Médiuns espiritualistas podem ser mais propensos a atividades mentais imersivas e experiências auditivas incomuns no início da vida, de acordo com novas pesquisas. Isso pode explicar por que algumas pessoas e não outras posteriormente adotam crenças espiritualistas e se envolvem na prática de “ouvir os mortos”, conclui um estudo conduzido pela Universidade de Durham (Reino Unido). O trabalho foi publicado na revista “Mental Health, Religion and Culture”.

Diz-se que médiuns que “ouvem” espíritos experimentam comunicações clariaudientes, em vez de comunicações clarividentes (“ver” ou “sentir”).

Os pesquisadores conduziram uma pesquisa com 65 médiuns clariaudientes da Spiritualists’ National Union (SNU) e 143 membros da população em geral, no maior estudo científico sobre as experiências de médiuns clariaudientes. Eles descobriram que esses espiritualistas têm tendência a ficar absortos (absorção) – um traço ligado à imersão em atividades mentais ou imaginativas ou à experiência de estados alterados de consciência. Os médiuns também são mais propensos a relatar experiências de fenômenos auditivos incomuns, como ouvir vozes, o que frequentemente ocorre no início da vida.

Vida após a morte

Muitos que experimentam a absorção ou a audição de vozes encontram crenças espiritualistas quando procuram o significado por trás disso, ou o significado sobrenatural de suas experiências incomuns, disseram os pesquisadores.

A pesquisa faz parte do Hearing the Voice – um estudo interdisciplinar de audição da voz baseado na Universidade de Durham e financiado pelo Wellcome Trust.

O espiritualismo é um movimento religioso precursor do espiritismo codificado por Alan Kardec. Ele se baseia na ideia de que as almas humanas continuam a existir após a morte e se comunicam com os vivos por meio de um médium ou intermediário sensitivo.

O interesse pelo espiritualismo está aumentando na Grã-Bretanha. Várias organizações britânicas têm dado apoio, treinando e oferecendo os serviços de médiuns praticantes. Uma das maiores, a SNU, afirma atender pelo menos 11 mil pessoas por meio de seu colégio de treinamento, templos e centros.

Em seu estudo, os pesquisadores reuniram descrições detalhadas da maneira como os médiuns vivenciam as “vozes” dos espíritos e compararam os níveis de absorção, tendência à alucinação, aspectos de identidade e crença no paranormal. Eles descobriram que 44,6% dos participantes espiritualistas relataram ouvir as vozes do falecido diariamente, com 33,8% relatando uma experiência de clariaudiência no dia anterior.

Experiência do dia a dia

A grande maioria (79%) afirmou que as experiências de comunicação espiritual auditiva faziam parte do seu dia a dia. Elas ocorriam tanto quando estavam sós, como quando trabalhavam como médiuns ou frequentavam uma igreja espiritualista.

Os espíritos são ouvidos principalmente dentro da cabeça (65,1%). Mas 31,7% dos participantes espiritualistas disseram ter experimentado vozes espirituais vindas de dentro e de fora da cabeça.

Quando avaliados em escalas de absorção, bem como a força de sua crença no paranormal, os espiritualistas tiveram uma pontuação muito mais alta do que os membros da população em geral.

Os espiritualistas se mostraram menos propensos a se preocupar com o que os outros pensavam deles do que as pessoas em geral. Eles também pontuaram mais em propensão a experiências auditivas incomuns, como alucinações.

Ambos os altos níveis de absorção e propensão a tais fenômenos auditivos foram associados a relatos de comunicações clariaudientes mais frequentes, de acordo com os resultados.

Para a população em geral, a absorção foi associada a níveis de crença no paranormal. No entanto, não houve ligação correspondente significativa entre a crença e a tendência à alucinação. Também não houve diferença nos níveis de crença supersticiosa ou propensão a alucinações visuais entre participantes espiritualistas e não espiritualistas.

Predisposição única

Os espiritualistas relataram ter experimentado a clariaudiência pela primeira vez com uma idade média de 21,7 anos. No entanto, 18% dos espiritualistas relataram ter experiências clariaudientes “desde que podiam se lembrar”. Além disso, 71% não haviam encontrado o espiritualismo como um movimento religioso antes de suas primeiras experiências.

Segundo os pesquisadores, suas descobertas sugerem que não é ceder à pressão social, aprender a ter expectativas específicas ou um nível de crença no paranormal que leva a experiências de comunicação espiritual. Em vez disso, parece que algumas pessoas têm uma predisposição única para a absorção e são mais propensas a relatar experiências auditivas incomuns ocorridas no início da vida. Para muitos desses indivíduos, as crenças espiritualistas são adotadas porque se alinham significativamente com essas experiências pessoais únicas.

O pesquisador principal, dr. Adam Powell, do projeto Hearing the Voice e do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Durham, disse: “Nossas descobertas dizem muito sobre ‘aprendizado e anseio’. Para nossos participantes, os princípios do espiritualismo parecem dar sentido tanto aos extraordinários experiências da infância como aos fenômenos auditivos frequentes que eles experimentam como médiuns praticantes. Mas todas essas experiências podem resultar mais de certas tendências ou habilidades iniciais do que simplesmente acreditar na possibilidade de contatar os mortos se tentarmos o suficiente.”

Imagem mais completa

O dr. Peter Moseley, da Universidade de Nortúmbria, coautor do estudo, comentou: “Os espiritualistas tendem a relatar experiências auditivas incomuns que são positivas, começam cedo na vida e, muitas vezes, eles são capazes de controlar. Entender como elas se desenvolvem é importante porque poderia nos ajudar a entender mais sobre experiências angustiantes ou não controláveis ​​de ouvir vozes também”.

Os pesquisadores de Durham estão agora engajados em uma investigação mais aprofundada da clariaudiência e da mediunidade. Eles trabalham com praticantes para obter uma imagem mais completa de como é receber essas experiências incomuns e significativas.