Pesquisadores franceses anunciaram em novembro, a detecção do que seriam sons de relâmpagos na superfície de Marte, captados pelo robô Perseverance, da Nasa. As gravações foram feitas por um microfone instalado no veículo explorador e indicam a ocorrência de descargas elétricas no solo marciano.

Segundo os cientistas, foram registradas 55 ocorrências de “mini relâmpagos” ao longo de dois anos marcianos, concentradas principalmente durante tempestades e redemoinhos de poeira. Quase todos os episódios aconteceram nos dias mais ventosos do planeta, associados a esses fenômenos atmosféricos.

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As descargas elétricas teriam ocorrido a menos de dois metros do microfone, que fica no topo do mastro elevado do rover, estrutura utilizada para examinar rochas marcianas com câmeras e lasers. Nas gravações, é possível ouvir faíscas semelhantes às observadas na Terra, misturadas ao som de rajadas de vento e do impacto de partículas de poeira no equipamento.

A descoberta foi anunciada por um grupo de cientistas franceses que, há cerca de 50 anos, busca evidências de atividades elétricas e relâmpagos em Marte. A informação foi confirmada pelo principal autor do estudo, Baptiste Chide, do Instituto de Pesquisa em Astrofísica e Planetologia de Toulouse. “Isso abre um campo de investigação completamente novo para a ciência de Marte. É como encontrar uma peça que faltava no quebra-cabeça”.

Apesar do entusiasmo, especialistas que não participaram da pesquisa pedem cautela. Daniel Mitchard, da Universidade de Cardiff ressaltou que ainda são necessárias observações, especialmente pelo fato de os relâmpagos terem sido detectados por meio do som, e não visualmente.

Confira

A existência de raios em outros planetas já foi confirmada em Júpiter e Saturno. Em Marte, a possibilidade era discutida há décadas, mas até então não havia provas concretas. Para chegar aos resultados atuais, a equipe francesa analisou cerca de 28 horas de gravações do Perseverance, identificando episódios de “mini relâmpagos” com base em sinais acústicos e elétricos.

De acordo com os pesquisadores, as descargas geradas por redemoinhos de poeira ocorrem enquanto essas estruturas se deslocam rapidamente e duram apenas alguns segundos. Já as associadas a tempestades de poeira podem se estender por até 30 minutos. “É como uma tempestade na Terra, mas quase invisível a olho nu e com muitos estalos fracos”, disse Chide à CBS News.

O pesquisador explicou ainda que a atmosfera marciana é mais propensa a descargas elétricas e faíscas do que a da Terra, devido ao atrito constante entre grãos de poeira e areia.

Esses não são os primeiros sons de Marte registrados pelo Perseverance. Cientistas já haviam divulgado gravações do ruído das rodas do rover rangendo sobre o solo marciano e do zumbido das hélices do helicóptero Ingenuity, que atuava como auxiliar da missão e não está mais em operação.

Desde 2021, o Perseverance explora um antigo delta de rio seco em Marte, em que coleta amostras de rochas em busca de possíveis sinais de vida microscópica do passado. A Nasa planeja trazer esse material de volta à Terra para análises em laboratório, embora ainda não haja um prazo definido para o retorno das amostras.