15/12/2022 - 12:53
Pesquisadoras da Universidade de Adelaide, da Universidade La Trobe (ambas na Austrália) e do Museu de Zoologia da Universidade de Michigan (EUA) concluíram a primeira descrição anatômica mundial do clitóris em cobras fêmeas. São dois, na verdade – a estrutura inteira é denominada hemiclitóris –, localizados na cauda de uma cobra fêmea. A pesquisa que aborda a descoberta foi publicada na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.
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Os dois clitóris das cobras são separados por tecido e ficam ocultos na parte inferior da cauda. Segundo as pesquisadoras, o órgão, de parede dupla, contém nervos, colágeno e glóbulos vermelhos consistentes com o tecido erétil.
A genitália feminina é visivelmente negligenciada em comparação com suas contrapartes masculinas, o que limita a compreensão acadêmica da reprodução sexual em vertebrados como cobras e lagartos.
Diferenças no tamanho
“Era uma combinação de a genitália feminina ser um tabu, cientistas não serem capazes de encontrá-la e de um entendimento errôneo sobre a anatomia genital das cobras intersexuais”, disse Megan Folwell, doutoranda na Universidade de Adelaide e primeira autora do estudo.
Folwell começou sua busca em uma cobra-da-morte (Acanthophis antarcticus) e localizou rapidamente o hemiclitóris (uma estrutura em forma de coração), perto das glândulas odoríferas do animal. Essas glândulas são usadas para atrair parceiros sexuais. “Havia essa estrutura dupla (…) bastante proeminente na fêmea, que era bem diferente do tecido circundante – e não havia implicação das estruturas [do pênis] que vi antes”, disse ela. Depois disso, as pesquisadoras constataram que outras nove espécies de cobras apresentava a mesma característica, com diferenças basicamente no tamanho.
“Isso abre novas questões sobre a dinâmica do acasalamento de cobras e inicia novas conversas sobre todo um outro lado da história que estamos perdendo, que é a anatomia feminina”, afirmou a coautora Jenna Crowe-Riddell, pesquisadora de pós-doutorado em neuroecologia na Universidade La Trobe.
Coerção ou sedução
“Quando (Megan Folwell) fez a pergunta, ocorreu-nos que os cientistas nunca pensaram em fazer isso. É por isso que examinamos algumas das células subjacentes e encontramos glóbulos vermelhos e nervos que são consistentes com o tecido erétil – todas as características do clitóris”, prosseguiu a drª Crowe-Riddell. “Quando você abre um livro de anatomia e imagina que tem um desenho detalhado da genitália masculina, para a genitália feminina falta uma parte inteira dela, essencialmente. Então, estamos preenchendo esse espaço que faltava.”
De acordo com a drª Crowe-Riddell, a próxima coisa a fazer após a descoberta é olhar para outras espécies de cobras e como elas acasalam, através de coerção ou de sedução. Em geral, as cobras machos são bem agressivas fisicamente durante o acasalamento, enquanto a fêmea se comporta de maneira mais “tranquila”.
“Agora que temos essa anatomia, podemos inverter a suposição de coerção e dizer, bem, pode ser sedução e isso não foi realmente considerado muito para cobras. É definitivamente considerado para mamíferos. Acho que as cobras foram deixadas para trás porque são escamosas e um pouco estranhas, honestamente”, disse a drª Crowe-Riddell.