Arqueólogos australianos descobriram alguns dos exemplos mais detalhados de uma rara arte rupestre de pequena escala, numa forma que lembra estênceis miniaturizados em um abrigo rochoso tradicionalmente usado pelo povo aborígine marra, do norte da Austrália. A pesquisa, publicada na revista “Antiquity”, examinou a arte incomum do abrigo Yilbilinji no Parque Nacional Limmen, na região sudoeste do Golfo de Carpentaria (Território do Norte).

O sítio foi documentado por uma equipe de pesquisa em 2017 e de imediato se destacou como único, de acordo com cientistas da Universidade Flinders e do Centro Indígena Monash (Austrália).

“É o tamanho da arte rupestre que torna esse site incomum e altamente distinto”, diz Liam Brady, arqueólogo da Universidade Flinders. “Normalmente, a arte rupestre em estêncil em todo o mundo apresenta dimensões em tamanho real, como partes do corpo de humanos e animais, objetos (por exemplo, bumerangues) e até matéria vegetal. No entanto, muitos dos estênceis de Yilbilinji são minúsculos ou miniaturizados, e muito pequenos para ser fabricados usando partes do corpo da vida real e objetos em seu tamanho verdadeiro.”

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Apenas dois outros exemplos dessa forma miniaturizada de arte rupestre (ambos de figuras humanas) são conhecidos no mundo: um em Nielson’s Creek, em Nova Gales do Sul (sudeste da Austrália), e outro em Kisar Island (Indonésia).

Variedade de motivos

A equipe de pesquisa – arqueólogos, antropólogos, guardas marras e guardas florestais do Parque Nacional Limmen – registrou um total de 17 imagens desses estênceis em miniatura durante uma visita de campo em 2017.

As imagens mostram uma ampla variedade de motivos, incluindo figuras humanas, animais (caranguejo, tartarugas de pescoço longo), patas de canguru, linhas onduladas, bumerangues e formas geométricas.

Os pesquisadores começaram a descobrir como essas imagens incomuns foram feitas. Uma pista veio do fato de, em sua maioria, os estênceis em miniatura serem feitos com bordas arredondadas e curvas, o que significa que provavelmente foram produzidos com o uso de algo que poderia ser facilmente moldado e grudado na superfície da rocha.

Outra pista veio da pesquisa antropológica na região. O coautor e antropólogo John Bradley, do Centro Indígena Monash, trabalha com aborígines na área de estudo há mais de 40 anos. Ele se lembra de ter visto pessoas usando cera de abelha para diversos fins, como um adesivo para reparar lanças e arpões. Ele também viu crianças moldando a cera de abelha em objetos e animais como gado, cavalos e cowboys.

Material apropriado

“Usando essas pistas, os pesquisadores decidiram testar se a cera de abelha poderia ter sido usada para fazer os estênceis em miniatura”, diz ele. “Nossas experiências envolvendo aquecer e moldar cera de abelha como figuras de seres humanos, animais, objetos e formas geométricas e depois estampando-as em uma laje de rocha confirmaram que a cera de abelha era um excelente material para fazer estênceis em miniatura.”

Amanda Kearney, também da Universidade Flinders, observa: “Quem fez esses estênceis em miniatura – adulto ou criança – está aberto ao debate, assim como ao seu significado. No entanto, o importante aqui é que essa descoberta acrescenta outra dimensão ao registro australiano e global de arte rupestre”.

De fato, desde que essa descoberta foi feita, três estênceis adicionais foram descobertos na área – uma figura humana, uma equidna (mamífero nativo da Austrália e da Nova Guiné) e uma tartaruga de água doce, Isso destaca ainda mais o potencial arqueológico do Parque Nacional Limmen, afirmam os pesquisadores.