A esperança pode se corroer quando percebemos ameaças ao nosso modo de vida, e hoje em dia existem muitas por aí. À medida que envelhecemos, podemos enfrentar uma perda trágica ou doença crônica. Enquanto assistimos às notícias, vemos nosso sistema político polarizado, irremediavelmente trancado no caos. O coronavírus se espalha mais diariamente; os mercados dos EUA sinalizaram falta de esperança com a queda livre do Dow Jones [tal como as bolsas de valores em outros lugares do mundo]. Às vezes, perder a esperança leva ao suicídio.

Quando não há esperança – quando as pessoas não conseguem imaginar o fim desejado de suas lutas –, elas perdem a motivação para perseverar. Como professor emérito da Virginia Commonwealth University, estudei a psicologia positiva, o perdão, o bem-estar e a ciência da esperança por mais de 40 anos. Meu site oferece recursos e ferramentas gratuitos para ajudar seus leitores a viver uma vida mais esperançosa.

O que é esperança?

Em primeiro lugar, esperança não é o otimismo à la Poliana – a suposição de que um resultado positivo é inevitável. Em vez disso, a esperança é uma motivação para perseverar em direção a um objetivo ou estado final, mesmo que sejamos céticos quanto à probabilidade de um resultado positivo. Os psicólogos nos dizem que a esperança envolve atividade, uma atitude positiva e uma crença de que temos um caminho para o resultado desejado. A esperança é a força de vontade para mudar e o poder do caminho para provocar essa mudança.

Com adolescentes e adultos jovens ou de meia-idade, a esperança é um pouco mais fácil. Mas para adultos mais velhos, é um pouco mais difícil. Envelhecer geralmente significa enfrentar obstáculos que parecem inflexíveis – como problemas recorrentes de saúde ou financeiros ou familiares que simplesmente não parecem desaparecer. A esperança para os idosos tem que ser “persistente”, perseverante, uma “esperança madura”.

Como construir esperança

Agora as boas notícias: o estudo “The role of Hope in subsequent health and well-being for older adults: An outcome-wide longitudinal approach”, do programa da Universidade Harvard (EUA) Human Flourishing Program, publicado recentemente. Os pesquisadores examinaram o impacto da esperança em quase 13 mil pessoas com idade média de 66 anos. Eles descobriram que aqueles com mais esperança ao longo da vida tinham melhor saúde física, melhores comportamentos de saúde, melhor apoio social e uma vida mais longa. A esperança também levou a menos problemas de saúde crônicos, menos depressão, menos ansiedade e menor risco de câncer.

Portanto, se manter a esperança no longo prazo é tão bom para nós, como a aumentamos? Ou criamos esperança, se for caso de MIA [metamemória de idade adulta, um dos instrumentos mais utilizados para medir traços individuais de metamemória]? Aqui estão minhas quatro sugestões:

Participe de um discurso motivacional – Ou veja, leia ou ouça alguém online, através de YouTube, blog ou podcast. Isso aumenta a esperança, embora geralmente esse efeito seja de curta duração. Como você pode construir uma esperança de longo prazo?

A importância de perdoar

Interaja com uma comunidade religiosa ou espiritual – Isso funcionou por milênios. Em meio a uma comunidade de adeptos, as pessoas obtiveram forças, encontraram a paz e experimentaram a elevação do espírito humano, apenas sabendo que existe algo ou alguém muito maior que eles.

Perdoe – Participar de um grupo de perdão ou completar um livro de exercícios de perdão cria esperança, dizem os cientistas. Também reduz a depressão e a ansiedade e aumenta (talvez isso seja óbvio) sua capacidade de perdoar. Isso é verdade mesmo com rancores de longa data. Pessoalmente, descobri que perdoar alguém com sucesso fornece uma sensação de força de vontade e poder de mudar.

Escolha um “herói da esperança” – Algumas pessoas mudaram a história. Nelson Mandela sofreu 27 anos de prisão, mas perseverou em construir uma nova nação. Franklin Delano Roosevelt trouxe esperança a milhões por uma década durante a Grande Depressão. Ronald Reagan trouxe esperança a um mundo que parecia atolado para sempre na Guerra Fria. Em seu quarto discurso no Estado da União: “Hoje à noite falei de grandes planos e grandes sonhos. São sonhos que podemos realizar. Duzentos anos de história americana deveriam ter nos ensinado que nada é impossível.”

Nelson Mandela: depois de 27 anos encarcerado, construtor de uma nação. Crédito: Library of the London School of Economics and Political Science/Wikimedia
A esperança faz com que você se solte

A esperança muda os sistemas que parecem presos. Katherine Johnson, a matemática negra cujo papel crítico nos primórdios da Nasa e da corrida espacial foi apresentada no filme Estrelas Além do Tempo, morreu recentemente aos 101 anos de idade. O filme (e o livro em que se baseou) trouxe à luz sua persistência contra um sistema que parecia para sempre emperrado. Bryan Stevenson, que dirige a Equal Justice Initiative, e tema do filme Just Mercy, lutou com sucesso para ajudar aqueles que foram erroneamente condenados ou incompetentemente defendidos a sair do corredor da morte.

Stevenson lamenta que ele não poderia ajudar todos que precisavam; ele concluiu que vivia em um sistema falido e que, de fato, ele também era um homem falido. No entanto, ele se lembrava constantemente do que havia dito a todos que tentava ajudar: “Cada um de nós”, disse ele, “é mais do que a pior coisa que já fizemos”. A esperança muda todos nós. Ao recuperar sua esperança, o exemplo de Bryan Stevenson nos inspira.

Independentemente do quanto tentemos, não podemos eliminar as ameaças à esperança. Coisas ruins acontecem. Mas existem os pontos finais da esperança persistente: nos tornamos mais saudáveis ​​e nossos relacionamentos ficam mais felizes. Podemos alcançar essa esperança, aumentando nossa força de vontade, reforçando nossa persistência, encontrando caminhos para nossos objetivos e sonhos e procurando heróis da esperança. E apenas talvez, um dia, nós também possamos ser heróis assim.

 

* Everett Worthington é professor emérito de Psicologia da Commonwealth University, Virginia Commonwealth University (EUA)

** Este artigo foi republicado do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original aqui.