24/09/2025 - 9:37
A Justiça brasileira condenou Jair Bolsonaro de forma espetacular. Mas o que realmente acontecerá agora ainda não está claro. Muitos cenários são possíveis.Durante as minhas recém-terminadas férias na Europa, fui questionado várias vezes sobre o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil. Ao contrário dos EUA, onde Donald Trump não foi responsabilizado pela invasão do Capitólio em janeiro de 2021, o Brasil puniu Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado executada em janeiro de 2023. “Parabéns, Brasil!”, me disseram.
E eu sempre tentei conter o entusiasmo. Respondia que “no Brasil, tudo é possível”, como se pode ver no caso de Luiz Inácio Lula da Silva: recém-saído da cadeia condenado por corrupção, foi reeleito presidente pouco tempo depois. “Da prisão ao Planalto. No Brasil, isso acontece rapidamente. Aliás, o contrário também.” O destino de Bolsonaro também é incerto, eu acrescentava.
É claro que, à primeira vista, as longas penas de prisão no Brasil impressionam quem vem de fora. Na Alemanha, a pena máxima é de 15 anos, aplicada a crimes graves como homicídio. Portanto, os 27 anos para Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado são, naturalmente, impressionantes.
O que os estrangeiros obviamente não sabem é que Bolsonaro teria que cumprir apenas um sexto da pena. Isso se ele realmente for para a prisão. Quantas vezes já escrevi sobre as duras penas aplicadas aos policiais envolvidos no massacre do Carandiru – e nenhum deles foi para a prisão.
Tudo termina em pizza
“Tudo termina em pizza” foi uma das primeiras frases que aprendi quando cheguei ao Brasil, há quase 30 anos. Seguida por “para inglês ver”, que descreve algo que, na prática, permanece sempre questionável.
No caso de Bolsonaro, pode se imaginar muitas alternativas: alguns anos de prisão domiciliar devido à idade ou ao seu estado de saúde, ou até mesmo uma anistia do Congresso para ele e seus apoiadores (embora isso pareça improvável no momento). Ou um perdão do próximo presidente – ou da próxima presidente. Dada a montanha-russa que é a história do Brasil, Michelle Bolsonaro poderia, em breve, estar no Palácio do Planalto e libertar o marido do martírio. Uma variante extremamente charmosa, na minha opinião.
Mas também seria plausível que um simples erro processual, descoberto repentinamente, anulasse a condenação de Bolsonaro. Lembremos que o STF não fez nenhum esforço para impedir a prisão de Lula, apenas para permitir seu retorno à cena política pouco tempo depois. Os processos contra Lula evaporaram. O mesmo poderia acontecer com os processos contra Bolsonaro. Afinal, no Brasil, nada é certo, nem mesmo o passado, como se costuma dizer.
É óbvio que eu não expliquei tudo isso a quem comemorou a condenação de Bolsonaro. Como explicar coisas tão difíceis de entender?
Idas e voltas nos EUA
Mas não é apenas a realidade do Brasil que às vezes assume traços surreais. Nos Estados Unidos, por exemplo, também há, como se poderia dizer, idas e voltas. Nesta terça-feira, senti uma certa tristeza pelo filho de Bolsonaro, Eduardo, que há meses vem fazendo um intenso lobby em Washington por uma punição rigorosa de juízes e empresas brasileiras.
Graças às suas supostas excelentes relações com a Casa Branca e a família Trump, os EUA teriam imposto as sanções contra o Brasil. O objetivo seria livrar o papai Jair das garras da justiça. Por esse lobby incomum, o filho de Bolsonaro corre o risco de enfrentar consequências legais no Brasil. Pelo menos em teoria – observe o que foi escrito acima.
No entanto, 20 segundos foram suficientes para jogar por terra o trabalho de meses de Eduardo. “A química entre Lula e eu foi imediata”, declarou Donald Trump no plenário da ONU, após apertar brevemente a mão do presidente brasileiro. Em breve, eles podem, inclusive, se tornar “melhores amigos”, sugeriu Trump.
Ele não fala português e Lula não sabe inglês. Mas quem se importa? O tarifaço contra o Brasil e as punições aos juízes brasileiros podem, em breve, ser página virada. Pelo menos, é isso que sinto.
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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há mais de 25 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, desde então, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há doze anos.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW.