05/09/2025 - 4:26
Se os principais exemplos de quem chegou à universidade são professores desvalorizados, como convencer jovens de que o ensino superior ainda é caminho de ascensão social?Os jovens estão cada vez mais deixando de associar o acesso à universidade como uma possibilidade real de ascensão social. Na literatura econômica, ainda há uma clara relação entre anos de escolaridade e remuneração financeira. Para além de estatísticas, o foco desta coluna é a percepção dos jovens, algo que, embora subjetivo, não é trivial e não pode ser subestimado.
Há inúmeras variáveis que corroboram com essa desassociação do acesso ao ensino superior com a ascensão social, mas irei focar em uma pouco discutida: a relação da desvalorização docente com a desvalorização do acesso à universidade. Essa relação, embora subestimada, merece nossa atenção.
Para a discussão, os jovens da rede pública serão nosso público de análise. Eles são aqueles que mais poderiam se beneficiar dessa possibilidade de mobilidade social. Esses alunos são oriundos de famílias em que cursar o ensino superior não é um caminho padrão no fim do ensino médio. Assim, no geral, não há exemplos nos núcleos familiares que ascenderam através da educação.
O contato mais próximo com indivíduos que cursaram a universidade acaba sendo com seus professores. Aqui nasce o problema e gostaria de propor uma reflexão. A profissão de docente na educação básica no Brasil é valorizada? De modo simplista: o professor é uma figura que olhamos e vislumbramos sermos iguais “quando crescermos”? No sentido da valorização social, financeira e das condições de trabalho?
Infelizmente, temo que a resposta seja não. Observem a gravidade: o maior contato que os jovens têm com alguém que cursou a universidade é com indivíduos desvalorizados social e financeiramente, ou seja, com seus professores. Muitos dos quais, infelizmente, sobrevivem e não vivem.
Resultado: cursar universidade para que?
O resultado é catastrófico. Por que tentar arduamente entrar em uma boa universidade e dedicar quatro ou cinco anos da própria vida para ao final não ser valorizado e com a possibilidade de ganhar o mesmo que um conhecido que não fez o mesmo caminho?
Reforço: aqui estou falando de percepções. Estas, embora nem sempre corroboradas pelas estatísticas, enviesam nossas decisões e devem ser consideradas na formulação de políticas públicas.
As redes sociais, com seus influenciadores, pioram o cenário. De um lado, os professores, figuras que deveriam ser o exemplo máximo, não são valorizados. De outro, influenciadores ficando milionários das mais diversas formas e todas, aparentemente, muito mais fáceis e seguras do que o caminho via universidade.
Não é muito difícil imaginar para qual lado a balança irá pesar.
Valorização docente como instrumento de desenvolvimento do país
É seguro assumir que todos queremos o desenvolvimento de nosso país, um futuro com mais igualdade e menos pobreza. Para que essa construção seja possível, uma importante variável é à educação. Quando ela é desvalorizada, essa variável chave tem seu potencial cruelmente minado.
O ponto é que é impossível haver valorização da educação em um país que desvaloriza seus professores. Nesse contexto, a valorização docente se torna uma variável primordial para o desenvolvimento do Brasil. Sem professores valorizados, não teremos jovens acreditando na educação. E sem jovens acreditando na educação, não há futuro para o Brasil.
__
Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.