Cerca de 30 pastores e membros de uma das maiores igrejas não oficiais do país foram presos. A ação é vista como um endurecimento do escrutínio religioso promovido por Xi Jinping.O governo do presidente chinês Xi Jinping vem impondo uma nova onda de escrutínio a igrejas cristãs não registradas no país, endurecendo a fiscalização a congregações tomadas como clandestinas pelo Partido Comunista da China.

No início do mês, 30 pastores e membros da Igreja Zion, uma das maiores congregações evangélicas na China,foram presos em pelo menos sete províncias. Seu fundador, Jin Mingri, está entre os detidos.

A liberdade religiosa é permitida na China, mas sua legislação só autoriza o culto cristão em igrejas afiliadas a instituições controladas pelo governo. Atualmente, apenas dois grupos são reconhecidos oficialmente: a Associação Patriótica Católica da China e o Movimento Patriótico das Três Autonomias.

“Alguns [policiais] quebraram fechaduras e portas, enquanto outros cortaram a energia e fingiram ser eletricistas, batendo nas portas antes de arrombá-las”, conta Bob Fu, pastor chinês e fundador do grupo religioso ChinaAid, sediado nos EUA, que monitora casos de perseguição a cristãos na China.

A maioria dos presos enfrenta acusações de “disseminação ilegal de conteúdo religioso online”, já que a igreja passou a adotar cultos virtuais em 2018 e, desde então, expandiu sua base de fiéias para pelo menos 10 mil pessoas em 40 cidades.

Pressão Internacional

Em uma publicação no X, o comissário alemão para a liberdade de religião e crença, Thomas Rachel, condenou “a violação da liberdade religiosa” e pediu a libertação de todos os membros da igreja.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também exigiu a libertação imediata dos detidos. “Essa repressão demonstra ainda mais como o Partido Comunista Chinês hostiliza cristãos que rejeitam a interferência do partido em sua fé e optam pela prática de cultos em igrejas domésticas não registradas”, disse Rubio.

O ministério das Relações Exteriores da China rejeitou as críticas. A pasta afirma que Pequim regula os assuntos religiosos de acordo com a lei e protege a liberdade de crença dos cidadãos.

O porta-voz do ministério, Lin Jian, disse ainda que os Estados Unidos não devem interferir nos assuntos internos de Pequim.

Segundo Fu, da ChinaAid, 23 membros da Igreja Zion permanecem detidos, e oito foram autorizados a falar com seus advogados – uma medida que ele vê como rara.

“O PCC fez uma concessão desta vez”, disse Fu, que é amigo do fundador da Igreja Zion, Jin Mingri. “Como os detidos são considerados presos políticos, permitir que eles se encontrassem com seus advogados durante o período de investigação criminal seria impensável no passado.”

Xi intensifica controle sobre o cristianismo

Segundo a organização cristã Global Christian Relief, a China abriga o maior número de cristãos perseguidos no mundo. O grupo considera que a liberdade religiosa se deteriorou sob o governo Xi.

Apesar de proibidas pela legislação, organizações religiosas “clandestinas” são normalmente toleradas, ainda que sofram pressão para se registrarem formalmente, diz a Global Christian Relief.

Na última década, no entanto, Xi vem enfatizando a chamada “sinização” da religião, com o objetivo de alinhar grupos religiosos aos princípios do Partido Comunista Chinês. Em 2018, seu governo executou a demolição de diversas igrejas e símbolos cristãos.

Mirro Ren, uma cristã chinesa exilada que hoje vive nos EUA, disse à DW que observou um aumento recente nas batidas policiais contra “igrejas domésticas” independentes e não registradas na China. “Vi muitos membros serem presos um após o outro nos últimos anos, mas nunca nessa escala”, disse Ren. “Desta vez, parece diferente.”

Ren foi membro da Early Rain Covenant Church, uma igreja doméstica da cidade de Chengdu, no sudoeste da China, cujo pastor foi preso em 2018 e condenado a nove anos de prisão.

Ela entende que que a exigência de registro às congregações é uma ferramenta política para as autoridades exercerem maior controle sobre as crenças das pessoas.

Fu também acredita que a perseguição ocorre porque as autoridades tomam o culto cristão como “ameaça política e ideológica”.

Medo e resiliência nas igrejas domésticas da China

De acordo com dados oficiais chineses citados pelo Pew Research, apenas 2% da população da China, entre 29 e 44 milhões de pessoas, são cristãs. Mas os números provavelmente excluem membros de igrejas clandestinas.

Muitos estudiosos religiosos estimam que o número real de cristãos chineses passe de uma centena de milhões.

Para Fu, embora a prisão de líderes cristãos tenha causado medo, muitos estão acostumados à vida religiosa sob vigilância .

“A maioria dos fiéis está ciente de que isso pode acontecer mais cedo ou mais tarde […]. Até mesmo planos de sucessão dentro da liderança da igreja já foram preparados”, disse.