O Climatempo apontou a formação de um possível ciclone extratropical próximo à costa do Sudeste, que intensificou as chuvas em algumas regiões do país nesta sexta-feira, 25. Áreas de instabilidade começaram a aparecer ainda na última quarta-feira, 23, mas, felizmente, não apresentam riscos extremos para as terras brasileiras.

Apesar de ser mais incomum do que em outras regiões do globo, a presença de ciclones no Brasil não é novidade. O país enfrentou esse fenômeno de forma massiva nos últimos anos, especialmente na região Sul.

Em junho de 2023, um ciclone extratropical atingiu os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Na época, foi considerado o maior desastre natural das últimas quatro décadas no estado. No RS, 16 pessoas morreram em decorrência do evento e das fortes chuvas.

No mês seguinte, os estados passaram novamente pela problemática dos ciclones, que dessa vez atingiu em cheio o litoral do Rio Grande do Sul, com ventos a mais de 100 km/h e granizo. Diversos cidadãos do RS e do interior de São Paulo perderam a vida, incluindo uma idosa que foi eletrocutada por fios derrubados pela queda de árvores. Além de deixar mais de um milhão de sulistas sem energia elétrica, os eventos climáticos de julho de 2023 obrigaram diferentes aeroportos do Brasil a suspender os voos.

Ainda em 2023, em setembro, mais um ciclone extratropical afetou as terras brasileiras. A tempestade proporcionou chuvas e ventos fortíssimos, que causaram 47 mortes, 924 feridos e acumularam danos de 1,3 bilhões de reais.

Já em outubro de 2024, um outro furacão tropical resultou em tempestades intensas. Mais de 51 municípios do RS foram afetados, além de somar diversos feridos.

Como os ciclones são formados?

Os ciclones são sistemas atmosféricos caracterizados por uma área de baixa pressão, onde os ventos giram no sentido horário no Hemisfério Sul. Embora sua ocorrência sobre o oceano seja bastante usual, os maiores impactos costumam ser sentidos quando esses sistemas se formam próximo ao continente.

Segundo Kerollyn Andrzejewski, meteorologista da Tempo OK, os ciclones mais frequentes no Brasil são os extratropicais, geralmente associados à passagem de frentes frias. “Uma das principais características desse tipo de ciclone é o núcleo frio – ou seja, o centro da baixa pressão apresenta temperaturas inferiores às do ambiente ao redor”, explicou.

Além dos extratropicais, existem também os ciclones tropicais e subtropicais. Os tropicais são os mais intensos: possuem um núcleo quente e não estão ligados a frentes frias. Eles se formam, em geral, entre as latitudes de 20° Sul e 20° Norte e recebem nomes diferentes conforme a região – como furacões ou tufões.

Já os ciclones subtropicais apresentam uma combinação de características dos sistemas tropicais e extratropicais. São mais comuns entre o litoral do Sudeste e da Bahia, especialmente durante a primavera. Costumam ser menos intensos, nem sempre estão associados a frentes frias, mas ainda assim podem provocar chuvas volumosas.

Por que os ciclones estão mais frequentes?

De acordo com Kerollyn, os ciclones sempre foram comuns no Brasil – tanto que as frentes frias, que estão associadas aos sistemas, sempre atingiram regiões brasileiras. O que poderia explicar a maior incidência desses eventos nos últimos tempos são as mudanças climáticas.

“O que temos atualmente é uma maior ocorrência de eventos extremos, eventos esses que são provocados por ciclones e frentes frias, mas que também podem ser períodos longos de seca e até mesmo ondas de calor”, disse.

Já para o meteorologista do Climatempo Guilherme Borges, o que pode estar acontecendo é um aumento na visibilidade desses eventos, tanto pela melhora dos modelos e sistemas de monitoramento quanto pela maior cobertura da imprensa.

“Do ponto de vista científico, ainda não há consenso sobre um aumento da frequência de ciclones extratropicais no Brasil. Alguns estudos investigam possíveis mudanças na intensidade, na trajetória ou nos impactos associados a esses sistemas, especialmente em contextos de aquecimento das águas oceânicas ou alterações nos padrões de circulação atmosférica”, pontuou.

Vale lembrar que o que costuma provocar chuva e ventos fortes nesses casos não é o centro do ciclone em si, mas a configuração do sistema, especialmente quando há uma frente fria associada.

“Os ciclones extratropicais se formam no oceano, geralmente afastados da costa, e não ‘passam por cima’ do Brasil. O que sentimos em terra são os efeitos indiretos, como chuva, vento e mudanças de temperatura provocados pelo avanço da frente fria conectada ao sistema”, esclareceu Guilherme.

Riscos e prevenção

Mesmo quando não são intensos, os ciclones extratropicais podem causar transtornos devido à combinação com frentes frias, resultando em chuvas volumosas, ventos fortes, queda de temperatura e ressacas no litoral.

Devido a isso, as medidas preventivas mais eficazes incluem:

-Acompanhamento frequente dos boletins meteorológicos e alertas da Defesa Civil,

-Evitar áreas de encosta e alagamento,

-Reforçar estruturas como telhados em locais vulneráveis ao vento,

-Redobrar o cuidado com o mar durante ressacas

Além disso, em situações como essa, é fundamental que a população acompanhe os alertas emitidos por órgãos oficiais e busque sempre informações sobre a previsão do tempo em fontes confiáveis. Estar bem informado permite tomar decisões mais seguras, como evitar áreas abertas, encostas e regiões com histórico de deslizamentos ou alagamentos.

Já para quem está ao volante, a atenção deve ser redobrada, já que a visibilidade pode estar reduzida e as pistas escorregadias aumentam o risco de acidentes.