01/05/2009 - 0:00
Adaptar-se a uma nova dieta da noite para o dia nunca foi e nunca será fácil. Além de fazer mal ao corpo, dá a impressão de ser uma tortura que será compensada com guloseimas assim que o período do regime terminar. No entanto, a boa alimentação deve ser prazerosa – afinal, tem de durar toda a vida. Numa época como esta, na qual dispomos de pouco tempo e uma vida sedentária, muitos junk foods (comidas de baixo valor nutritivo) já se tornaram parte dos nossos hábitos e, inclusive, das nossas preferências alimentares. A ideia agora não é impor a ditadura da dieta saudável, mas incentivar a aquisição de novos gostos e a apreciação do sabor de cada alimento escolhido. Esses são preceitos da Academia Nutricional, uma nova área de pesquisa da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (DTM – FMUSP).
A ACADEMIA NUTRICIONAL SE BASEIA EM CINCO LINHAS DE EXERCÍCIOS PARA TORNAR OS ALIMENTOS SAUDÁVEIS PRAZEROSOS AO NOSSO PALADAR
“Um hábito alimentar não é algo que se muda de um dia para o outro; ele precisa ser trabalhado”, explica Erika Toassa, nutricionista, pósgraduada em nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. “As mudanças na dieta não podem ter um caráter punitivo. Elas devem acontecer de forma natural”, acrescenta. Segundo Chao Lung Wen, chefe da DTM, a Academia Nutricional se baseia na construção de uma sequência de cinco exercícios para que consigamos mudar nosso gosto g1o sto alimentar.
1 O primeiro deles é “descobrindo novos sabores”. São montados conjuntos de alimentos das chamadas escolhas inteligentes – comidas e formas de preparação que reduzem o consumo de gorduras e açúcares e aumentam a ingestão de vitaminas, minerais e fibras. A experiência é passar um tempo provando e identificando os diferentes sabores desses alimentos, que geralmente são rejeitados. Vale ressaltar que a questão não é se gostamos ou não da comida, mas, se conseguimos fazer uma combinação que torne agradáveis ao paladar esses alimentos saudáveis – por exemplo, uma salada de rúcula com tomate seco e a laranja na feijoada. “Se na sequência do primeiro mês você conseguiu descobrir três alimentos que não acha tão ruins, já é um ganho. No outro mês, quem sabe, escolha mais um. No outro, mais dois. Então, no prazo de seis meses, pode ser que tenha escolhido um aumento substancial daqueles alimentos a2li mentos inteligentes”, afirma Chao.
2 Depois de saber apreciar os alimentos inteligentes e aumentar o número de opções de ingredientes no cardápio, vem a fase de conscientização, em que se agregam valores aos alimentos escolhidos. Por meio de vídeos, descobrimos que, além do sabor, essas comidas trazem muitos benefícios ao organismo. Quer um exemplo? A laranja. A fruta tem o gosto refrescante e adocicado da polpa e, ao mastigar o bagaço, nossa gengiva é massageada e desenvolvemos nossa musculatura bucal. Outra vantagem é que a mastigação também pode diminuir a formação de tártaro. Logo, é possível entrelaçar conceitos de sabor aos de saúde bucal. Nesse processo de conscientização, somos estimulados positivamente, relacionando sabores que nos são agradáveis aos benefícios gerados por esses alimentos.
Quando se fala em dieta, logo pensamos em controlar a quantidade que comemos. Nesse ponto, a recomendação é: “Não fique obcecado”. O pré-requisito da Academia Nutricional é que a degustação seja prazerosa, propondo atividades de entretenimento que tornem a alimentação saudável positiva. Levemos em consideração que ninguém é um robô. Então, todos têm o direito de exagerar em um encontro de amigos no fim de semana – mas tendo a consciência de que devem ponderar nos próximos dias. A proposta é fazer um planejamento semanal de uma meta de compensação, calculada em calorias. Por que semanal? Em geral, até três dias lembramos mais ou menos o que consumimos. Então, conseguimos contrabalançar.
3 Com metas semanais de consumo, é mais fácil perceber as etapas da alimentação. Assim, podemos compensar sem prejudicar nosso prazer em comer. Logo, se você foi a uma festa e exagerou, pense em consumir alimentos mais saudáveis nos dias seguintes. Esse é um exercício de disciplina. Um processo de conscientização do que comemos. O que se ingeriu ontem pode influenciar no que se vai almoçar hoje e assim por diante. “A base desse processo é que se tenha autonomia nas escolhas alimentares para, assim, refletir sobre seu consumo alimentar. A proposta é que você armazene em uma ficha o que consumiu semanalmente, associando o prato de alimento a um banco de imagens previamente montadas”, afirma Erika.
Para que saibamos a quantidade aproximada de comida, haverá uma foto da refeição. A partir dessa imagem, podemos ter uma noção do que e do quanto tirar e acrescentar do prato para ir montando um cardápio balanceado.
4 A quarta linha de exercício é uma espécie de jogo de escolhas para analisar as preferências alimentares e a evolução na escolha dos alimentos que compõem nosso prato de comida. Começa com a escolha espontânea em que montamos o próprio prato, à vontade. Isso permite aos profissionais detectar qual é nosso inconsciente nutricional. Depois, eles promovem a “escolha induzida”, em que se colocam como alternativas alimentos saudáveis que possam ser trocados – por exemplo, a substituição de um bife frito por um cozido. Se não queremos trocar, o nutricionista pergunta o porquê. A fase de escolha induzida tem como objetivo a conscientização sobre os tipos de alimentos que deveríamos ingerir. Também permite avaliar se somos capazes de fazer uma escolha saudável.
Depois, passa-se para a escolha pareada: forçase a decisão entre duas opções de alguns dos alimentos selecionados na fase anterior. Essa etapa tenta identificar o que temos de consciência do que é bom, mas que ainda não incorporamos como hábito. Nesse caso, vamos ter de explorar mais um pouco os sabores dos alimentos. O profissional considera muito importante analisar a proporção de mudanças nos pratos a fim de avaliar a alimentação. Seu objetivo é ver a raiz do comportamento para desenvolver exercícios destinados a fazer com que comecemos a apreciar novos sabores. Isso seria uma espécie de “psicoterapia nutricional”.
O PROCESSO DE MUDANÇA DE HÁBITO ALIMENTAR VARIA DE PESSOA PARA PESSOA. NÃO HÁ NECESSIDADE DE PRESSA NEM DE COBRANÇAS, PARA O PRAZER NÃO SE TRANSFORMAR EM TORTURA
5 O quinto e último exercício é uma espécie de “Tamagochi” (bichinho virtual), que associa a nutrição à qualidade e estilo de vida de uma pessoa. O bichinho virtual representa um indivíduo. Esse processo ajuda os profissionais a identificar nossos hábitos e escolhas, além das mudanças comportamentais. É uma espécie de jogo em que se estabelece uma meta de emagrecimento, por exemplo. Na competição, ganha quem chegar mais perto da meta, aplicando os conceitos das outras quatro fases. Vale lembrar que a mudança do comportamento do bichinho virtual está mais próxima da evolução real das medidas antropométricas da pessoa. Então, você pode tanto montar seu cardápio nutricional como escolher seus hábitos diários. Exemplo: escolha entre subir usando escada ou elevador. O objetivo é criar hábitos alimentares mais saudáveis e incentivar o exercício físico para a promoção de uma vida saudável. Nesse caso, teríamos o desenvolvimento do equilíbrio entre nutrição e educação física.
Primeiramente, os conceitos da Academia Nutricional terão foco na prevenção da obesidade infantil. A partir de agosto, serão aplicados em escolas associadas ao Projeto Jovem Doutor da DTM. “A inadequação da dieta é comum na idade jovem. É uma fase em que os hábitos nutricionais são potencialmente modificáveis. É também um período para formar e consolidar alimentação e estilo de vida saudáveis, prevenindo assim as doenças crônicas não transmissíveis”, justifica Erika. Chao afirma que a ideia pode ser implantada em praças de alimentação de shopping centers e em academias de ginástica, a fim de aliar o exercício físico à boa nutrição. “O objetivo da Academia Nutricional é conscientizar, disciplinar e educar. É construir novos hábitos alimentares e não os impor às pessoas. Deve ser algo prazeroso e da forma mais natural possível”, conclui.
Serviço
www.saudetotal.com.br
www.estacaodigitalmedica.com.br
www.projetojovemdoutor.org.br