Por mais de uma década, as empresas alemãs deixaram o Brasil de lado. Agora isso está começando a mudar.Um consultor de empresas alemão que trabalha há anos no Brasil me disse há pouco que é surpreendente como o interesse pelo Brasil na Alemanha repentinamente voltou a crescer. Havia anos que ele não tinha mais empresas alemãs como clientes. Mas de dois, três meses para cá elas não param mais de procurá-lo.

Algumas ainda não têm representação no Brasil. Outras já têm filiais, mas que foram negligenciadas ao longo dos anos – enquanto elas não dessem prejuízo, tudo bem. Dessa maneira, algumas empresas não aproveitaram o potencial do Brasil. De repente, porém, o interesse ressurgiu.

Ao mesmo tempo, ele constata que as empresas dos Estados Unidos permanecem distantes. Na década em que as empresas alemãs ignoraram o Brasil, ele passou a atender sobretudo empresas americanas. Mas agora elas sumiram.

Por um lado, elas já têm muito o que fazer nos Estados Unidos para se ocupar também de uma filial no Brasil. Por outro lado, elas não sabem se ainda devem investir no Brasil. As empresas americanas não têm certeza se, sob o presidente Donald Trump, ainda é “permitido” manter ou construir cadeias de valor no Brasil.

Os Estados Unidos continuarão impondo taxas de importação de até 50%, como é o caso no momento para muitos produtos brasileiros? Aí não valeria mais a pena investir numa fábrica no Brasil.

Ninguém sabe se Trump vai criar um índex de nações, com o qual de facto proibiria empresas americanas de fazerem negócios com países que ele queira punir. O Brasil, assim como a Índia, foi punido com as maiores taxas. Trump poderá elevá-las ou impor novas sanções. Para as empresas americanas, o recado é: fiquem longe do Brasil.

Do lado alemão, o “efeito China” faz com que muitas empresas se interessem de novo pelo Brasil. Empresas alemãs, sobretudo do setor industrial, viram nos últimos anos quão perigosa uma dependência unilateral pode ser. Inicialmente elas foram afetadas pela dependência energética da Rússia e, posteriormente, pela crescente vulnerabilidade à China. É do país asiático que vêm produtos intermediários essenciais, terras raras, baterias ou componentes para a transição energética.

Ao mesmo tempo aumentaram as tensões políticas entre a China e o Ocidente (Taiwan, Mar da China Meridional, questões de tecnologia e dados). Em resumo: as empresas, que já perderam o mercado russo, tentam agora diminuir sua dependência da China.

Brasil tem potencial

O Brasil surge como alternativa, com seu mercado de 213 milhões de pessoas. O país tem um excedente de energia e matérias-primas e possui cobre, lítio, minério de ferro e terras raras – tudo o que é necessário para a transição energética, a digitalização e a alta tecnologia.

O Brasil também é abundante em energia e tem um dos maiores percentuais mundiais de renováveis no setor de geração, e está fazendo grandes investimentos em infraestrutura: estradas, portos, redes de energia, sistemas de esgoto, cidades inteligentes, sistemas de controle central para cidades, sistemas de transporte e segurança.

E eu acrescentaria: o Brasil acaba de provar ser uma democracia resiliente. Este é um importante fator positivo para atração de investimentos. A estabilidade política e a resiliência democrática podem ser tão importantes para as empresas alemãs quanto matérias-primas, energia verde ou um grande mercado interno.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.