09/10/2025 - 11:24
Baixos salários, condições precárias de trabalho: ser docente é um desafio hercúleo. Se nada mudar, estamos diante de um cenário futuro catastrófico para o país.É de senso comum que a docência no Brasil é uma profissão extremamente desvalorizada, dadas as condições de trabalho e salariais precárias.
Ser professor nos dias atuais é uma grande luta que poucos conseguem enfrentar e, por conta dessas problemáticas, a tendência é que haja uma evasão exponencial desses profissionais na área. Ciente disso, o governo federal criou a bolsa “Pé-de-meia Licenciaturas” para incentivar os jovens a ingressar na carreira, oferecendo um valor mensal de R$ 1.000 a estudantes de qualquer curso de licenciatura admitidos pelo Enem.
Professores estão sobrecarregados
A criação de bolsas como incentivo à formação de educadores é muito boa, mas totalmente disfuncional quando não se tem propostas e mudanças que incentivem a permanência na profissão. Há inúmeras dificuldades, como os baixos salários e a consequente sobrecarga de trabalho, já que os docentes são obrigados a trabalhar em mais de uma instituição de ensino, em salas de aula lotadas, os desgastes físicos e mentais que já foram comprovados e as más condições trabalhistas.
“As demandas do professor aumentaram com o avanço da tecnologia, e acaba que o professor fica doente mesmo. Não adianta formar professores se você não muda o formato da educação, que está cada vez mais maçante”, diz um professor de ciências da rede particular que preferiu não ser nomeado.
Jovens que não sonham mais em ensinar
Esse programa do governo só reforça que o futuro da docência está cada vez mais ameaçado. Quando perguntei em uma sala de aula para os alunos quantos querem ser professores, apenas cinco dentre 60 jovens expressaram esse desejo. Como educadora de ensino médio, converso muito com meus alunos sobre suas ambições profissionais. Dos que falam sobre o desejo de lecionar, todos alegam saber da dificuldade da profissão, mas mantêm suas escolhas por amor.
Um futuro sem professores à vista
De acordo com um estudo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), o Brasil poderá ter uma carência de 235 mil professores até o ano de 2040. O dado me fez refletir sobre como isso é apenas a consequência da desvalorização do educador, já que com a falta de uma boa remuneração e bons benefícios, ocorre o desinteresse na área. Os professores ganham muito menos do que outros profissionais com o mesmo grau de escolaridade.
A falta de professores afeta principalmente o campo de exatas e biológicas, já que esses profissionais possuem um campo maior de possibilidades para outros empregos. Tem professor de matemática indo para a área de economia, professor de biologia indo para a área de pesquisas.
Para ter uma noção do problema que estamos enfrentando, conversei com diversos atuais e ex-colegas de trabalho, todos atuando no ensino básico. O senso comum é de que algo precisa mudar, a educação como um todo: tanto a estrutura quanto os educadores que nela agem precisam de reconhecimento e valorização.
A docência é o pilar de uma educação de qualidade, que humaniza e dá noção de mundo. O professor não apenas ensina, mas encaminha aquele jovem , aquela criança ou aquele adulto a se inserir no mundo e na sociedade. Isso é fato.
É preciso tornar a profissão mais atrativa para os jovens através de uma melhor remuneração, bons benefícios, melhor infraestrutura nas escolas, apoio psicológico e segurança.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Giovanna Silva de Santana, estudante de letras na UFRJ e professora, e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.