01/03/2009 - 0:00
Para grande parte dos animais, o olfato é o mais importante dos sentidos. Para os humanos, ele não é menos primordial. Sentir o cheiro das coisas é tão importante que somente nos damos conta disso quando nosso olfato, por alguma razão, desaparece. Na maioria das vezes esse processo é lento e a pessoa nem percebe que está perdendo um sentido tão importante.
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Ao se desconfiar disso, deve-se procurar o médico. Não há tratamento clínico específico, mas um treinamento para recuperação do olfato que ele pode prescrever. No exame clínico, o médico passa sob o nariz do paciente tiras de papel com cheiro e sem cheiro e pergunta quantos odores diferentes ele sentiu. Pelas respostas, constata se o paciente está sentindo bem ou mal os cheiros.
O olfato pode desaparecer por traumatismo craniano, tumores na cabeça, cirurgias no cérebro, inalação frequente de substâncias tóxicas e certas disfunções orgânicas que afetam o funcionamento dos órgãos sensoriais.
Uma equipe de especialistas franceses liderada por Thomas Hummel desenvolveu um treinamento em que o paciente cheira frascos com diferentes odores duas vezes por dia, de manhã e à noite, durante pelo menos quatro a seis semanas. Depois desse tempo, o olfato começa a voltar na maioria dos casos. Os que não melhoram são submetidos a um tratamento mais intenso na clínica, com várias sessões de múltiplos cheiros e testes repetidos à exaustão.
Este sentido tem uma particularidade que a visão e a audição não têm: ao contrário das células oculares e auditivas, as olfativas se regeneram. O treinamento estimula as células nervosas e o centro cerebral responsáveis pela transmissão e processamento da informação vinda das narinas. É por isso que nosso nariz pode ser treinado para detectar odores, como os de perfumes e bebidas, um trabalho muito bem remunerado nas grandes indústrias do setor.
O custo do tratamento resume-se ao médico e aos frasquinhos de vidro ou plástico contendo fitas de gaze com odores estimulantes. Às vezes, o olfato do paciente volta sem nenhum tratamento. Em 10% a 20% dos casos, a volta ocorre antes ou muito depois da média. Alguns casos são hereditários e não têm cura. Outros se devem à idade muito avançada e também não têm cura. No restante, a reabilitação se dá entre quatro e seis semanas.
Em 2004, os cientistas Richard Axel e Linda Buck ganharam o Prêmio Nobel de Medicina pelo trabalho sobre a organização do sistema olfativo.
O olfato é fundamental para a qualidade de vida. Sentir a fragrância das flores, o cheiro de sua comida predileta, o perfume da pessoa amada é parte essencial dos prazeres da vida. Sentir o cheiro do gás vazando do fogão ou do peixe que está se estragando é essencial à preservação dela. É pelo olfato que o bebê encontra o seio da mãe e é pelo cheiro da fumaça que fugimos do incêndio enquanto é tempo.
Mas, apesar de tão importante, pouco mais de 5% das pessoas não sentem cheiro nenhum. Sofrem de anosmia, um mal hereditário. E uma a cada quatro pessoas após os 60 anos também. Nessa idade, é importante prestar atenção não só à audição e à visão, mas ao olfato.
O cheiro vem sempre de um gás. Quando se está cozinhando, o cheiro que se sente é dos gases do alimento e dos temperos liberados pelo calor. Moléculas desses gases entram nas cavidades nasais e as células olfativas localizadas nas mucosas, dotadas de cílios minúsculos, absorvem as partículas de gás.Leia também “A construção do munfo através dos cinco sentidos”
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O nervo olfativo e o nervo trigêmeo levam a sensação ao centro cerebral responsável pelo olfato. O primeiro transporta os odores mais puros, enquanto o trigêmeo transmite mais as sensações desagradáveis, como os cheiros amargos e picantes – por exemplo, do amoníaco e das cebolas. No cérebro, as sensações são identificadas, classificadas e arquivadas.
É assim que sabemos que um determinado cheiro é de um alimento ou de outro, de uma flor ou de outra, do nosso marido ou da nossa mulher – ou de outros -, da roupa de cama limpa, do bolo de chocolate assando no forno, do cheiro do campo, do mar, do peixe estragado, do estrume do gado e outros.
O ser humano pode distinguir mais de 10 mil cheiros diferentes. Cada um dos cheiros tem sua própria representação em nosso cérebro, conforme a impressão que nos causou. A maioria dessas impressões é coletada quando temos entre 0 e 3 anos de idade, mas nunca paramos de aprender. E muitas são eminentemente pessoais: um cheiro pode ser de alguma coisa para um e de outra coisa para outro, pode evocar uma coisa boa para um e má para outro.
Este sentido tem uma particularidade que a visão e a audição não têm: ao contrário das células oculares e auditivas, as olfativas se regeneram.
Algumas pessoas perdem o olfato antes de surgirem doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. A perda do olfato é, com frequência, um aviso de mal de Parkinson. O tratamento depende da causa identificada. A retificação do septo nasal é um caso frequente,pois o desvio do septo é uma causa comum de perda do olfato.
Pólipos no nariz também provocam a perda de olfato e podem ser retirados por cirurgia. O diabete não tratado ou tratado inadequadamente também pode ocasionar a perda de olfato, e a recuperação virá com o tratamento efetivo do diabete. Uma gripe tem o mesmo efeito, e o olfato volta depois que é curada.
São raros os casos de anosmia por hereditariedade e quando ocorrem, em geral, afetam as mulheres. São comuns, porém, os casos em que a perda se deve a uma pancada na cabeça, por acidente, queda ou agressão. Uma pancada forte na parte de trás da cabeça repercute violentamente na parte da frente e pode romper o nervo olfativo, que fica logo atrás da testa.
Nos treinamentos de recuperação, pode-se fazer um programa para recuperar primeiramente o nervo trigêmeo e depois o olfativo. Nesse caso, o paciente receberá para cheirar recipientes contendo os cheiros mais fortes e desagradáveis, como os do amoníaco, da cebola e do alho.
As células reagem ao estímulo multiplicando- se e levando mais informação ao trigêmeo, que por sua vez é estimulado a funcionar mais ativamente. Nas sessões de treinamento, repetem-se 30 ou 40 vezes os mesmos exercícios. Entre uma sessão e outra, o paciente deve fazer exercícios em casa.
Há muitos casos em que a perda do gosto se deve à perda do olfato. A pessoa se queixa de que não sente mais o gosto de nenhum alimento e o problema não está nas células gustativas, mas nas olfativas.
O olfato está intimamente associado à degustação e é um fator dominante: sem o olfato, é impossível sentir o gosto real das coisas. O sabor de um abacaxi, por exemplo, depende da interação entre o gosto e o olfato. Sem o aroma, o abacaxi pode ser doce ou ácido, mas não é abacaxi. E assim com qualquer fruta, que será somente doce ou ácida se o olfato for suprimido.
Os centros cerebrais da emoção e da memória também atuam em conjunto com o do olfato. Por isso, certos cheiros evocam lembranças de fatos ocorridos há muito tempo em nossas vidas, ou coisas que até já esquecemos, mas ficaram em nosso subconsciente. E, como esses fatos deixaram impressões em nosso centro de emoções, certos cheiros despertam emoções boas ou ruins.
O olfato é , dos nossos sentidos, o mais antigo e o mais ligado às emoções. Quem não se lembra do cheirinho de pão assando no forno da vovó quando vai à padaria comprar pão para o café? E do próprio café, quando na fazenda de sua infância espalhavam os grãos pelo sequeiro e depois o levavam para torrar? Sem essas lembranças, evocadas por aromas fugidios e sutis, uma parte de nossa história é perdida para sempre. O sabor de momentos que gostaríamos de reter como parte de nossa intimidade se vai. Pessoas depressivas têm o olfato menos desenvolvido que pessoas não depressivas, segundo pesquisas realizadas pela psicóloga francesa Bettina Pause.
Não se sabe se isso é causa ou consequência, mas 75% dos pacientes que procuram a clínica de Thomas Hummel sofrem de alguma forma de depressão. Ainda não se sabe se ou quantos se curam da depressão depois de recuperarem o olfato. Mas que vale a pena recuperar o olfato perdido, ninguém duvida.