Durante toda a vida escolar, fui vista como a aluna promissora — aquela que leria, escreveria e entraria direto na universidade. Mas quando a aprovação não veio, precisei encarar a frustração e repensar meus sonhos.Sempre fui destaque no ambiente escolar. No infantil, era a única criança da turma a saber ler; no fundamental, a que escrevia boas histórias; no ensino médio, a nerd que topava qualquer trabalho e redigia textos com maestria. A faculdade sempre foi um sonho — mas, se todos os sonhos se tornassem reais, talvez a realidade não fosse necessária. E talvez seja esse o ponto.

Aos 18 anos, afogada por uma ansiedade que me assombrava há meses, fiz o “Enem pra valer”. Afinal, eu estava no último ano do ensino médio e sabia exatamente o que queria fazer. Eu tinha um plano perfeito: entraria na faculdade direto do ensino médio e daria orgulho aos meus pais e professores.

Não fui aprovada no curso que almejava

Confesso que meus resultados foram bons, mas não da forma como eu havia planejado — e fiquei de fora do curso que tanto almejava. Vi meus colegas felizes, alguns entrando em até duas universidades… Mas e eu? Nada. Senti-me como uma pena: leve e, ao mesmo tempo, intrinsecamente resistente, tentando lutar inutilmente contra aquele vendaval que me desestabilizava. Naquele momento, só conseguia pensar no meu fracasso.

Minhas duas opções de curso no Sisu foram Jornalismo e Letras. Eu desejava ingressar na tão estimada Universidade Federal do Ceará (UFC). Cheguei a ocupar a primeira posição para o curso de Letras nos dias iniciais da disputa por uma vaga, no entanto, à medida que o prazo daquela corrida se encerrava, de repente eu me vi “desqualificada” para os meus sonhos. A ideia que eu fazia de mim mesma como uma garota inteligente foi completamente destruída.

Precisei lidar com a frustração

A dor de saber que todos contavam comigo — e que eu, inevitavelmente, falhei — me corroía de maneira severa. Ninguém debate sobre a pressão que os estudantes colocam sobre si mesmos ao estabelecerem padrões que, na maioria das vezes, se tornam sufocantes e desesperadores.

Tudo que eu sentia era vergonha de mim mesma quando alguém próximo tocava nesse assunto, pois, poxa, eu parecia ser tão brilhante, como não fui capaz de conseguir?! Eu estava semelhante a Paris Geller, da série Gilmore Girls, quando foi rejeitada pela Universidade Harvard após anos de autocrítica severa em relação à vida estudantil. Os dias se passavam e eu só conseguia chorar e me culpar por aquilo. Era como se eu não tivesse me esforçado o suficiente.

Ganhei um rico aprendizado

Agora, um pouco mais madura — talvez —, compreendo que a aprovação nem sempre é previsível, e que um estudante não precisa ser perfeito, mas realista, para entrar em uma universidade. Estudar é algo contínuo; daí o motivo de a constância ser a base de tudo. Após o choque de realidade de que nem sempre serei perfeita em tudo, estar na média passou a me deixar feliz. Se eu ocupar a última vaga do vestibular, ficarei tão feliz quanto se estivesse em primeiro lugar.

Parafraseando a escritora Clarice Lispector, digo que nós, estudantes tão críticos com nossas habilidades e necessidades, não podemos esquecer que “por enquanto é tempo de morangos”. A vida é repleta de recomeços e surpresas. Estudar deve ser uma dádiva e não uma forma de tortura. Hoje, cada página lida, cada dúvida resolvida, cada pequeno esforço me lembra que continuo tentando — e isso também é vencer.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Karen Laís Silva Gomes, 18 anos, estudante de Fortaleza (CE). O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.