26/12/2024 - 13:15
Jovens são o futuro do país, mas só uma educação cidadã, com senso crítico e compreensão do funcionamento das instituições, fará deles agentes de transformação. Isso está acontecendo? Para muitos, infelizmente, não.”Será que um dia teremos um Brasil com menos desigualdades?”, vira e mexe me pego perguntando. Às vezes, a linha de pensamento tende para o pessimismo, mas na maioria das outras acredito que mudanças são possíveis.
No entanto, creio que há alguns ingredientes para isso. O maior deles, provavelmente, é a construção cidadã do próprio povo. Temo ser um dos desafios mais hercúleos.
É necessário que o povo conheça a função das instituições e o papel dos governantes. Isso não é trivial e essa educação para o senso crítico e cidadania deve estar dentro das escolas.
Não aprendi nada disso no colégio, e aos 29 anos ainda estou aprendendo. Será que sou o único? Para entender, tive a oportunidade de entrevistar 84 jovens de 23 unidades federativas.
Os jovens conhecem as instituições e os governantes?
A Câmara dos Deputados é a instituição mais conhecida. Todos já ouviram falar sobre, e 28% avaliam que sabem mais a respeito dela do que a média.
Em relação ao Senado, 8,3% nunca ouviram falar e 82% avaliam o conhecimento sobre como menos do que mediano. Quanto ao Supremo Tribunal Federal (STF), 6% nunca ouviram sobre e 18% avaliam como zero o nível de entendimento do funcionamento da instituição. Além disso, 34% nunca ouviram falar sobre a Assembleia Legislativa do próprio estado.
Já em relação às funções de importantes agentes, mais da metade avalia como menos do que mediano o nível de entendimento das funções de um presidente. Quando se trata do senador, o percentual é ainda mais grave e apenas 15% dizem entender suas funções.
Não entendem as funções de um governador 68% e apenas 39% entendem o trabalho do prefeito da própria cidade.
Como avaliam a escola versus formação cidadã?
Para 90% dos entrevistados, o ensino oriundo dos colégios acerca do papel das instituições e dos governantes foi menos do que mediano. Sendo que para 30% deles, foi totalmente zero.
Para 68%, o colégio ajudou de forma mediana a se tornar um cidadão crítico e pronto para atuar na sociedade.
Os dados não podem ser subestimados. Essa garotada não pode seguir terminando o colégio dessa forma, pois assim não estamos possibilitando que tenham uma verdadeira atuação ativa na própria sociedade em que vivem.
O que pode ser feito? Para alguns, é possível ressignificar a existência de disciplinas já existentes, como sociologia, por exemplo, e abrir canais dentro delas para aulas para a plena formação cidadã. Já para outros, seria muito positivo a criação de disciplinas focalizadas integralmente neste tópico.
Vandson, jovem pernambucano, sugere: “Incluir aulas que abordem de forma interativa o funcionamento das instituições públicas, como o Congresso, e os papéis dos governantes. Isso pode ser feito através de simulações de debates e votações. Promover visitas a câmaras municipais, assembleias estaduais e até mesmo ao Congresso Nacional, para que os alunos vejam de perto como as coisas funcionam. Incentivar debates sobre temas atuais e relevantes, permitindo que os alunos expressem suas opiniões e aprendam a respeitar as opiniões dos outros. Desenvolver projetos que envolvam a comunidade, onde os alunos possam participar ativamente em ações sociais e políticas, como campanhas de conscientização.”
________________________
Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.