17/11/2025 - 8:27
Centro-direita é a grande perdedora, e conservadorismo radical foi que mais cresceu no Legislativo. Eleições presidenciais são as primeiras com voto obrigatório desde a democratização de 1990.O Chile terá o segundo turno das eleições presidenciais entre a candidata comunista Jeannette Jara e o ultradireitista José Antonio Kast. A candidata do presidente Gabriel Boric, que é ex-ministra do Trabalho e Previdência Social, obteve 26,8% dos votos no domingo (16/11), e seu adversário 23,9%.
A vantagem de Jara foi mais apertada do que o previsto pelas últimas pesquisas, que apontavam que ela obteria 30% dos votos. A grande perdedora da noite, entretanto, foi a centro-direita, cuja candidata Evelyn Matthei ficou em quinto lugar (13,47%) ao ser devorada por duas forças de ultradireita cada vez mais populares.
Kast já havia superado o candidato direitista Sebastián Sichel, ministro durante o governo de Sebastián Piñera, nas eleições de quatro anos atrás. A ultradireita não saía ganhadora do duelo contra a direita desde o retorno do Chile à democracia, em 1990 – e, agora, obtém importantes vitórias tanto na disputa pelo Executivo quanto pelo Legislativo.
O voto era obrigatório nestas eleições pela primeira vez desde a democratização pós-ditadura, o que levou quase 85% dos eleitores a comparecerem as urnas. Esta é considerada uma participação recorde na história das eleições presidenciais chilenas.
No pleito de 2021, quando não havia multa para quem não votasse, o comparecimento foi de 47,6%. A punição deste ano poderia chegar a 104 mil pesos chilenos (R$592).
Criminalidade em pauta
Apesar de o Chile ser considerado um dos países mais seguros na América Latina e no Caribe, o combate à criminalidade foi central na campanha eleitoral. Outros temas de destaque foram a preocupação dos chilenos com a imigração, a economia e o desemprego.
Na noite do primeiro turno, Kast subiu ao palco do seu quartel-general de campanha para proclamar uma “mudança radical” na segurança do país.
“Precisávamos de um candidato com mão firme para trazer crescimento econômico, atrair investimentos, criar empregos, fortalecer a polícia e dar-lhes apoio”, disse Ignacio Rojas, 20 anos, apoiador do ultradireitista. “O Chile não é mais seguro, e ele vai mudar isso.”
Kast defende o legado da ditadura militar (1973-1990) e uma agenda ultraconservadora em matéria de liberdades individuais. Ele também já se posicionou também contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O pleito acontece num contexto de grande desgaste político, marcado por sucessivas eleições desde a onda de protestos que tomou o país em 2019.
Desde a posse presidencial em 2022, vista como fruto do clima político instalado com as manifestações de dois anos antes, Boric viu a popularidade decrescer, pairando hoje em torno de 30%. O último pleito gerou também um Congresso altamente fragmentado e diverso, sem uma coalizão de maioria.
Instabilidade política
Já o deputado ultradireitista libertário Johannes Kaiser, que representa uma nova extrema direita mais dura e vociferante, obteve 13,9% dos votos. Tanto ele quanto Matthei, a candidata de centro-direita, já anunciaram que apoiarão Kast no segundo turno.
Para analistas ouvidos pela DW, os resultados demonstram a necessidade de a centro-direita renovar seus valores e propostas para se manter como força política, ao invés de se manter numa posição reativa aos sucessos de plataformas radicais. “O que se mobilizou nesta eleição tem muito mais a ver com uma contestação às elites, aos partidos tradicionais, como partidos que não fazem nada, que são egoístas”, disse a politóloga Claudia Heiss, da Universidade do Chile.
Desde 2006, o poder no Chile tem se alternado entre esquerda e direita, e nenhum presidente entregou a faixa presidencial a um sucessor do mesmo lado do espectro político. Se eleito, Kast seria o primeiro candidato de ultradireita a chegar ao Palácio La Moneda por votação popular.
“O Chile tem uma democracia saudável, uma democracia robusta que não podemos deixar de cuidar todos os dias”, disse Boric ao reagir ao resultado do primeiro turno.
Ultradireita no Legislativo
Os chilenos também elegeram toda a composição da Câmara dos Deputados (155 parlamentares), além de 23 de um total de 50 membros do Senado. A oposição fracassou na sua tentativa de ganhar controle sobre o Senado e o Parlamento, que continuam sem força majoritária, mesmo com uma fragmentação menos aguda do que a do mandato passado.
A ultradireita foi a força política que mais cresceu no Legislativo. No Senado, suas cadeiras passaram de uma a seis, e na Câmara de Deputados, de 15 a 42.
A Câmara Baixa ficou composta por 64 parlamentares progressistas e de esquerda, 76 de direita e 14 membros do partido do populista de direita Franco Parisi, que vota em ambos os lados a depender do projeto de lei.
Personagem político polêmico, Parisi surpreendeu ao ficar com o terceiro lugar nas eleições presidenciais, e ainda não está claro se ele apoiará Kast no segundo turno.
ht/cn (EFE, AP, ots)
