19/05/2025 - 18:00
Estudiosos da renomada Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conseguiram criar um reator que transforma dióxido de carbono (CO2) do ar em combustível limpo. Publicada na revista Nature Energy, a pesquisa detalha o dispositivo que recolhe dióxido durante a noite para, de dia, convertê-lo em “syngas”.
Syngas é o nome dado ao gás de síntese – uma substância usada como matéria-prima para diferentes aplicações. Ele pode, por exemplo, servir como combustível e usado para concepção de outros recursos energéticos.
Por meio de energia solar, a máquina dispõe de filtros para absorver o CO2, que fica retido. Quando o dia amanhece e o sol nasce, o calor aquece o dióxido de modo que ele absorva a radiação infravermelha. Junto a um pó semicondutor que capta a radiação ultravioleta, a matéria inicia uma reação química que origina o syngas.
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O processo funciona sem combustíveis fósseis, cabos ou baterias, além de não necessitar de transporte. Outra característica que destaca o reator de maneira positiva é que o método funciona numa lógica circular: o CO2 absorvido é transformado em combustível – que, depois de utilizado, solta dióxido para a atmosfera novamente.
“Na captura de carbono tradicional, geralmente o CO2 é transportado e armazenado no subsolo, o que não resolve a questão de como vamos obter nossos combustíveis de forma sustentável”, explicou Sayan Kar, pesquisador do departamento de química da Universidade de Cambridge e principal autor do artigo da Nature Energy ao UOL.
O estudo ainda precisa de mais investigação, mas o passo inaugural é converter syngas em metanol. Como meta futura, os pesquisadores ainda esperam conseguir a produção de combustíveis líquidos, que poderão suprir carros e aeronaves.
A geração do metanol também ilumina a possibilidade de uso no âmbito farmacêutico: a substância atua como reagente na produção de moléculas e, se atingir bons ritmos de produtividade, pode impulsionar o comércio de fármacos.
Obstáculos
Apesar das boas perspectivas, o método ainda precisa ultrapassar alguns obstáculos para que seja integrado pelo mercado. O desafio primário é o preço, que soma um valor significativamente maior que os processos convencionais.
“Estamos analisando formas de baratear a obtenção do metanol”, ressaltou Kar.
Outra questão é relacionada com a capacidade produtiva desse novo dispositivo. Os cientistas esperam que se o reator consiga trabalhar em larga escala, o que ofereceria ai planeta Terra múltiplos benefícios. Além de retirar o CO2 da atmosfera, o dispositivo resolveria a problemática dos combustíveis fósseis poluentes, que hoje são a principal fonte de energia reproduzida em larga proporção.
A estimativa é que 15% do esforço necessário para zerar as emissões poluentes do setor energético até 2070 seja relativo à captura, retenção e utilização do carbono. O resto do empenho é distribuído entre medidas mais básicas como adoção de biocombustíveis, reduções de consumo, eletrificação, etc.