19/05/2023 - 19:31
Segurar uma pedra de gelo ou queimar a mão ao cozinhar não são sensações agradáveis para alguém com pleno funcionamento do corpo, mas para pessoas amputadas, a mera capacidade de sentir a temperatura de um objeto pode ativar boas lembranças e aumentar a sensação de pertencimento.
“Quando encontro alguém e aperto sua mão, espero sentir calor“, conta Fabrizio Fidati, que perdeu sua mão direita há 25 anos.
É para que o desejo de Fabrizio se torne realidade que uma equipe de neuroengenharia da Escola Politécnica Federal de Lausana (EPFL) está trabalhando em uma tecnologia que pode revolucionar a maneira como pessoas amputadas interagem com o ambiente.
Nos testes, pacientes com as mãos/braços amputados foram equipados com eletrodos térmicos capazes de promover sensações de frio e calor em seus “membros fantasma”
A Síndrome do Membro Fantasma é uma condição neurofisiológica que afeta pessoas amputadas. Geralmente essas pessoas queixam-se de dor no membro já perdido, uma “dor fantasma” em uma parte do corpo que já não está mais ali.
Seja a sensação de enfiar as mãos em um balde d’água bem gelado ou o conforto de esquentá-las em uma fogueira: tudo passa pelo nosso cérebro. Esses eletrodos são capazes de estimular as áreas certas e oferecer uma experiência tátil extremamente fiel.
Com esse avanço, Fabrizio se aproximou de seu desejo. “A primeira vez que participei do experimento, senti como se tivesse redescoberto a sensação da minha mão fantasma”, contou.
Além da sensação de calor e frio, os participantes também conseguiram diferenciar a textura de materiais, como vidro, plástico e cobre. Pelo menos 17 dos 27 voluntários confirmaram que o experimento foi bem sucedido.
“Queremos dar às pessoas uma melhor sensação de personificação de suas mãos e talvez até dar a elas a possibilidade de interagir com seus entes queridos de uma forma muito mais natural”, disse o cientista e co-autor do estudo, Solaiman Shokur.
A voluntária Francesca Rossi, que já era capaz de sentir formigamentos em sua lesão, explica: “Sentir a variação de temperatura é uma coisa diferente, algo importante… algo bonito.”
A tecnologia não requer intervenção cirúrgica e já está em testes há pelo menos 2 anos.