22/11/2020 - 10:08
Em 2004, cientistas da agência espacial norte-americana (Nasa, na sigla em inglês) que trabalhavam com a Galex (Galaxy Evolution Explorer) – uma sonda espacial com telescópio de raios ultravioleta cujo objetivo era medir a luz oriunda da formação de estrelas no universo desde o Big Bang – depararam com um estranho fenômeno: uma bolha de gás que parecia ter uma estrela ao centro. Pelos registros da Galex, a bolha de gás parecia ser azul, apesar de não ser visível aos olhos humanos. Após análises detalhadas, descobriu-se a existência de dois anéis de luz no centro do astro, algo que fugia à compreensão na época.
Chamada de Nebulosa de Anel Azul, a estrutura espacial foi estudada nos últimos 16 anos, com múltiplos telescópios a partir da Terra. Mas nenhuma explicação plausível sobre a origem dos anéis ou a razão do fenômeno foi proposta.
Neste ano, um grupo de cientistas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, finalmente foi capaz de resolver o mistério da nebulosa.
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“Estávamos observando uma noite com um espectrógrafo (aparelho que analisa o comprimento de ondas de luz por meio de imagens) que havíamos acabado de construir, quando recebemos a mensagem de colegas que estavam estudando um objeto peculiar, composto de uma nebulosa gasosa em expansão rápida a partir de uma estrela central”, afirmou Gudmundur Stefansson, cientista coautor do artigo científico sobre a descoberta. “Como ele se formou? Quais são as propriedades da estrela no centro? Ficamos empolgados para resolver o mistério”, afirmou.
Sistema binário
Segundo a pesquisa, a Nebulosa de Anel Azul é uma fusão de um sistema binário (composto por duas estrelas) onde um sol, de massa maior, atraiu uma estrela de massa menor para o seu interior após tornar-se uma supergigante. Os anéis azuis característicos seriam o material de formação da estrela menor sendo expelido em formato de cone em direções opostas ao centro gravitacional, para o espaço. A força da fusão faz com que as duas extremidades dos cones flutuem ao redor do objeto central.
Veja a simulação por computador:
“Embora as relíquias da fusão de sistemas binários já tenham sido observadas antes, a Nebulosa de Anéis Azuis é rara. Isso ocorre porque esses fenômenos nunca tinham sido vistos tão claramente”, afirma Keri Hoadley, cuja tese de pós-doutorado em Princeton é a base da descoberta.
“Todos os fenômenos similares observados estavam envoltos em nuvens de poeira estelar opaca. Isso obstruía a visão das propriedades do corpo celeste central desse tipo de fenômeno. A Nebulosa de Anel Azul é o único objeto conhecido que permitiu uma visão direta do núcleo e nos deu pistas sobre o processo de fusão”, complementou.
O artigo sobre a descoberta astronômica da fusão da Nebulosa de Anel Azul foi publicado na revista “Nature“.