27/11/2025 - 6:05
Muitos acreditam que não gostam de história. Será que não gostam mesmo ou têm um bloqueio devido à forma como aprenderam na escola?Muitos dos meus amigos, conhecidos e familiares afirmam que não gostam de história e achavam as aulas chatas . Não acho que essa realidade se restrinja à minha bolha. No entanto, experiências pessoais recentes me fizeram refletir muito sobre isso. Será que realmente não gostam ou nunca tiveram a oportunidade e o privilégio de realmente aprender?
Há alguns anos, visitei Salvador e tive o privilégio de passar uma tarde no pelourinho com um amigo baiano. Ele me contou a história do pelourinho, de algumas ruas e prédios da cidade e o fato de que lá estava a primeira faculdade de medicina do Brasil.
Recentemente, tive o privilégio de visitar a Europa, museus e marcos históricos que só via em livros. Senti algo que nunca senti na sala de aula: uma conexão visceral, quase infantil, com a história. Meus olhos brilhavam e eu sentia a genuína vontade de desejar que todos tivessem a oportunidade de experimentar do mesmo sentimento: o prazer de aprender história.
História tem sim relação com a vida real
Talvez eu esteja sendo impositor, mas não consigo minimizar a importância de aprender história. Podemos entrar em uma discussão sobre o que realmente é importante aprender. Há quem defenda o básico de química, física e afins, e aqueles que dizem que isso não acrescenta em nada na famigerada “vida real”. Matemática básica e português acabam sendo disciplinas de maior consenso na questão da importância.
Indo pelo recorte da relação entre o aprendizado escolar e a “vida real”, o que pode ser mais real do que a história? Como entender as consequências do racismo sem saber todo o contexto da história da escravidão no Brasil? Como evitar novas atrocidades sem entender todas as que ocorreram no século 20?
Realidade nas escolas
É uma grande lástima que a realidade da disciplina nas escolas seja tão desrespeitosa com sua importância. Sinalizo: não estou culpando os professores.
A disciplina teve sua carga expressivamente reduzida no novo ensino médio. Além disso, como esperar que nossos professores estimulem o interesse de seus alunos, sempre trazendo novidades e reinventando a rota, quando estes profissionais, na maioria das vezes, trabalham muito e sem valorização? Como despertar esse brilho no olho sem infraestrutura básica? É um desafio hercúleo transportar os alunos para a história contando apenas com a lousa ou um projetor.
A realidade são aulas de história por todo o Brasil que são tidas como desinteressantes para os estudantes. Na verdade, quase como irrelevantes.
O que poderia ser feito?
Não sou ingênuo. Não acredito que a solução seja levar todos os alunos para conhecer o país e o mundo. Seria incrível, claro, mas não é um plano exequível.
A solução perpassa por todas as questões estruturais da educação que são pautas recorrentes em nossa coluna, mas aqui gostaria de trazer um acréscimo: o Brasil falha, sim, no incentivo à preservação da memória e história do país.
Quantas cidades nem têm um museu? Quantas cidades têm, mas está desativado? O Museu do Café, dentro do campus da USP de Ribeirão Preto, por exemplo, está desativado desde 2016. Seria muito interessante investir mais nos museus e centros culturais e, paralelo a isso, criar oportunidades para que os alunos conheçam os que estão sediados na própria cidade.
Se quisermos um país mais consciente e crítico, precisamos despertar o prazer de aprender história em cada aluno. Para isso, precisamos valorizar a disciplina, seus professores e a preservação da memória e da história de nosso país.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.
