05/10/2025 - 11:11
Prêmio mais conhecido do mundo é marcado por episódios curiosos, mas também por exclusão de pesquisadoras. Confira alguns deles.O Prêmio Nobel começará a anunciar os ganhadores da edição de 2025 nesta segunda-feira (06/10). De acordo com a tradição, a primeira categoria será Fisiologia ou Medicina, seguida de Física e Química nos dias seguintes.
A cerimônia de entrega dos prêmios ocorre em 10 de dezembro, aniversário de morte do idealizador da honraria, o sueco Alfred Nobel (1833 – 1896). Concedidos pela primeira vez em 1901, o Nobel já laureou 976 pessoas e 28 organizações, com o Brasil não tendo recebido nenhum deles até hoje.
Confira sete curiosidades da premiação mais conhecida do mundo:
1. A dinastia Curie
Marie Curie é a única cientista que recebeu dois prêmios Nobel em duas categorias de ciências naturais diferentes: em Física em 1933, e em Química em 1911. Seu marido, Pierre, foi laureado ao lado da esposa em seu primeiro prêmio.
Marie Curie foi laureada por suas pesquisas pioneiras sobre radioatividade e pela descoberta de novos elementos químicos.
Sua filha, Irene Joliot-Curie, seguiu a tradição da família e, em 1935, venceu o Nobel de Química junto com o marido, Frederic, pela descoberta da radioatividade artificial, ou seja, a produção de isótopos radioativos em laboratório.
Ao longo de duas gerações, a família Curie se tornou uma das dinastias mais famosas da história da ciência, acumulando ao todo cinco prêmios Nobel.
2. Divórcio valioso
Pelo acordo de divórcio firmado em 1919, Albert Einstein prometeu à sua ex-mulher Mileva Maric que lhe entregaria todo o dinheiro que ele receberia caso ganhasse um Nobel. Quando o físico foi finalmente laureado em 1921, ele cumpriu a promessa e transferiu todo o dinheiro do prêmio a Maric, garantindo a ela e seus filhos uma certa segurança financeira.
3. Sem Nobel para a Teoria da Relatividade
O comitê do Prêmio Nobel rejeitou laurear Einstein pela Teoria da Relatividade. O grupo, que preferia evidências experimentais, considerava essa tese muito especulativa e teórica. Einstein recebeu um Nobel somente quando a pressão da comunidade científica internacional aumentou.
O físico, porém, foi laureado pela sua teoria do efeito fotoelétrico, que poderia ser medida e verificada. Durante a cerimônia de premiação, o comitê evitou mencionar a teoria fundamental de Einstein sobre a lei da gravitação e suas relações com as forças da natureza. Apesar de ignorada pelo prêmio, essa teoria molda até hoje a forma como muitos cientistas abordam vários aspectos do mundo natural.
4. O mito do ciúme de Nobel
Há uma lenda popular que afirma que Alfred Nobel optou por não conceder um prêmio para matemática porque sua esposa teria tido um caso com um matemático. A história é falsa. O idealizador do prêmio nunca se casou.
Uma explicação plausível para a ausência da matemática na premiação é que Nobel não teria percebido essa disciplina como diretamente “útil para a humanidade” – um dos critérios para o prêmio – e, por isso, a teria ignorado.
Os primeiros Nobel foram concedidos em 1901. Até hoje, a ausência de um prêmio na categoria matemática é motivo de questionamento.
5. Mulheres ignoradas
Lise Meitner foi fundamental na descoberta da fissão nuclear, mas o Nobel por esse feito foi concedido ao químico Otto Hahn. Apesar de ter sido indicada 48 vezes, Meitner nunca ganhou um Prêmio Nobel.
Jocelyn Bell Burnell teve uma experiência semelhante com a descoberta dos pulsares – um tipo de estrela de nêutrons. Seu feito foi laureado com um Nobel de Física, mas quem levou o prêmio foi seu orientador de doutorado, Antony Hewish. Naquele ano, o prêmio foi dividido por dois homens: Hewish e Martin Ryle. A contribuição de Bell Burnell foi reconhecida internacionalmente, mas ignorada pelo comitê do Nobel.
Os casos de Meitner e Bell Burnell são considerados exemplos de uma desvantagem estrutural que mulheres enfrentam na ciência.
6. Medalhas valem milhões
As medalhas do prêmio Nobel têm um valor especial que vai muito além da ciência. Após a morte do biólogo Francis Crick, sua medalha foi leiloada em 2013 por seus herdeiros para pagar dívidas fiscais. O leilão arrecadou mais de 2 milhões de dólares.
Crick foi laureado em 1962 pela descoberta da estrutura do DNA, juntamente com James Watson e Maurice Wilkins. Esse é mais um exemplo de uma pesquisadora que foi ignorada. Rosalind Franklin contribuiu significativamente para decifrar a estrutura de dupla hélice do DNA, mas ela morreu de câncer de ovário em 1958, aos 37 anos. Seus colegas homens, especialmente Wilkins, tinham um relacionamento tenso com Franklin e não reconheceram a sua contribuição quando receberam o Nobel em 1962 e nem depois disso.
Em 2014, foi a vez de Watson leiloar sua medalha por cerca de 4,8 milhões de dólares. O novo proprietário a devolveu a Watson posteriormente.
7. Nunca revogados
Nenhum Prêmio Nobel foi oficialmente revogado, mesmo em casos nos quais a ciência posteriormente se provou errada. Um exemplo é o do médico dinamarquês Johannes Fibiger, que foi laureado em Medicina em 1962 pela suposta descoberta de que vermes causariam câncer. A tese foi posteriormente desmascarada.
Em 1949, Antonio Egas Moniz recebeu o Nobel pelo desenvolvimento da lobotomia, uma cirurgia no cérebro que corta os nervos do lobo frontal para tratar doenças mentais. Há muito tempo, as lobotomias são consideradas ineficazes e prejudiciais.
Recentemente, artigos de pesquisas de laureados com o Nobel, como o trabalho de Gregg Semenza – vencedor em Medicina em 2019 – foram retirados. O prêmio, no entanto, permaneceu em vigor.
Já alguns vencedores expressaram opiniões questionáveis e, até mesmo, bizarras após ganharem o prêmio. Linus Pauling (Química em 1954, Paz em 1962) defendeu uma tese irracional sobre os benefícios de altas doses de vitamina C contra quase todas as doenças da velhice. Kary Mullis (Química em 1993) propagou teorias da conspiração sobre a aids e disse acreditar em ovnis. William Shockley (Física em 1956) atraiu a atenção com suas crenças racistas e eugênicas.