Pela primeira vez, uma equipe de cientistas, liderada pela Universidade de Bristol (Reino Unido), descreveu em detalhes a abertura multiúso que os dinossauros usavam para defecar, urinar e procriar. O estudo a esse respeito foi publicado na revista “Current Biology”.

Embora a maioria dos mamíferos possa ter diferentes aberturas para essas funções, a maioria dos animais vertebrados possui uma cloaca. Já sabemos muito sobre os dinossauros e sua aparência como criaturas emplumadas, escamosas e com chifres e até mesmo as cores que exibem. No entanto, não sabíamos nada sobre como é essa abertura.

O dr. Jakob Vinther, da Escola de Ciências da Terra da Universidade de Bristol, o paleoartista Robert Nicholls e a drª Diane Kelly, especialista em pênis de vertebrados e sistemas copulatórios da Universidade de Massachusetts Amherst (EUA), descreveram agora a primeira região cloacal de um pequeno dinossauro do tamanho de um cão labrador chamado Psittacosaurus, comparando-o a orifícios em animais vertebrados modernos.

Visão aproximada da abertura cloacal preservada no psitacossauro e de sua reconstrução pelos autores. Crédito: autores do estudo
Território desconhecido

O dr. Vinther disse: “Reparei na cloaca há vários anos, depois de reconstruirmos os padrões de cores desse dinossauro usando um fóssil notável em exibição no Museu Senckenberg, na Alemanha. Esse fóssil preserva claramente sua pele e padrões de cores. (…) Demorou muito antes de terminarmos porque ninguém nunca se importara em comparar o exterior das aberturas cloacais de animais vivos. Então, era um território amplamente desconhecido.”

A drª Kelly acrescentou: “Na verdade, eles não são muito descritivos. Descobrimos que a abertura parece diferente em muitos grupos diversos de tetrápodes. Mas, na maioria dos casos, isso não diz muito sobre o sexo de um animal. Essas características distintivas estão ocultas dentro da cloaca e, infelizmente, não estão preservadas nesse fóssil.”

A cloaca é única em sua aparência, mas exibe características que lembram crocodilianos vivos, como crocodilos e aligátores, que são os parentes vivos mais próximos dos dinossauros e outras aves.

Os pesquisadores observam que as margens externas da cloaca são altamente pigmentadas com melanina. Eles argumentam que essa pigmentação fornecia à abertura uma função de exibição e sinalização, semelhante aos babuínos e algumas salamandras.

Espécime de psitacossauro do museu de história natural de Senckenberg, que preserva os padrões de pele e pigmentação e a primeira (e única conhecida) cloaca. Crédito: Jakob Vinther, Universidade de Bristol, & Bob Nicholls/Paleocreations.com 2020
Oportunidade incrível

Os autores também especulam que os grandes lóbulos pigmentados em cada lado da abertura podem ter abrigado glândulas odoríferas almiscaradas, como visto em crocodilos vivos.

Os pássaros são um dos poucos grupos de vertebrados que ocasionalmente exibem sinalização visual com a cloaca, a qual os cientistas agora podem estender até os dinossauros ancestrais do Mesozoico.

“Como paleoartista, foi absolutamente incrível ter a oportunidade de reconstruir uma das últimas características remanescentes sobre as quais não sabíamos nada nos dinossauros”, disse Robert Nicholls. “Saber que pelo menos alguns dinossauros estavam sinalizando uns para os outros dá aos paleoartistas uma liberdade empolgante para especular sobre toda uma variedade de interações agora plausíveis durante o namoro dos dinossauros. É uma virada de jogo!”