26/10/2022 - 15:23
Um novo estudo publicado na revista Nature Communications na última terça-feira (25/10) revelou que a comunicação vocal é muito mais difundida em animais vertebrados do que pensávamos.
- Pesquisadores descobrem santuário de tubarões famintos no mar das Maldivas
- Bactérias podem sobreviver sob a superfície de Marte por 280 milhões de anos
- Pistas indicam que criança mumificada do século 17 morreu por não receber luz solar
Gabriel Jorgewich-Cohen, da Universidade de Zurique, na Suíça, e seus colegas coletaram gravações de 53 espécies que antes se pensava não serem vocais, incluindo o tuatara (Sphenodon punctatus), o Typhlonectes compressicauda, o peixe pulmonado sul-americano (Lepidosiren paradoxa) e 50 espécies de tartarugas.
Em vez de evoluir em muitos animais de forma independente, a pesquisa sugere que a comunicação vocal surgiu em um ancestral comum há mais de 400 milhões de anos.
Muitos vertebrados com pulmões, conhecidos como vertebrados coanatos, criam sons através de estruturas em suas gargantas enquanto empurram o ar pelos pulmões. Eles usam esses sons em interações sociais como cuidados parentais, seleção de parceiros, marcação de território e outros comportamentos que se beneficiam da comunicação vocal.
No entanto, os pesquisadores negligenciaram pelo menos 100 coanatos em estudos de comunicação vocal, segundo Jorgewich-Cohen. Isso porque, embora ocasionalmente pudessem ser ouvidos emitindo sons, supunha-se que esses ruídos foram criados por acidente ou tinham a intenção de se defender de outras espécies e, portanto, não poderiam ser considerados uma comunicação vocal verdadeira.
Em particular, muitas vezes as pessoas assumem incorretamente que as tartarugas não são vocais. Depois de participar de um estudo de campo sobre comunicação vocal em tartarugas, Jorgewich-Cohen se inspirou para investigar mais, começando com suas próprias tartarugas de estimação.
“Resolvi gravá-las, só para conferir. Encontrei vários sons lá, e depois continuamos [com mais espécies]. E de repente, tive uma boa amostragem e pude entender uma imagem maior”, contou o pesquisador.
As 53 espécies que a equipe estudou tinham uma gama variada de capacidades acústicas, de gorjeios e cliques a sons mais avançados e complexos de diferentes tons. Muitos pesquisadores concordam que quando os animais usam suas vias respiratórias para criar repertórios complexos de diferentes sons ou chamadas harmônicas, eles estão se comunicando.
Ele também filmou esses animais com câmeras subaquáticas enquanto gravava o som para investigar quais comportamentos podem estar ligados aos ruídos. As formas mais óbvias de comunicação foram produzidas por machos enquanto cortejavam fêmeas ou durante conflitos com outros machos, segundo Jorgewich-Cohen.
Ao combinar suas descobertas com dados coletados anteriormente em 1800 espécies adicionais de coanatos, Jorgewich-Cohen e seus colegas determinaram que a comunicação acústica evoluiu em vertebrados que respiram pelo nariz há cerca de 407 milhões de anos.
Isso significa que a comunicação vocal é pelo menos tão antiga quanto os celacantos (Eoactinistia foreyi), que é considerado um possível último ancestral comum de todos os vertebrados coanatos. Na verdade, a comunicação vocal pode ser ainda mais antiga do que isso, de acordo com Jorgewich-Cohen.
Peixes sem pulmão também produzem sons vocais, e é possível que eles tenham desenvolvido essa característica e depois passado para gerações posteriores que desenvolveram pulmões. “Pode ser que uma linhagem desses peixes tenha sido a precursora do tipo de som que fazemos como [coanatos]. Então, pode ser que essa linhagem de produção de som seja mais antiga do que eu encontrei”, completou ele.