17/05/2022 - 8:28
O calor sufocante que abafa boa parte da Índia e do Paquistão nas últimas semanas pode ter ficado um bocado pior por conta da adoção de certos designs de construção que deixaram muitas pessoas dentro de um “forno”, sem circulação natural de ar e extremamente dependentes de equipamentos de ar-condicionado. Ciara Nugent trouxe essa questão na revista Time.
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Muitos dos edifícios mais modernos das grandes cidades do subcontinente asiático possuem o mesmo estilo de construções comerciais e executivas típicas dos Estados Unidos e da Europa, com um uso excessivo de vidros e espelhos em um ambiente fundamentalmente fechado. Sob um forte calor, eles conservam o calor e não permitem a circulação de ar para dissipá-lo. Isso não é um problema se o edifício em questão conta com um potente sistema de ar-condicionado, mas se torna algo bastante problemático caso esses equipamentos não estejam disponíveis – ou se não houver energia para alimentá-los, como tem acontecido em diversas partes da Índia nos últimos dias. Como resultado, as pessoas podem experimentar dentro dessas construções uma sensação térmica ainda pior do que seria se ela estivesse fora delas, um contrassenso completo.
A segunda-feira (16/5) foi marcada por temperaturas superiores a 49°C na capital indiana, informou a BBC. As autoridades pediram aos cidadãos precauções adicionais para evitar problemas de saúde decorrentes do calor. A situação só deve melhorar no começo de junho, quando começarem a cair as primeiras chuvas de monção do verão sul-asiático.
Táticas para enfrentar o calor
Ainda sobre o calor no sul da Ásia, a Bloomberg mostrou como alguns indianos estão fazendo para enfrentar as altas temperaturas em Nova Délhi. O desafio é praticamente permanente, pois o calor é forte já nas primeiras horas do dia, com termômetros na casa dos 36°C. A situação obviamente piora na hora do almoço, quando o calor já supera os 43°C. Muitos recorrem a toalhas úmidas, máscaras de argila e outros truques para manter a pele minimamente hidratada sob o forte calor. Muitas pessoas, inclusive pessoas vulneráveis a esse clima, como idosos e mulheres grávidas, são obrigadas a ficar horas debaixo do sol para conseguir acesso aos caminhões-pipa e aos poços artesianos para obter água para suas famílias.
“Está muito quente, mas se não trabalharmos, o que vamos comer?”, questionou um pedreiro de Délhi à Reuters. “Por alguns dias, trabalhamos e depois ficamos parados por outros dias por causa do cansaço e do calor.” A cada dia parado, o trabalhador perde renda e, com isso, fica em um dilema: trabalhar para comer, mas sob o custo de sofrer com insolação e desidratação, ou se manter abrigado do calor forte, mas correndo o risco de não ter dinheiro para comprar o que comer?
Em tempo: O calor também deve causar problemas na Europa. De acordo com o Guardian, áreas na região ocidental do continente devem sofrer com uma onda de calor que deve puxar os termômetros para as temperaturas mais altas deste ano antes do verão. A expectativa é de que grande parte da Espanha e da França experimente máximas de 30°C, cerca de dez graus centígrados acima da média histórica observada neste período do ano. Em partes da Península Ibérica e do norte da África, o calor pode chegar à casa dos 40°C até o próximo final de semana.