02/07/2024 - 11:38
Cientistas sul-africanos injetaram radioisótopos nos chifres de 20 rinocerontes a fim de facilitar uma detecção desse material nos postos fronteiriços. Desse modo esperam coibir a caça furtiva, que está dizimando os animais protegidos.
A África do Sul abriga cerca de 80% da população mundial de rinocerontes-brancos, cujo total não chega a 17 mil espécimes. O país é alvo contínuo da caça ilegal impulsionada pela demanda da Ásia, onde se crê que os chifres possuem propriedades terapêuticas ou afrodisíacas.
Em fevereiro, o governo admitiu que, apesar de seus esforços de preservação, em 2023 foram mortos 499 animais, a maioria nos parques nacionais, um acréscimo de 11% em relação ao ano anterior.
Como diz James Larki, pesquisador da Universidade de Witwatersrand, “a cada 20 horas um rinoceronte morre na África do Sul por causa do seu chifre.” No Orfanato de Rinocerontes de Mokopane, na província de Limpopo, o iniciador do projeto Rhisotope cuida de alguns exemplares mais jovens. Encarregado de implantar os dois chips radioativos nos chifres, ele assegura que o processo não é doloroso.
Na onda do combate ao terrorismo nuclear
A cientista Nithaya Chetty, decana de ciências da mesma universidade, explica que o material radioativo “torna o chifre inútil e essencialmente tóxico para o consumo humano”. Por outro lado, a dose radioativa é calculada para não afetar a saúde dos paquidermes ou de seu entorno.
O Rhisotope se aproveita das medidas globais de prevenção do terrorismo nuclear: além dos milhares de detectores de radiatividade em portos e aeroportos de todo o mundo, os agentes de fronteira costumam dispor de aparelhos de detecção portáteis.
No mercado negro, o preço dos chifres compete com o do ouro ou da cocaína. Por isso, nem descornar (serrar) nem envenenar os chifres tem dissuadido os caçadores furtivos, relata Arrie van Deventer, fundador do orfanato para elefantes brancos: “Quem sabe, isso acabe com a caça furtiva. É a melhor ideia que já ouvi.”
A última fase do projeto consiste em monitorar a saúde dos animais, tirando amostras de sangue para assegurar que estão seguros. Também porque os radioisótopos permanecem cinco anos nos chifres tratados, o processo resulta menos custoso do que descornar os animais a cada 18 meses.
(AFP, AP, ots)