A formação de um ciclone subtropical no litoral do Sudeste e Sul brasileiro nas úlimas semanas trouxe à tona a necessidade de compreender melhor os sistemas atmosféricos que impactam o clima do País. Apesar da diversidade de nomes que circulam na mídia e no imaginário popular – ciclone, furacão e tufão – , a essência dos fenômenos é a mesma: tratam-se de ciclones tropicais bem desenvolvidos.

As distinções, como explica o meteorologista Guilherme Borges, do Climatempo, são puramente geográficas. “Todos são ciclones tropicais, o que muda é onde acontece,” afirma. O termo ciclone é o mais genérico e técnico, definindo qualquer sistema atmosférico com um centro de baixa pressão e circulação de ventos fechada.

Segundo ele, a aparição desses fenômenos é comum, podendo trazer chuvas volumosas e ventos intensos. O ciclone começou a atuar por volta do final de novembro e provocou destruição em Santa Catarina, especialmente na região do Médio Vale do Itajaí e no Litoral Norte do estado.

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Entenda de vez as nomenclaturas

Ciclone Tropical: É o termo guarda-chuva para sistemas que se formam sobre águas tropicais ou subtropicais e extraem sua energia da água quente do oceano (acima de 26,5ºC). Furacões e tufões são subtipos de ciclones tropicais. No uso específico (não genérico), é o nome dado aos fenômenos que se formam no Oceano Índico e no Pacífico Sul.

Ciclone Extratropical: Diferente do tropical, este sistema de baixa pressão se forma em médias e altas latitudes (comuns no Sul do Brasil). São alimentados pelo contraste de temperatura entre massas de ar (sistemas de “núcleo frio”) e estão frequentemente associados a frentes frias.

Ciclone Subtropical: São reconhecidos como sistemas de “núcleo quente”. Um pouco menores e mais quentes do que os extratropicais.

Furacão: Nome regional para Ciclones Tropicais que se formam no Oceano Atlântico Norte, Mar do Caribe, Golfo do México ou no leste do Oceano Pacífico Norte (região das Américas).

Tufão: Nome regional para Ciclones Tropicais que se formam no noroeste do Oceano Pacífico (região da Ásia, como Japão e sul da Ásia).

Tornado: Ao contrário dos ciclones, os tornados não são sistemas de pressão de grande escala e surgem como consequência de outros fenômenos. Se formam sobre o continente, em ambientes muito quentes e úmidos, e podem aparecer tanto durante a passagem de furacões e tufões quanto a partir de ciclones extratropicais mais intensos. São fenômenos de vida curta – muitas vezes duram apenas alguns minutos – e atingem áreas pequenas, mas com ventos com alto poder destrutivo.

“Todos, seja furacão, tufão, são ciclones tropicais, apenas com nomes diferentes por região,” resume Borges.

O Ciclone no Sudeste: Subtropical

O fenômeno que se formou no litoral do Sudeste recentemente é classificado como ciclone subtropical. Segundo o meteorologista, este é um sistema que se forma com “uma característica que não tem frente fria” e costuma ser mais fraco que o tropical. Ele explica que sistemas subtropicais “se formam até com bastante frequência” no Atlântico Sul, podendo, às vezes, migrar e se tornar extratropicais. A principal diferença com o extratropical, que é mais comum no Brasil, é a ausência de frentes frias associadas ao sistema subtropical.

Nas últimas semanas, o Sul do País também registrou cenas de destruição ligadas a tempestades severas, quando um ciclone extratropical atuou na região e favoreceu a formação de vendavais, granizo e nuvens rotativas. Embora tenham circulado relatos de “tornados”, especialistas explicam que a maior parte desses eventos está associada às tempestades intensificadas pelo ciclone, que cria um ambiente propício para rajadas muito fortes e, em alguns casos, para a formação de tornados isolados. Diferentemente de ciclones tropicais, esses fenômenos são localizados e de curta duração, mas podem causar danos significativos em poucos minutos.

Apesar das diferentes denominações regionais, os parâmetros para definir a intensidade de um ciclone são os mesmos globalmente.

A intensidade é definida pela velocidade dos ventos sustentados, sendo a Saffir-Simpson, dos Estados Unidos, a escala mais utilizada. Ela categoriza os ventos de 1 a 5. “Basicamente, a medição é feita por ventos sustentados e pressão mínima, mas a mais utilizada hoje para definição em questão de ventos sustentados é a Saffir-Simpson, dos Estados Unidos,” explica Borges. “Então, quanto maior o vento sustentado, mais forte o ciclone.

Este critério de intensidade também esclarece o caso do Ciclone Catarina, que atingiu Santa Catarina em 2004. Embora se tratasse de um ciclone tropical, e não um furacão (pelo critério de localização), ele possuía ventos sustentados equivalentes a um furacão de categoria 1.

“Ele foi classificado posteriormente ao evento como ‘ciclone tropical de intensidade de furacão. Então ele não deveria ter se chamado de furacão, pelo critério de localização, mas sim pela intensidade,” pontua o especialista.

Mudanças climáticas tornam fenômenos mais intensos, não frequentes

Ao destacar a grande variabilidade climática, o meteorologista explicou à revista Planeta que o aquecimento da Terra tem um impacto direto na força dos sistemas.

“A gente vive num planeta composto 70% por água. Quanto mais quente ele estiver, mais força os sistemas meteorológicos vão ter,” diz.

Para o meteorologista, no entanto, a literatura científica não aponta uma correlação direta com o aumento da frequência. Em vez disso, a tendência é a de sistemas mais intensos, com frentes frias e ondas de calor “mais potentes” e “com mais energia,” o que significa maior potencial de impacto. A frequência e a intensidade das passagens, por sua vez, continuam sendo “muito moduladas pela configuração oceânica.”

* Estagiária sob supervisão