Implante pode, junto com óculos especiais, recuperar pacientes com degeneração macular, uma das principais causas de perda de visão em idosos. Estudo mostra melhora em mais de 80% dos casos.Restaurar a visão – ou pelo menos melhorá-la – pode em breve ser possível para quem sofre de degeneração macular. A esperança está em um novo sistema que consiste num pequeno chip e óculos especiais.

Juntos, chip e óculos se mostraram eficazes no tratamento de um tipo de doença ocular conhecida como Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI).

Após um ano de monitoramento, mais de 80% dos pacientes em centros de estudo nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Itália apresentaram melhora significativa na visão central.

Com o implante, os pacientes conseguiram ler números e palavras em casa e melhoraram sua capacidade de leitura em 25 letras – ou cinco linhas – em uma tabela padrão de exame oftalmológico.

A maioria dos participantes, com mais de 50 anos de idade, teve a visão melhorada para cerca da metade da acuidade visual padrão de 20/20 – ou o nível de detalhes que um indivíduo médio consegue enxergar a uma distância de 6 metros.

“É a primeira vez que ficou demonstrado que a visão pode ser restaurada em uma área da retina cega que é importante para a vida cotidiana”, disse Frank Holz, líder do estudo e chefe do departamento de oftalmologia da Universidade de Bonn, à DW.

À medida que algumas pessoas envelhecem, a mácula – parte da retina responsável pela visão central – pode se deteriorar, levando inicialmente ao embaçamento da visão e, depois, à degeneração progressiva.

A degeneração macular atrófica relacionada à idade (DMRI atrófica) é uma das principais causas de perda de visão em idosos, afetando pelo menos 5 milhões de pessoas em todo o mundo.

Implante é esperança para quem tem DMRI atrófica

Um olho saudável “enxerga” ao receber luz do mundo exterior e convertê-la em sinais elétricos que são enviados ao cérebro pelo nervo óptico para interpretação. A degeneração macular reduz a capacidade do olho de realizar esse processo.

A solução de implantar na retina um chip do tamanho da cabeça de um alfinete capaz de compensar essa deterioração inspirou Daniel Palanker, oftalmologista da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Para o desenvolvimento da tecnologia, ele colaborou com um especialista em visão, o francês Jose-Alain Sahel, da Escola de Medicina de Pittsburgh. A ideia era criar um implante que eliminasse a necessidade de fios sob a pele.

Mas o chip é apenas uma parte do que eles chamam de sistema Prima.

A outra parte consiste em um conjunto especial de óculos. Eles utilizam uma câmera acoplada para transmitir dados visuais ao implante, que envia essas informações a um processador portátil para aprimoramento e, em seguida, recebe as imagens com qualidade melhorada de volta.

As imagens são convertidas em impulsos elétricos, utilizando as células remanescentes da retina para enviar as informações ao cérebro.

“É necessário, especialmente nessa doença, que o biocomputador, por assim dizer, a fiação [biológica] anterior ao chip, ainda esteja presente”, disse Holz, referindo-se às células do olho que ainda funcionam.

“Se todas as células da retina estão mortas, o chip não funciona. [O implante] apenas substitui os fotorreceptores e basicamente traduz a luz em estímulos elétricos, que é o que a natureza faz no olho por meio da retina.”

Resultado de colaboração

Tanto Sahel, em Pittsburgh, quanto Palanker, em Stanford, estavam trabalhando em tecnologias distintas para resolver o mesmo problema quando se conheceram em uma conferência em 2012.

Foi então que eles decidiram unir esforços para desenvolver o implante, começando com estudos menores com alguns pacientes e depois evoluindo para o ensaio mais recente, que envolveu mais de 30 pessoas.

Em 2024, porém, o estudo atual quase teve que ser interrompido por causa da falência da empresa responsável pelo desenvolvimento do Prima.

“Lembro vividamente daqueles dias, não muito distantes, em que tudo estava prestes a ruir justamente quando o estudo estava quase concluído”, recorda Sahel em entrevista à DW. “Poderia ter acontecido de termos um produto funcional e não haver forma de fazê-lo chegar às pessoas.”

Entretanto, a empresa desenvolvedora acabou sendo adquirida pela americana Science Corporation, que assumiu a produção e atualmente busca aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência dos Estados Unidos equivalente à Anvisa no Brasil, para uso como terapia médica nos Estados Unidos, além da certificação CE para uso na Europa.

Ao realizar o estudo em vários países e locais diferentes, a equipe espera conseguir aprovação em ambas as regiões.

“Queremos demonstrar que a tecnologia não está limitada a um ou dois cirurgiões altamente especializados”, disse Sahel à DW. “E que pacientes de diferentes perfis também podem se beneficiar dela.”

É um critério essencial para os órgãos reguladores que os pesquisadores comprovem que operações complexas como essa implantação podem ser realizadas com sucesso por cirurgiões oftalmológicos. Embora alguns efeitos adversos tenham sido relatados por alguns pacientes, eles desapareceram até o final do período de estudo de 12 meses.

“Demonstrar que houve consistência nos resultados em 13 locais diferentes e com diferentes cirurgiões permite ampliar o acesso a mais centros e pacientes”, afirmou Sahel.

Implantação do chip: uma cirurgia complexa

Sahel e Holz destacaram que há limitações na nova tecnologia. Embora a implantação do chip já tenha sido realizada com sucesso por diversos cirurgiões ao redor do mundo, eles disseram à DW que não se trata de uma operação simples.

“Trata-se de uma cirurgia muito complexa, que requer uma boa capacitação”, afirmou Sahel.

Outro desafio está no próprio paciente. Existem barreiras logísticas que podem afetar a adequação ao tratamento, como a capacidade de visitar repetidamente uma clínica para reabilitação pós-cirúrgica e de contar com apoio em casa durante esse período.

Holz explica que quem recebe o implante precisa estar disposto a passar por avaliações contínuas após a cirurgia, além da necessidade de passar por um treinamento para usar a câmera e o processador, a fim de utilizar o implante com sucesso.

Atualmente, o programa de reabilitação leva cerca de 12 meses.