucrânia, lançou uma série de acusações contra os líderes militares russos nesta sexta-feira (23/06), afirmando que eles vêm enganando o presidente Vladimir Putin tanto sobre as razões da guerra quanto sobre a situação no front.
Um dos homens mais ricos e poderosos da Rússia, e que há meses vem criticando o alto-comando das Forças Armadas do seu país pela forma que a guerra vem sendo conduzida, Prigozhin também acusou os militares russos de atacarem seus homens e prometeu retaliar. Analistas apontam que o Grupo Wagner conta com pelo menos 50 mil homens atuando na Ucrânia – a maior parte deles recrutados em prisões da Rússia.
Ainda nesta sexta-feira, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia, o sucessor da antiga KGB, afirmou que abriu uma investigação contra Prigozhin por incitação a uma rebelião armada.
Em um primeiro vídeo publicado no Telegram nesta sexta, Prigozhin fez comentários inflamados contestando a narrativa oficial do Kremlin para iniciar a guerra contra Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro do ano passado.
Prigozhin alegou que o Ministério da Defesa da Rússia, comandando pelo general Sergei Shoigu, “está tentando enganar a sociedade e o presidente e nos dizer como houve uma agressão louca da Ucrânia e que eles planejavam nos atacar com toda a Otan”. O chefe do Grupo Wagner também se referiu à justificativa oficial do Kremlin para a guerra como uma “bela narrativa”.
“A operação especial foi iniciada por um motivo diferente”, disse Prigozhin, referindo-se à expressão usada pelo governo russo para se referir à guerra de agressão contra o país vizinho.
Prigozhin afirmou que o ataque à Ucrânia foi lançado para que Sergei Shoigu pudesse se tornar marechal e receber condecorações militares. O posto de marechal é o mais alto nas forças armadas russas, com apenas um ex-ministro da defesa tendo ascendido ao posto até hoje. Prigozhin também disse que a guerra não era necessária para “desmilitarizar ou desnazificar a Ucrânia”.
Ao lançar seu ataque contra a Ucrânia, Putin disse que a ação era necessária para expulsar “nazistas” da liderança do país vizinho, uma tentativa de apelar ao orgulho histórico da Rússia na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. No entanto, o argumento ignora que o presidente ucraniano Volodimir Zelenski é judeu.
Segundo o chefe do Grupo Wagner, a invasão também foi uma tentativa de se apoderar de “bens materiais” para que eles fossem divididos entre as elites russas. Apesar dos ataques de Prigozhin à liderança militar da Rússia, ele não criticou Putin explicitamente.
“Serão punidos”
Mais tade em outro vídeo, Prigozhin acusou o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”. As acusações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
“Realizaram ataques, ataques com mísseis, na retaguarda dos nossos acampamentos. Um número muito grande dos nossos combatentes foi morto”, disse Yevgeny Prigozhin numa mensagem de áudio transmitida pelo seu serviço de imprensa.
Prigozhin ainda garantiu ainda que irá retaliar por estes ataques que, de acordo com o líder do grupo Wagner, foram ordenados pelo ministro da Defesa russo.
A mensagem de Yevgeny Prigozhin foi acompanhada por vídeo com cerca de um minuto, onde se vê uma floresta destruída, alguns focos de incêndio e pelo menos o corpo de um militar.
Prigozhin também disse que o “mal” da liderança militar russa “deve ser interrompido” e afirmou ter 25 mil soldados prontos para lutar. “Aqueles que destruíram nossos rapazes, que destruíram a vida de muitas dezenas de milhares de soldados russos, serão punidos. Peço que ninguém ofereça resistência”, disse o chefe do grupo Wagner.
As acusações foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia. “As mensagens e vídeos publicados nas redes sociais por Prigozhin sobre alegados 'ataques do Ministério da Defesa da Rússia nas bases de retaguarda do grupo paramilitar Wagner' não correspondem à realidade e são uma provocação”, disse o ministério, em comunicado.
“Não há comando, não há sucessos militares”
Ainda nesta sexta, Prigozhin disse que o Exército da Rússia está recuando nas regiões ucranianas de Kherson e Zaporizhzhya e acusou o Ministério da Defesa russo de enganar Putin sobre a real situação do front. “As Forças Armadas ucranianas esmagam o Exército russo. Enquanto nos banhamos em sangue, ninguém envia reservas, não há comando”, disse Prigozhin em vídeo postado no Telegram. “Não há comando, não há sucessos militares, a direção do Ministério da Defesa engana completamente o presidente”, acrescentou.
No mesmo vídeo, o chefe do Wagner atacou abertamente o Ministério da Defesa russo e particularmente o ministro Sergei Shoigu, a quem descreveu como “um vovôzinho trêmulo” que deveria ser julgado pela morte de “dezenas de milhares de jovens”. “É uma operação planejada de forma medíocre”, declarou.
Segundo Prigozhin, a operação teria sido bem-sucedida se erros de planejamento muito graves não tivessem sido cometidos “ou soldados nus e descalços não tivessem sido enviados” para o front.
Sobre a situação atual, comentou que continuam as “mentiras soberanas” do Ministério da Defesa, e que a verdade virá à tona “quando esta escória perceber que perdeu um colossal pedaço de território e disser que se reagrupou em posições mais favoráveis”.
jps (DW, Lusa, EFE)