14/10/2025 - 15:32
Pesquisadores americanos conseguiram reativar micróbios congelados há milhares de anos no permafrost do Alasca. Experimento levanta novas questões sobre o impacto das mudanças climáticas.Um grupo de cientistas afirma ter “ressuscitado” micróbios de até 40 mil anos que estavam presos no permafrost do Alasca, nos Estados Unidos. As conclusões do estudo foram publicadas no Journal of Geophysical Research Biogeosciences.
O permafrost é uma camada congelada de solo, gelo e rocha que cobre quase um quarto do Hemisfério Norte, em regiões como a Sibéria (Rússia) e o Alasca. Ele preserva restos de animais, plantas, insetos e outros microrganismos quase intactos no gelo por milhares de anos.
Os micróbios em questão foram descobertos nas paredes do Túnel de Permafrost do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, uma instalação de pesquisa que se estende 107 metros abaixo do solo do Alasca.
Micróbios “despertam” após milhares de anos
Segundo os autores, os microrganismos levam tempo para emergir da dormência, mas, quando isso acontece, podem formar colônias ativas capazes de se propagar.
“Não se trata de amostras mortas. Elas ainda são capazes de sustentar vida resiliente, capaz de decompor matéria orgânica e liberá-la como dióxido de carbono”, explica o autor principal, Tristan Caro, em um comunicado da Universidade do Colorado em Boulder.
Experimento prova que bactérias ainda estão vivas
A equipe extraiu amostras das paredes do túnel, submergiu-as em água e as manteve entre 3 e 12 °C — temperaturas baixas para humanos, mas altas para a região.
“Queríamos simular o que acontece no verão do Alasca sob condições climáticas futuras, onde essas temperaturas atingem camadas mais profundas do permafrost”, disse Caro.
Nos primeiros meses, as bactérias cresceram lentamente. Após seis meses, no entanto, começaram a formar biofilmes, estruturas viscosas visíveis a olho nu, evidência de que esses microrganismos haviam sido “ressuscitados”.
Um lugar que “cheira mal”
O túnel contém restos mortais de mamutes, bisões e outros animais pré-históricos e foi descrito como um lugar que “cheira mal”.
Caro o descreve como “um porão mofado que foi abandonado por muito tempo”, embora, “para um microbiologista, isso seja muito emocionante, porque cheiros interessantes geralmente são microbianos”.
As condições únicas deste lugar o tornam um local ideal para estudar como a vida microscópica pode persistir por milênios e ser reativada com o aumento das temperaturas.
Preocupação com o degelo causado pelas mudanças climáticas
O coautor do estudo, Sebastian Kopf, alerta que a descoberta está ligada às mudanças climáticas e ao aumento das temperaturas globais.
Ele explica que, à medida que o planeta aquece, o permafrost descongela e libera micróbios que decompõem a matéria orgânica, liberando metano e dióxido de carbono, dois gases de efeito estufa.
“Como o degelo deste solo, onde sabemos que há toneladas de carbono armazenado, afetará a ecologia dessas regiões e o ritmo das mudanças climáticas? É uma das maiores incógnitas”, questiona Kopf.
Riscos e outras questões em aberto
Os autores acreditam que esses micróbios não representam um perigo direto para os humanos, embora nenhum teste de infecção tenha sido realizado.
Em anos anteriores, porém, outras equipes científicas conseguiram reviver “vírus zumbis” do permafrost, alguns dos quais são potencialmente perigosos.
Mas, além do risco biológico, os cientistas enfatizam o impacto ambiental do degelo. “Pode haver um único dia quente no verão do Alasca, mas o que importa muito mais é o prolongamento da temporada de verão, a ponto de essas temperaturas quentes se estenderem até o outono e a primavera”, ressalta Caro.