12/10/2025 - 12:47
Pequim diz que queixas do presidente americano sobre restrições à exportação de terras raras revelam “duplo padrão”. Governo chinês sinaliza retaliação, mas não impõe novas tarifas.A China classificou neste domingo (12/10) como “hipócritas” as últimas tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos chineses, e defendeu suas restrições à exportação de elementos de terras raras.
Em um comunicado, Pequim acusou os Estados Unidos de acirrar as tensões comerciais entre os países e ameaçou tomar medidas retaliatórias “firmes”. Até o momento, porém, não impôs novas tarifas sobre produtos americanos.
Nesta sexta-feira, Trump rompeu a trégua acordada com Pequim há seis meses, voltou a sobretaxar produtos chineses em 100% e impôs controles sobre exportação de softwares críticos à China.
A Casa Branca afirma que o governo chinês rompeu o acordo com os EUA ao expandir, na última semana, a lista de elementos de terras raras controlados para exportação. Os minerais críticos têm sido centrais nas tratativas tarifárias americanas com diversos países do mundo, incluindo o Brasil.
O movimento de Trump derrubou ações de grandes empresas de tecnologia, preocupando também companhias estrangeiras que dependem da produção chinesa de terras raras processadas e ímãs de terras raras. A expectativa é que a decisão possa reabrir a guerra comercial entre os países e volte a impactar o comércio internacional.
China defende controle sobre terras raras
A declaração do Ministério do Comércio da China neste domingo foi a primeira resposta direta ao anúncio repentino de Trump.
A pasta afirmou que seus controles de exportação sobre elementos de terras raras foram motivados por uma série de medidas tomadas pelos EUA desde negociações bilaterais com a China ocorridas em setembro. Pequim citou o veto a empresas chinesas em uma lista comercial americana e a imposição de taxas portuárias sobre navios ligados à China como exemplos.
“As ações dos EUA prejudicaram gravemente os interesses da China e minaram o ambiente das negociações econômicas e comerciais bilaterais, e a China se opõe resolutamente a elas”, disse o ministério.
Pequim evitou conectar explicitamente as ações americanas à sua decisão de ampliar o controle sobre terras raras. Em cartas enviadas a diversos países, Pequim incluiu cinco novos minerais críticos e dezenas de tecnologias de refino em sua lista de controle de exportações. Novas restrições sobre materiais usados para baterias também entrarão em vigor.
Segundo o governo chinês, as medidas foram motivadas por preocupações com aplicações militares desses materiais em tempos de “conflitos militares frequentes”. As restrições não miram especificamente os EUA, mas impactam diretamente sua indústria nacional, principalmente a produção de veículos elétricos.
Diferente da escalada observada no início do ano, porém, a China se absteve de anunciar tarifas correspondentes sobre importações americanas. Até o momento, apenas reproduziu as taxas portuárias sobre navios ligados aos EUA.
China nega proibição de exportação
O ministério do comércio chinês também rebateu a acusação de Trump de que a China estaria usando seu monopólio em terras raras processadas e ímãs de terras raras como arma estratégica.
A China produz mais de 90% destes minerais em todo o mundo. Os 17 elementos de terras raras são materiais vitais em produtos que vão de veículos elétricos a motores de aeronaves e radares militares.
Agora, as exportações de 12 deles estão restritas, mas, segundo a China, isso não leva à proibição de vendas para o exterior.
“Os controles de exportação da China não são proibições de exportação”, disse. “Qualquer solicitação de exportação para uso civil que esteja em conformidade com os regulamentos será aprovada, e as empresas relevantes não precisam se preocupar.”
Nova rodada de negociação ou rompimento definitivo?
A decisão da China de não responder imediatamente às tarifas de Trump pode abrir espaço para negociações de desescalada, segundo analistas.
“Ao esclarecer a lógica por trás de suas medidas retaliatórias, Pequim também delineia um possível caminho para negociações”, disse Alfredo Montufar-Helu, diretor da consultoria estratégica GreenPoint.
Mas a empresa de pesquisas Hutong Research afirmou que, se Pequim optar por não retaliar o aumento tarifário de 100%, isso pode indicar que não prioriza mais um acordo de longo prazo.
A tensão poderia colocar em risco a venda do TikTok, por exemplo, dado seu simbolismo político, disse a empresa de pesquisa.
Outras ferramentas disponíveis no arsenal retaliatório de Pequim incluem ações regulatórias contra empresas americanas. A Administração Estatal de Regulação de Mercado da China afirmou no mês passado que a fabricante americana de chips Nvidia violou a lei antimonopólio do país durante as negociações comerciais.
Na sexta-feira, o órgão regulador também anunciou uma investigação antitruste contra a fabricante americana de chips Qualcomm por sua aquisição da israelense Autotalks em junho de 2025
gq (Reuters, DPA)