14/05/2024 - 13:45
Os cientistas estão cada vez mais perto de entender a comunicação dos animais, e a espécie que está mais próxima de ser entendida é a baleia cachalote.
Cientistas passaram anos registrando os sons de cachalotes para tentar entender as regras da língua desses animais, que eles chamaram de whalish (“baleiês”).
Graças ao aprendizado de máquina, um campo de estudos da inteligência artificial, os cientistas identificaram o que eles chamam de alfabeto fonético dos cachalotes.
Num estudo publicado na revista Nature Communications, eles descrevem como fizeram uso do aprendizado de máquina para decodificar a comunicação dos cachalotes e prever o que eles iriam dizer.
“Descobrimos que suas vocalizações variam significativamente em estrutura, dependendo do contexto da conversa, o que demonstra um sistema muito mais complexo do que se pensava”, diz a cientista da computação Daniela Rus, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
Ao lado de colegas do MIT, Rus liderou a nova pesquisa com integrantes do Projeto Ceti, uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo traduzir a comunicação das baleias cachalotes.
Comunicação com codas
As baleias cachalotes normalmente vivem em clãs de cerca de dez animais. Elas se comunicam debaixo d’água a distâncias de centenas de metros, por meio de sequências altamente complexas de estalos, ou cliques.
Para o estudo, os cientistas usaram dados coletados de baleias de um clã ao largo da Dominica, no Caribe. Em 2023, a Dominica anunciou que criaria a primeira reserva de cachalotes do mundo.
As baleias foram marcadas com gravadores que rastreavam seus movimentos e registravam seus cliques. Isso revelou que os cliques dos cachalotes são organizados em pelo menos 150 padrões repetitivos conhecidos, chamados de codas.
Codas são os sinais de comunicação dos cachalotes – são sequência rápidas de cliques organizados em diferentes frequências e escalas de tempo. Essas vocalizações são um pouco como os fonemas da fala humana, como “æ”, “p”, “l” e “ə”.
“Antes, os cientistas analisavam cliques isolados, mas, neste estudo, eles estudaram longas sequências de cliques e os intervalos entre eles”, diz o cientista marinho Roee Diamant, da Universidade de Haifa, em Israel, que não participou da pesquisa.
Ao colocarem longas sequências de codas em relação com outras, os pesquisadores descobriram novas maneiras de os cliques conterem informações.
“Isso mostra que os cliques têm ritmo, um andamento, diferentes comprimentos de sons e sons extras. Isso significa que há mais maneiras de transmitir dados. As baleias estão realmente colocando um monte de informações nessas sequências de cliques”, explica Diamant.
Mas o que elas estão dizendo?
Na fala humana, os fonemas “æ”, “p”, “l” e “ə” juntos têm um significado – eles formam a palavra apple, ou maçã em inglês.
No caso das baleias cachalotes, os pesquisadores ainda não conseguiram extrair nenhum significado das codas. “Não sabemos o que as baleias estão dizendo. Apenas sabemos que, em princípio, elas podem expressar muito mais, dado o conjunto fixo de sons que são capazes de produzir”, explica Rus.
Diamant, por sua vez, disse que os cientistas estão mais perto de entender um pouco de baleiês, mas que para ir além seria necessária uma abordagem bem mais ampla do que só estudar vocalizações.
“Precisamos ver o que elas estão fazendo durante suas comunicações, e é isso que novos projetos de pesquisa estão fazendo. Por exemplo, sabemos que há um certo tipo de som que elas fazem sempre antes de mergulhar. Talvez seja como dizer ‘tchau, estou mergulhando’, ou algo assim”, diz Diamant.
Para Diamant, o que é fascinante é que as baleias de diferentes clãs podem ter codas de significados diferentes. “Os clãs de cachalotes não se misturam. Cada clã usa um conjunto distinto de padrões de coda que funcionam de certa forma como os dialetos dos idiomas humanos. Pode ser que um clã não entenda de fato um outro”, explica.