04/10/2025 - 17:37
Forças Armadas do país só ganharam drones de combate recentemente, e ainda estão penando para chegar a níveis satisfatórios de capacidade de defesa.”Estamos todos mancando quando o assunto é defender-se de drones”, admitiu recentemente o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius. A sensação de insegurança é grande desde que diversos países europeus da Otan reportaram a violação de seus espaços aéreos por drones nas últimas semanas.
Episódios do tipo ocorreram também na Alemanha. Na última sexta-feira (03/10), um novo avistamento de drones levou ao fechamento do aeroporto de Munique pela segunda noite seguida. “Faremos de tudo para sanar esse déficit [na defesa]”, garantiu Pistorius à emissora de TV alemã ZDF.
As ações têm sido atribuídas à Rússia, que nega estar por trás dos transtornos.
Por que a Alemanha se sai tão mal quando o assunto é defender-se de drones? Por um lado, é uma questão de equipamento: usar caças para abater drones invasores, como fez a Polônia em meados de setembro, é possível, mas caro – e também perigoso, caso eles estejam sobre uma região habitada.
À espera do Skyranger da Rheinmetall
Tal tarefa seria melhor confiada ao tanque antiaéreo Skyranger 30, da Rheinmetall, que pode ser mobilizado rapidamente e é capaz de combater enxames de drones. As Forças Armadas alemãs adquiriram 19 desses equipamentos, mas eles só serão entregues a partir de 2027. E especialistas militares afirmam que a quantidade é insuficiente.
O antecessor do Skyranger 30, o Gepard, foi rejeitado pelas Forças Armadas alemãs há anos e acabou sendo repassado à Ucrânia, que o usa com impressionante eficiência para repelir ataques de drones russos.
Além de bloqueadores de sinal, alguns drones também são úteis na tarefa. As Forças Armadas ganharam recentemente drones interceptadores de fabricação alemã que usam redes para “capturar” aparelhos inimigos.
“Precisamos chegar a uma defesa com mais camadas, em que há diferentes possibilidades de abater ou derrubar drones – contramedidas eletrônicas, medidas cinéticas e também de baixa tecnologia, como lançadores de redes”, pontua Ulrike Franke, do Centro Europeu para Relações Exteriores (ECFR).
Defesa contra drones é tarefa de quem?
Um outro desafio que a Alemanha enfrenta na defesa contra drones tem a ver com a divisão de responsabilidades entre as Forças Armadas e as polícias nos 16 estados.
Cabe aos militares defender o país de ataques que vêm de fora, por exemplo de caças ou grandes drones. Eles também têm autonomia para agir para garantir a segurança de suas próprias instalações militares.
Em todos os outros casos, a defesa contra drones cabe à polícia, que é responsável pela segurança interna. Se um drone espiona, por exemplo, um aeroporto civil ou uma instalação industrial, não é possível acionar as Forças Armadas.
A polícia até tem meios para lidar com drones, mas mobilizá-los a tempo é um desafio. Já a criação de um “domo antidrones” que cubra o país inteiro é algo que especialistas consideram irrealista.
O que a Alemanha está planejando
A divisão histórica de tarefas entre polícias e Forças Armadas está prevista na Constituição. Mas agora deve mudar, diante das atuais ameaças. O plano do ministro do Interior, Alexander Dobrindt, é autorizar os militares a auxiliar as polícias em algumas situações, por exemplo com o abate de drones.
Dobrindt também quer criar um novo centro de defesa contra drones para coordenar o trabalho da União e dos estados.
Além disso, o governo também quer acelerar a aquisição de drones de uso militar. A meta é que até o final do ano as Forças Armadas possam “atirar para valer” com drones, segundo o inspetor-geral Carsten Breuer.
Em março, a instituição também aprovou a compra de drones kamikazes – equipamentos que explodem ao atingir seu alvo. Trata-se de algo totalmente novo para a Alemanha.
Aprender com a Ucrânia
Sem drones já não é mais possível guerrear. Isso ficou evidente pouco depois do início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Ali, os aparelhos estão presentes às centenas no campo de batalha, causando prejuízo a equipamentos militares muito mais caros. Os movimentos inimigos são monitorados com drones espiões amplamente usados. É uma tecnologia mudou radicalmente a forma de fazer guerra.
Franke, do ECFR, aconselha a Alemanha a se espelhar na Ucrânia: “Está absolutamente claro que os países da Otan estão de olho na Ucrânia e precisam aprender com ela quando o assunto é o emprego rápido, a fabricação, a modificação e a defesa contra drones.”
As Forças Armadas alemãs estão sob pressão para se adaptar rápido à nova situação. Receios de ordem política impediram militares por muito tempo de recorrer a drones de ataque. Críticos temiam que o uso de aparelhos voadores não tripulados e operados à distância pudesse levar à banalização da violência militar. E muitos viam com reservas as funções autônomas de que muitos drones dispõem.
Isso só mudou com a guerra na Ucrânia. Em 2022, o governo alemão decidiu pela primeira vez armar seus militares com drones e encomendou mísseis guiados para cinco Heron TP – drones do tamanho de aviões, de produção israelense. Até então, as Forças Armadas utilizavam exclusivamente drones de reconhecimento não armados.
Já no início do ano, o governo decidiu comprar também drones kamikazes, inaugurando o “início de uma nova era para as Forças Armadas”, nas palavras do Ministério da Defesa. Lá, os pequenos drones descartáveis entram na categoria “Loitering Munition” – uma “munição que paira sobre o alvo” antes de se lançar sobre ele e explodir.
A classificação dos drones kamikaze como “munição” tem razões práticas: munição é disparada e, portanto, consumida. Já um drone maior é considerado uma aeronave não tripulada e está, portanto, sujeito a requisitos técnicos muito mais rigorosos do ponto de vista de segurança de voo e certificação de pessoal – e que acabam sendo contornados com o rótulo de munição.
Inovação anda mais rápido que a burocracia das compras públicas
As Forças Armadas já estão treinando como usar drones e se defender deles – habilidades que agora passaram a ser consideradas básicas para todo soldado –, e por isso estão adquirindo uma quantidade específica de aparelhos para esse fim.
Mas os militares querem evitar um acúmulo de drones em seus estoques. Isso porque a tecnologia nesse ramo avança tão rápido que o caminho tradicional de compras públicas – que presume longos processos para um período de uso também logo – seria contraproducente. Por isso, a ideia é que os fornecedores se comprometam a entregar equipamentos atualizados em pouco tempo e em grande quantidade, caso necessário.
Não surpreende que as start-ups alemãs do ramo de inteligência artificial saiam na frente com esses contratos públicas. Uma dessas empresas é a Helsing, de Munique; fundada em 2021, ela já produziu vários milhares de drones de combate para a Ucrânia.