12/11/2025 - 9:11
Fundo Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF) é um experimento ambicioso e que vale a pena, mas também arriscado por depender da estabilidade dos mercados financeiros internacionais.O Brasil deu a largada, na COP30, do Tropical Forest Forever Facility (TFFF), também chamado de Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, um instrumento totalmente novo para a proteção das florestas tropicais.
A ideia é que investimentos públicos e privados sejam remunerados com juros, e todos os países que protegerem suas florestas receberão uma parte desses rendimentos. Quem mantiver sua floresta de pé, será pago. Quem a derrubar, não recebe nada.
Os investidores – tanto países como instituições privadas (seguradoras, por exemplo) e pessoas – também recebem uma parte dos rendimentos. O dinheiro que eles investirem nas florestas não são renúncias fiscais nem valores a fundo perdido, mas investimentos que geram lucro, e este é usado para uma boa causa. Ao menos essa é a ideia.
Já foram prometidos US$ 5,5 bilhões
O Brasil tem grandes expectativas em relação ao TFFF. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera que países invistam ao menos 10 bilhões de dólares ao longo do próximo ano – ou seja, enquanto o Brasil tiver a presidência da COP.
Ao todo, o Brasil espera que países apliquem 25 bilhões de dólares no fundo, um valor que seria adicionado a mais 100 bilhões de investidores privados.
Até agora foram prometidos 5,5 bilhões. A maior parte pela Noruega, com 3 bilhões de dólares. Brasil e Indonésia querem investir, cada um, 1 bilhão de dólares, e a França, 500 milhões. A Alemanha e o Reino Unido prometeram participar, mas ainda não divulgaram valores.
O fundo se tornou, assim, o principal parâmetro de avaliação do sucesso do governo brasileiro na COP30. E isso apesar de ser totalmente incerto se o TFFF será bem-sucedido ou se vai desaparecer sem deixar rastros – por exemplo se não houver a esperada adesão dos investidores privados.
Como vai funcionar
Pois o sucesso do TFFF depende, em essência, da estabilidade dos mercados financeiros internacionais. Os países e investidores privados serão recompensados com juros que poderiam obter também com os títulos mais seguros do mercado. Hoje isso seria pouco menos de 5% ao ano.
O dinheiro investido no fundo será aplicado em mercados emergentes, onde é possível obter os 8% de juros anuais previstos, mas com risco bem maior de inadimplência. A diferença de 3% iria, segundo o governo brasileiro, para os países que preservarem suas florestas. Esse valor anual chegaria a 4 bilhões de dólares. Dos países que têm florestas tropicais, 90% aprovaram a ideia.
Do ponto de vista dos países investidores, a ideia é que o dinheiro aplicado no fundo não seja previsto como uma despesa no orçamento, mas como um investimento com rendimentos, o que tornaria a aplicação mais aceitável aos eleitores desses países.
O que pode dar errado
Mas o risco é elevado. Se houver uma crise financeira internacional, como em 2008, o pagamento de rendimentos sobre o capital investido pode ser suspenso – talvez até por vários anos.
Em caso de colapso, a ordem em que cada parte receberá seu dinheiro de volta é claramente definida: primeiro, os pagamentos aos países com florestas tropicais seriam suspensos; em seguida, os investidores privados seriam ressarcidos; e, por fim, os países, ou seja, os credores soberanos, arcariam com o déficit – quer dizer, o contribuinte nesses países.
O aspecto preocupante é que a ajuda às florestas tropicais seria a primeira coisa a ser interrompida em caso de fracasso, o que poderia levar à perda abrupta de conquistas arduamente alcançadas no campo da proteção.
Além disso, a indenização proposta aos países preservadores por hectare de floresta tropical parece insuficiente para dissuadir as pessoas de queimarem a floresta para vender madeira e pastorear gado.
Mesmo assim, o TFFF é uma iniciativa que vale a pena. Pela primeira vez, um país do Sul Global, como o Brasil, apresenta um instrumento que inclui os investidores privados na proteção das florestas tropicais.
Todas as tentativas anteriores de envolver investidores privados, quase todas oriundas de países industrializados, não foram muito bem-sucedidas. É bem possível que, com o TFFF, pela primeira vez também países do Sul Global entrem como garantidores. Isso reduziria a influência política, há muito dominante, das nações industrializadas na proteção das florestas tropicais.
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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.
