09/01/2021 - 16:39
A violenta pandemia de coronavírus, junto com a turbulência política e a incerteza, oprimiram muitos de nós.
Quase desde o início de 2020, as pessoas têm se deparado com perspectivas sombrias, à medida que doenças, morte, isolamento e perda de empregos se tornaram partes indesejáveis de nossa realidade. Na quarta-feira, muitos de nós assistimos com horror e desespero enquanto os insurgentes invadiram o Capitólio dos Estados Unidos.
Na verdade, em todos esses tempos, tanto o lado escuro quanto o lado brilhante da natureza humana foram evidentes, pois muitas pessoas se envolveram em extraordinária compaixão e coragem quando outras estavam cometendo atos de violência, interesse próprio ou ganância.
Como uma cientista pesquisadora cujo trabalho se concentra na psicologia positiva entre pessoas que enfrentam desafios, estou profundamente ciente de que, se há um momento para uma conversa sobre esperança, é agora.
Esperança versus otimismo
Primeiro, vamos entender o que é esperança. Muitas pessoas confundem otimismo com esperança.
Charles R. Snyder, autor de The Psychology of Hope (“A Psicologia da Esperança”), definiu esperança como a tendência de ver os objetivos desejados como possíveis e de abordar esses objetivos com agency thinking, uma crença de que você ou outras pessoas têm a capacidade de atingir os objetivos. Ele também definiu esperança como pathways thinking, um foco no mapeamento de rotas e planos para atingir esses objetivos.
O otimismo é diferente. O psicólogo Charles Carver define o otimismo como uma expectativa geral de que coisas boas acontecerão no futuro. Os otimistas tendem a buscar o que é positivo e, às vezes, negar ou evitar informações negativas. Em suma, o otimismo é esperar coisas boas; esperança é como planejamos e agimos para alcançar o que queremos.
Aqui estão cinco estratégias-chave para cultivar esperança nestes tempos difíceis:
1) Faça algo – comece com metas
Pessoas esperançosas não desejam – elas imaginam e agem. Elas estabelecem objetivos claros e alcançáveis e fazem um plano claro. Acreditam em sua capacidade de alcançar os resultados. Reconhecem que seu caminho será marcado por tensões, obstáculos e falhas. De acordo com psicólogos como Snyder e outros, as pessoas esperançosas são capazes de “antecipar essas barreiras” e “escolher” os “caminhos” certos.
Além disso, pessoas esperançosas se adaptam. Quando suas esperanças são frustradas, elas tendem a se tornar mais focadas em fazer as coisas para atingir seus objetivos.
Como escreve o psicólogo Eddie Tong, “pessoas esperançosas tendem a pensar que os objetivos desejados são alcançáveis mesmo se os recursos pessoais se esgotarem”. Em outras palavras, pessoas com esperança persistem mesmo quando as perspectivas podem não ser tão favoráveis.
É importante ressaltar que as evidências sugerem que a crença de que alguém é capaz de atingir seus objetivos pode ser mais importante para a esperança do que saber como alcançá-los.
2) Aproveite o poder da incerteza
Vários pesquisadores argumentaram que, para a esperança surgir, os indivíduos precisam ser capazes de perceber a “possibilidade de sucesso”.
A pesquisa mostra que muitas das incertezas da vida podem ajudar as pessoas a cultivar a esperança em tempos difíceis. Por exemplo, um estudo de 2017 mostrou que pais de crianças com diagnóstico de esclerose múltipla usaram o fato de que tão pouco se sabe sobre a doença na infância para alimentar e sustentar seu senso de esperança. Os pais raciocinaram que, como é tão difícil diagnosticar com precisão a esclerose múltipla na infância e o prognóstico é tão variado, havia uma chance de que seus filhos fossem diagnosticados incorretamente e eles pudessem se recuperar e viver uma vida normal.
Em suma, um futuro incerto oferece muitas possibilidades. Como tal, a incerteza não é motivo para paralisia – é um motivo para esperança.
3) Gerencie sua atenção
Pessoas esperançosas e otimistas mostram semelhanças e diferenças nos tipos de estímulos emocionais aos quais prestam atenção no mundo.
Por exemplo, o psicólogo Lucas Kelberer e seus colegas descobriram que os otimistas tendem a buscar imagens positivas, como a de pessoas felizes, e evitar imagens de pessoas que parecem deprimidas.
Pessoas esperançosas não buscam necessariamente informações emocionalmente positivas. No entanto, as pessoas com muita esperança gastam menos tempo prestando atenção a informações emocionalmente tristes ou ameaçadoras.
Em um mundo no qual estamos sobrecarregados com opções para o que lemos, assistimos e ouvimos, manter a esperança pode não exigir que busquemos informações positivas, mas exige que evitemos imagens e mensagens negativas.
4) Procure a comunidade. Não vá sozinho
A esperança é difícil de manter em isolamento. A pesquisa demonstra que para as pessoas que trabalham para trazer mudanças sociais, particularmente os ativistas antipobreza, os relacionamentos e a comunidade fornecem o motivo para a esperança e acendem sua convicção de continuar lutando.
A conexão com outras pessoas permitiu que os ativistas tivessem um senso de responsabilidade, reconhecessem que seu trabalho era importante e que eles eram parte de algo maior do que eles.
Os relacionamentos são importantes, mas as pesquisas em saúde também sugerem que manter a esperança depende, em parte, da companhia particular que mantemos. Por exemplo, os pais de crianças com doenças crônicas geralmente mantinham a esperança afastando-se ou evitando interações com pessoas negativas que desafiavam seus esforços para buscar fins positivos. Podemos permanecer esperançosos se nos conectarmos com outras pessoas que apoiam nossa responsabilidade e nos lembram de por que nossas lutas são importantes.
5) Olhe para as evidências
A esperança também requer confiança. Pessoas esperançosas depositam sua confiança nos dados, especialmente nas evidências da história. A pesquisa demonstra, por exemplo, que os ativistas antipobreza tiveram esperança em saber que, historicamente, quando as pessoas se uniram na resistência, conseguiram criar mudanças.
Cultivar e manter a esperança, então, requer que reunamos evidências de nossas próprias vidas, história e do mundo em geral e usemos essas evidências para guiar nossos planos, caminhos e ações.
A esperança também requer que aprendamos a usar esses dados para calibrar o progresso com eficácia – não importa quão pequeno ele seja.
* Jacqueline S. Mattis é reitora da Escola de Artes e Ciências da Universidade Rutgers – Newark (EUA).
** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.